Desde criança ouvia minha mãe falar de Irmãs. Ela, em sua infância, estudava em colégio de freiras. Interessava-me saber o que faziam as irmãs, como eram. Ficava entusiasmada em ouvir: cuidam das igrejas, ensinam o catecismo e dão aula. Algumas cuidam dos doentes nos hospitais. Pensava comigo: quero ser uma irmã para dar catecismo, dar aula e cuidar das igrejas a exemplo de minha catequista, Rosália Bizinella. Ela era muito estimada pelo povo do lugar, por sua dedicação e amor à catequese. Procurava imitá-la no que podia. Tudo o que ela fazia na igreja eu fazia em casa com meus irmãos: entrar em fila cantando, fazer genuflexão, seguir em ordem para os bancos, rezar, responder as perguntas do catecismo. Tudo.
Na escola, quando fiz o 3º ano, o professor me colocava para ajudar a tomar a lição dos pequenos e corrigir as tarefas. Gostava de ajudar o professor e queria ser professora. Mas aos poucos fui esquecendo-me de ser irmã e ser professora.
Em casa, trabalhava na roça, tomava conta da casa junto com a mãe. Bem cedo aprendi lavar, costurar, cozinhar, fazer pão e queijo, todos os serviços de uma família que vive numa colônia.
Um dia, o coice de um cavalo machucou um irmão meu de nove anos. O pai se ausentou de casa com o menino, à procura de recursos médicos. O caso era grave. A mãe, meio adoentada, piorou e ficou paralisada. O médico vinha atendê-la em casa.
Meu irmão de 11 anos e eu com 12 assumimos o cuidado dos irmãos menores, da mãe enferma, da casa e dos animais. As vizinhas nos orientavam e ajudavam. Os homens da comunidade vieram fazer as roças, plantar o trigo, podar as parreiras. Depois vieram nossos avós até a volta do pai.
Após três meses o pai voltou com o menino são e salvo. A mãe já estava se recuperando. Aos poucos, a vida voltou ao normal e o sol da esperança voltou a brilhar. A vizinhança se alegrava conosco. Neste tempo exercitei o meu ser mulher, o instinto materno, a responsabilidade. Senti-me muito valorizada pelos pais, pelos avôs e vizinhos.
Os dias passaram os meses, um ano e mais. De repente comecei a descobrir em minha vida a presença do amor. Senti que estava me apaixonando por um jovem. Guardei isto como um segredo. No entanto, sentia meu coração pulsar mais forte ao vê-lo, e, meus passos se tornavam mais ligeiros. Comecei sonhar com meu futuro. Minha mãe percebeu e me orientou rezar a Nossa Senhora para pedir proteção sobre minha vida e meu futuro.
De repente, uma noticia se espalha no povoado: vão chegar Irmãs em nossa vila. No inicio de 1947 chegaram a Nova Petrópolis, as Irmãs Catequistas Franciscanas. Estava com 14 anos. Um movimento novo no vilarejo. Recomeçaram as aulas e a catequese que há muito tempo já não havia. Jogos, ensaio de cantos, as rezas na comunidade adquiriram um novo jeito. Tudo se reveste de nova vida. Enquanto estou curtindo meus sonhos, uma ideia volta-me à mente: serei Irmã e professora? A dúvida retorna e meus pensamentos ficam confusos. Doía-me a ideia de romper com meus sonhos e de desistir do rapaz que queria namorar, mas, atraía-me também o desejo de ser Irmã e professora. O tempo foi passando, minha irmã foi crescendo e, aos 12 anos podia me substituir para ajudar a mãe em casa. O caminho foi clareando. Decidi ser Irmã e professora.
Aos 15 anos, nova prova. Uma crise na vida de meus pais dificulta o relacionamento em casa, e no fim, um parto difícil põe em risco a vida de minha mãe. Comecei a perceber que não poderia sair de casa e que minha vocação não podia se realizar. Perguntava-me: que farei se minha mãe vier a faltar? Eu, a filha mais velha de 10 irmãos! Deverei ajudar o pai a criar os irmãos? E a pequena que acabava de nascer?
Tanto chorei e rezei que Deus ouviu minhas preces. A mãe passou mal, mas escapou com vida. A criança veio sadia.
Liberta do peso, decidi minha vocação. Não pensei mais em outra coisa. Tratei de me preparar com a oração e o trabalho no silêncio do coração
Recebi de Irmã Luiza Venturi o prospecto (relação de documentos, atestados, critérios e enxoval para entrar no colégio) e o entreguei a meus pais que o leram atentamente. O pai perguntou: “você entendeu bem e mediu as consequências do que significa: boa índole e vontade que se dobra à vontade dos superiores”? Era um dos critérios. Respondi que sim. Contava então com 16 anos.
Ingressei no aspirantado no dia no dia 08.02.1950, Ano Santo da graça do Senhor. Na vida religiosa encontrei muitas dificuldades, mas a força e a graça do Senhor, sempre foram maiores que minha fraqueza.
No seguimento de Jesus Cristo, a Palavra de Deus, a meditação diária e a presença de Jesus na Eucaristia foram meu constante alimento e fonte de vida.
A contemplação do mistério do Verbo Encarnado, sua vida, paixão morte e ressurreição minha e do povo, nunca me deixaram parada.
Maria Santíssima, a humilde serva do Senhor foi meu modelo de caminhada, bem como o humilde e pobre Francisco de Assis.
A entre ajuda e apoio das Irmãs, da fraternidade, a partilha das alegrias e sofrimentos é sempre o lugar de encontro das alegrias e sofrimentos são sempre o lugar de encontro da amizade e do sentido de viver.
Se hoje tivesse que escolher de novo, quereria ser
Irmã Catequista Franciscana.
Irmã Zulmira Antonia Riqueti - PAMA
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Abraço Ir Najila