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Publicado em Testemunhos
01 Maio 2023 Comments (1)
Caminhar Vocacional e Missionário de irmã Cláudia

 

Olá pessoas! Quem vos fala é irmã Cláudia Alves do Nascimento. Nasci no interior do Amazonas na pequena e pacata cidade de Carauari, no dia 13/10/77. Aqui passei toda minha infância, adolescência e início de minha juventude.

Desde muito cedo, comecei minha vida cristã, pois nasci em uma família católica praticante e recebi todos os sacramentos na idade e no tempo determinado pela Igreja. Através dos sacramentos, comecei atuar na vida de comunidade, ajudando ao longo do tempo nos cantos, liturgia, catequese, Pastoral da Criança e Pastoral da Juventude. Sempre fui muito atuante na igreja.

No contato com a comunidade, tive a graça de conhecer as irmãs Franciscanas Missionárias de Maria que logo perceberam meu intenso engajamento e dedicação nas pastorais, fato que as levou a convidar-me para participar da Pastoral vocacional na Paroquia. Eu sempre estive de olho no trabalho das religiosas. Eram muito atuantes em minha comunidade, e sua alegria, simplicidade, envolvimento na vida do povo, ajuda nos grupos pastorais me chamaram atenção. No fundo do coração, sentia vontade de seguir seu exemplo, ser como elas. E esse desejo, ao longo do tempo, só foi crescendo, se tornando sólido dentro do meu coração, até que um dia tive coragem de dizer que gostaria de fazer uma experiência mais intensa junto a elas. Para as irmãs, isso foi motivo de grande alegria pois no fundo elas também sentiam que minha vocação era verdadeira. Eu vivia isso com toda minha alma, me sentia feliz, era um desejo sincero.

No ano de 1996, depois de um acompanhamento vocacional feito pelas irmãs de forma personalizada, fui enviada para Manaus, capital de nosso estado, para dar início meu processo formativo como aspirante, já vivendo diretamente com as irmãs. Com elas passei quatro anos no processo formativo, conhecendo de forma mais profunda a congregação, sua espiritualidade e missão. Um belo dia, participando de um encontro da família Franciscana em Manaus, conheci as Irmãs catequistas Franciscanas! O jeito de ser das irmãs logo me chamou atenção, eram muito alegres, festivas, simples no vestir e bem diferentes do estilo de religiosa que eu tinha conhecimento. Posso dizer que foi amor à primeira vista!! Eu admirava muito as Missionárias de Maria, porém, seu estivo de vestir muito tradicional não me fazia sentir confortável. Eu não me via vestida assim pra toda vida, eu não iria conseguir... Parece algo insignificante, porém, para mim era algo que mexia com meu interior.

Depois deste encontro com as Catequistas, procurei no caderno de endereço das casas religiosas seu contato, guardei comigo e daí começou meu processo de enamoramento a estas irmãs. No final do ano de 1999, terminando o postulantado, decidi voltar para minha família. No coração já tinha decidido parar a caminhada com as Missionárias de Maria e dar continuidade com as irmãs Catequistas. Passei o ano 2000 em casa, retornei minha vida de comunidade, fiz uma vivência mais intensa junto à família. Agora, mais amadurecida, fiz meus contatos com as Catequistas, fui acompanhada através de correspondência por irmã Lucelene e, no início do ano 2001, viajei outra vez para Manaus e fui enviada para o município de Urucurituba para seguir meu processo formativo com as catequistas. Tendo em vista que eram também franciscanas, pude avançar em muito nos conteúdos da formação pois já tinha feito o aspirantado e postulantado com as Missionárias de Maria.

Em Urucurituba, vivi oito meses na partilha de vida-missão com as irmãs Neusa, Solange e Clélia. Tínhamos uma vida simples, muito inserida no meio do povo, num trabalho intenso com a Juventude, doentes, idosos, ribeirinhos e acompanhamento de comunidades eclesiais, num árduo trabalho de formação de lideranças. Posso dizer que éramos muito felizes! Me sentia, sim, agora, em casa, coração agradecido a Deus por me enviar até aqui.

No final de 2001, exatamente no dia do meu aniversário, 13 de outubro, fui enviada para o Mato Grosso para dar continuidade na formação junto às postulantes que lá viviam. Fui recebida com festa, bolo e muito carinho pelas irmãs e formandas, as quais seriam minhas novas companheiras de caminhada. Eram elas: Elizabete, Jeoveci, Neila, Cristina e Nelcimar. Eu seria a nova integrante do grupo.

No Mato Grosso, fiz postulantado e noviciado. Neste tempo, fiz uma experiência muito forte e marcante com os moradores de rua e pessoas na luta pela Terra. Muitas foram as lutas, caminhadas nos assentamentos visitando as famílias, celebrações e vivências junto a estas pessoas. Nelas encontrei um Deus despido e chagado pela dor da saudade, da ausência familiar, dos amigos, de um lar, de comida, de respeito, de valorização, de dignidade, de um pedaço de chão. Com elas, caminhei, chorei, esperancei, me fiz irmã, lutei, amei e vi quantos sinais da gratuidade e fidelidade de Deus para comigo e com seu povo. Foi vivendo tudo isso que descobri que é impossível viver a vocação sem depositar em Deus a nossa esperança, confiança, medos e anseios.

Fiz minha consagração a Deus e a seu povo no dia 28 de dezembro de 2003 e, no mês de janeiro de 2004, fui enviada para o altiplano Boliviano, minha primeira experiência missionária em terras estrangeiras. Meu coração só tinha louvor a Deus por confiar em minha pequenez, por me convidar a abrir o coração para amar outro povo, aprender outra língua, experimentar outros sabores e aprender outros saberes! Era algo grande para mim, terra muito alta e fria, porém, eu sou ousada, forte, corajosa, gosto de desafios e, neste universo do ocidente boliviano, fiz uma magnifica e desafiadora experiência de Deus. Aí fui desafiada pelo povo a me despir de todos os meus esquemas mentais, preconceitos, pretensões, arrogâncias, saberes... e a aprender a me colocar como hóspede, como discípula e, na humildade, me deixar acolher e conduzir ao novo universo para mim totalmente desconhecido.

No altiplano, vivi um ano. Tempo suficiente para experimentar Deus na vida sofrida deste povo, um Deus que me desafiava a ir além, a sair de mim mesma para, na gratuidade do amor, ir ao encontro dos mais pobres, dos esquecidos e pequeninos de seu reino. Caminhei com os idosos na pastoral da pessoa idosa, com as crianças da infância missionária, e com os jovens da catequese do Crisma. Visitava as comunidades do campo, visitava as famílias enlutadas com as crianças, levando a todos a certeza de que Deus estava e caminhava com eles. Foi um tempo muito especial em minha vida! Essa vivência muito me edificou enquanto pessoa, sou grata a Deus, à Congregação e ao povo!

Depois de um ano, fui enviada para o oriente, cidade de Riberalta, agora um chão mais caloroso, clima tropical, terra de muito verde, muita água, peixes, animais. Agora sim, estava mais em casa! O povo do oriente é mais aberto, afetuoso, alegre e acolhedor, pelo próprio clima quente é claro. Em Riberalta, vivi 8 anos, trabalhando e servindo diretamente a juventude e as crianças. Com a ajuda de nosso bispo, monsenhor Luis, criamos o projeto “Sementes de esperança” com crianças trabalhadoras das ruas. A pobreza de suas famílias as obriga a deixar a escola para ir vender algo na rua, a fim de conseguir recursos que as ajudasse a comprar comida para sobreviver. As ruas eram cheias de crianças, todas em idade escolar, porém, fora da escola. O projeto fazia uma parceria com a família para que essas crianças pudessem voltar para a escola e a criança que retornasse para estudar recebia acompanhamento do projeto e ajuda em quase todo material escolar durante o ano letivo. Era um projeto muito lindo, em parceria com a juventude. Tínhamos encontro mensal com as crianças, com seus familiares, que recebiam visita uma vez ao mês na unidade educativa para ser acompanhada em seu desempenho escolar. 

A juventude, com ajuda dos coordenadores, lhes acompanhava nos grupos da paróquia, catequese juvenil de eucaristia, crisma e pastoral juvenil vocacional. Tínhamos grupo em todas as comunidades da paróquia. Eu visitava e dava formação a estes jovens toda semana, visitando seus grupos, comunidades, fazendo retiros espirituais, formação humana. Enfim, era uma vida de muita entrega. Dentro do trabalho com a juventude, tínhamos também um pequeno projeto que oferecia ajuda financeira para jovens de baixa renda para seguir os estudos acadêmicos. Recebíamos ajuda dos Estados Unidos através de nosso bispo e motivávamos os jovens de famílias de escassos recursos a voltar a estudar para garantir um futuro mais seguro e próspero e, como retorno desta ajuda recebida, os jovens tinham que prestar 15 meios dias de serviço na paróquia. Muitos jovens conseguiram ser profissionais e hoje tem uma vida melhor para oferecer às suas famílias.

Em Bolívia, eu amadureci muito como pessoa e missionária, me tornei um ser humano melhor, mais sensível, mais humana, mais atenta ao sofrimento das pessoas, mais simples e aprendi a confiar na providência divina.

Depois de 6 anos em Riberalta, fui para Comodoro fazer faculdade e assumir o acompanhamento de um grupo de sete jovens que iam começar conosco seu processo formativo no aspirantado. Enquanto fazia faculdade no curso de Serviço Social, caminhava com estas jovens. Foi uma experiência desafiadora, cansativa, de grande aprendizado, esforço e dedicação. Em Comodoro, acompanhava também as comunidades e a Pastoral da Criança, foi um tempo de graça, de uma vivência muito linda com o povo e com as jovens. Aí vivi uma experiência de um Deus amoroso, atencioso, carinhoso, exigente, cuidadoso e amigo. Comodoro me deixou saudades no coração, fui feliz lá!

Depois da faculdade, voltei para Bolívia por mais dois anos, retomei o trabalho anterior com as crianças e jovens e, no final do segundo ano, fui outra vez convidada pela Província a assumir o acompanhamento de outro grupo de formação, agora em Manaquiri interior do Amazonas. Era um grupo de seis jovens, um novo desafio e aprendizado. Em Manaquiri a vida foi muito boa, a vivência no meio do povo nas comunidades era muito legal, me sentia em casa, acolhida, valorizada, um povo alegre, acolhedor, amigo e muito hospitaleiro. Ah, Manaquiri! Como foi bom viver aí, eu me sentia uma pessoa abençoada por ter vocês como irmãos na vivência da vida e da fé, eu fui feliz no meio de vocês!

Depois de dois anos caminhando em Manaquiri, fui outra vez convidada a partir, agora para Humaitá no Sul do Amazonas. E aí vou eu, como itinerante da fé, viver outra aventura missionária junto ao povo e às jovens, sim, desta vez um novo grupo de jovens. Agora, cinco aspirantes, que já já seriam postulantes. Viajamos de barco de Manaus durante quatro dias, eu, Leandra e Jadiane. Uma viagem tranquila! Para nós, um tempo de contemplação da exuberante selva amazônica nas margens do Rio Negro. Em Humaitá, fomos recebidas por irmã Ana Maria Correa da Província Amábile Avosani. Uma criaturinha de Deus, muito irmã e amiga. Era a ternura de Deus a se fazer sentir junto a nós. Como era bom chegar em casa depois de 4 dias dentro de um barco dormindo na rede. Obrigada Senhor!

Em Humaitá, vivi três intensos anos, dois deles assumindo o acompanhamento do processo formativo das jovens postulantes e um ano das jovens aspirantes. Somando na medida do possível com irmã Ana no trabalho da Cáritas diocesana e na animação da CBR, Pastoral Vocacional e comunidades com as jovens. Em Humaitá, eu destaco muito a vivência fraterna, com a irmã Ana vivi uma profunda experiência do amor terno de Deus Pai-Mãe, foi um tempo de muito cuidado, parceria, cumplicidade e gratuidade. Me senti muito amada, valorizada, cuidada, acolhida e muito me ajudou a fortalecer o amor fraterno. Com as jovens, no acompanhamento do processo formativo, eu fui desafiada a crescer na atitude de escuta, acolhida da fragilidade da outra, na valorização das diferenças, no ser mãe e irmã. Vi e senti Deus trabalhando em mim através delas e do povo.

Agora estou aqui, outra vez, no Mato Grosso. Depois de tanto tempo fora, voltei para dar atenção à minha saúde um pouco fragilizada e fui convidada a somar na casa da saúde Sagrado Coração de Jesus, em Rondonópolis-MT, junto às irmãs idosas e fragilizadas como motorista da casa. Minha vida agora é aqui, levando e trazendo irmãs para as clínicas, hospitais, consultórios, UPAS e laboratórios. Confesso que nunca me vi num espaço como este, porém, Deus tem seus caminhos. Enquanto cuido da minha saúde, posso oferecer, na minha fragilidade, o que ainda posso para ajudar outras mais frágeis que eu. Na irmandade, tento ser uma presença alegre, serena, atenta às necessidades das mais frágeis e assim vou vivendo, tentando ser útil e dar frutos onde Deus me chamou a servir. Sou agradecida a Deus por tudo o que até aqui vivi, sei que sou pequena e miserável, porém, na minha fraqueza e pequenez, quero ser útil a Deus e aos irmãos e irmãs. Aqui me tens, Senhor, para te servir...

Para concluir, posso dizer: A vocação é uma graça, renovo meu SIM a cada dia e, por isso, mesmo nas dificuldades, sou feliz porque sinto estar no lugar certo. Você jovem, não tema! Deus também pode estar te chamando. Ele chama a todas, a todos, do modo como somos. Busquemos então, pela oração, a graça de um coração sensível à vontade de Deus, para assim abraçarmos nossa vocação, para sermos felizes e para fazermos de nossas vidas um dom em favor da vida.

Venha ser irmã Catequista Franciscana, uma congregação que luta sempre em favor da vida!

O Senhor serve-se de nós para que a sua luz chegue a todos os cantos da terra.

 

Irmã Cláudia Alves do Nascimento

Abril de 2023

Comentários  

#1 FATIMA Beyuma Charrias 02-05-2023 02:14
Felicidades hna. Claudia por compartir su maravillosa experiencia de misionera catequista franciscana. Me da alegría saber de usted, Dios le siga dando fuerza para que continúe orientando y guiando a su puebloslla donde usted se encuentre. Abrazos desde la distancia.

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