Minha caminhada vocacional nasceu na convivência com a comunidade.
Todo dia 13 de cada mês rezava-se o terço em homenagem a Santa Luzia, padroeira da comunidade. Eu sempre ficava vendo tanta gente que participava e era somente o terço.
Um dia convidei minha prima para ler a Palavra de Deus, e ela me disse: Como, se nós não sabemos nada? Eu respondi: Você faz a leitura e eu explico para o povo. E assim se deu.
Abrimos a Bíblia no evangelho de Lucas 1,46-56. A capela estava cheia nesse dia, pois tínhamos comunicado que haveria uma reflexão.
Ah! O povo veio em massa. Meu Deus, eu tremia e não saía nada, pois nós não tínhamos formação nenhuma, apenas o quarto ano primário. Eu só sabia dizer que Deus era bom, e tinha feito maravilhas. Nossa! O povo adorou. Então, começamos a refletir textos bíblicos todas as vezes que rezávamos o terço.
O padre ficou sabendo que havia um grupo que refletia a Palavra no dia do terço e veio nos visitar. Convidou-nos para iniciar um grupo de CEBs, começamos a participar de Romarias e caminhadas e eu fui me apaixonando cada vez mais pela proposta de Jesus. Não me conformava com a submissão em que viviam as mulheres da minha comunidade. Queria fazer algo mais.
Até que aconteceu uma chacina na comunidade, por causa da terra. Um fazendeiro assassinou quatro pessoas. Esse acontecimento foi o ponto de partida para o discernimento da minha vocação. Achava que poderia me doar mais. Busquei uma Congregação que trabalhasse com mulheres. Foi onde conheci e iniciei minha experiência com as Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor, que têm a missão específica de trabalhar com mulheres vítimas de prostituição.
A Palavra de Deus esteve sempre muito presente na minha vida. Até que conheci as Irmãs Catequistas Franciscanas da Província Imaculado Coração de Maria, participando do Grupo de Simpatizantes do Carisma e me apaixonei pela proposta francisclariana, que é ser irmã do povo.
Solicitei à coordenação provincial das Irmãs Catequistas a oportunidade de fazer uma experiência, a qual me acolheu na fraternidade de Camargos, em Belo Horizonte - MG, onde fiquei três anos, inserida no mundo do trabalho, como assistente social no Hospital do Estado, em Belo Horizonte. Lá atendia a população carente da região e seu entorno. Minha experiência foi como a de Francisco de Assis, junto às pessoas leprosas.
Neste período de experiência com as Irmãs Catequistas Franciscanas, minha mãe, já bastante idosa, adoeceu com sérios problemas do coração e vivia só com meu pai, também idoso. Os dois necessitavam de cuidados e companhia. Solicitei então, à coordenação provincial, licença para cuidar de meus pais. Para minha alegria, fui liberada e já estou com eles há dois anos. Há pouco mais de um mês minha mãe, com seus 88 anos, fez sua páscoa definitiva e eu continuo cuidando de meu pai, que está muito doente e já com a idade de 90 anos.
Neste período estou ligada à fraternidade de Aclimação em São Paulo, à qual vou quase todos os meses e onde me abasteço na convivência, oração, estudos e participo com as irmãs no Projeto com os Catadores de Material Reciclável na Baixada do Glicério.
Tendo completado o tempo de experiência junto as Irmãs Catequistas, pedi para fazer meu compromisso definitivo, desejo que concretizei no dia 14 de janeiro de 2014, na abertura do Ano do Centenário da Congregação. Que felicidade!
Toda essa trajetória foi sempre iluminada pela Palavra de Deus, desde o início, lá com o povo de minha comunidade.
Agradeço de coração a acolhida, compreensão, amizade, carinho e apoio das Irmãs Catequistas nesta minha caminhada.
Irmã Perciliana das Dores Santana
