O tempo que se chama “hoje” só pode ser chamado assim, pela memória do que vivemos no ontem. E assim: “revendo a história, fazemos memória e vamos celebrar”.
Há 45 anos, no dia 14 de agosto de 1969 chegavam a Rondônia, três novas missionárias. Como Amábile, Maria e Liduína, também Therezina Franzói, Hilda Leonor Moratelli e Maria Ármine Panini foram sensíveis ao chamado de Deus formulado por Dom João Costa, bispo da Prelazia de Porto Velho.
Assim escreveu Dom João: “Conhecendo o grande trabalho missionário das Irmãs Catequistas Franciscanas, em 1954, se não me falha a memória, escrevi uma carta à superiora geral pedindo pelo menos três irmãs, de coragem e de grande espírito de sacrifício. A primeira resposta foi negativa, mas imitando Maria Madalena que queria ver Jesus saindo do sepulcro, e O viu, esperei a vontade de Deus. Em 1968 escrevi novamente à Madre Superiora que me responde: Aceitamos o convite de ir trabalhar na sua Prelazia. Exultei de alegria e bendisse a Deus, como Maria na casa de Isabel.
Assim, no ano de 1969, apareceram 3 irmãs cheias de vida e bom espírito e começaram seu grande trabalho de levar a Palavra de Deus e o Evangelho a esse povo merecedor, por ser um povo simples e de grande fé. Começaram seu trabalho nas escolas públicas e foram recebidas de braços abertos pela direção das escolas e pelos alunos, que usando um termo popular “as adoravam”. Posso dizer que foram verdadeiras apóstolas do bem.” (Carta de Dom João Batista Costa aos 05 de outubro de 1993)
Sim! Therezina, Hilda e Maria Ármine partiram cheias de esperança! O desconhecido não as intimidou, nem a saudade ou a solidão as paralisou. Ao contrário, com seu ardor missionário, rapidamente se misturaram aos migrantes que buscavam mais vida no Norte do Brasil. E mesmo sem saber muito do nosso carisma e da nossa opção, o povo as conheceu mulheres simples e bem próximas a eles. Foi assim que logo compreenderam que este era nosso jeito de viver a missão e a entrega. Dona Joelina, amiga das irmãs desde o início, nos brinda com seu depoimento: “Havia em Porto Velho duas congregações. As salesianas trabalhavam na escola. As franciscanas não. Estavam na rua. Estas eram do povão”. Isto nos garante e nos lembra o objetivo para o qual fomos enviadas ao Norte: fazer-nos povo com o povo.
Os diversos pedidos feitos à congregação para a região incluíam presença nas escolas, formação de comunidades e lideranças e catequese. Mas como: “O chamado e o envio do Senhor nos apontam sempre novos caminhos”... (CCGG 23), a Divina Fonte nos foi aguçando os ouvidos e fomos ouvindo os novos gritos da realidade. Sobre isto nos escreve Irmã Ármine: “No contato com as periferias, realidades e necessidades dos pobres, o Senhor mesmo nos conduziu aos hansenianos (Tes.1-2). À margem das margens, era e estava o “Leprosário Jaime Aben Ahtar”. Abandonado pelos que deviam acolher, amar, cuidar e alimentar. Transformado num verdadeiro monturo, repugnava e afastava as pessoas. Eram três pavilhões ocupados por doentes e muitas casotas ao redor. La viviam homens mulheres e crianças - muitos mutilados pela doença, outros pelo abandono e pela marginalização.
Desta forma, nossa presença como Irmãs Catequistas Franciscanas, nos primórdios do norte, além do serviço pastoral nas comunidades ao longo da Br 364, nas periferias da cidade e formação nas escolas, em Porto Velho incluiu o leprosário, com visitas periódicas, catequese, formação humana e bíblica e especialmente alfabetização de adultos” (Irmã Maria Ármine Panini-Kuito Bié, 08 de julho de 2014).
Depois, respondendo a novos apelos, assumimos a educação nas suas diversas formas, as pastorais, a saúde, os indígenas, os seringueiros, os ribeirinhos, os pequenos agricultores, os movimentos sociais, as mulheres... E assim novas estacas iam sendo fincadas no chão, a lona sendo esticada e a Tenda alargando seu espaço. Era isto que pedia o Capítulo geral recém celebrado em 1967.
Num primeiro período permanecemos apenas em Rondônia. Depois, ao mesmo tempo que estendíamos nossa missão para o Acre, continuamos abrindo áreas missionárias em Rondônia, inclusive instalando uma irmandade na aldeia indígena Karitiana, em 1994, como marco dos 25 anos de nossa chegada na região. Em seguida respondemos ao chamado para estarmos no sul do Amazonas e, por último, assumimos a missão no vizinho país do Peru. Em cada lugar e em cada realidade, junto ao povo de culturas e raças diferentes, nos fizemos “Irmãs” pela escuta e pelo diálogo, na simplicidade e disponibilidade, na alegria e no compromisso. Ninguém duvida que damos o melhor de nós mesmas e de nossos dons, na Missão e convivência com o povo, durante estes 45 anos.
Chegou a hora de CELEBRAR!
Celebrar e contemplar a iniciativa e ação de Deus que, gratuitamente, fez história conosco nestes 45 anos e nos convidou a construir o reino nesta realidade;
Celebrar a coragem e ousadia das três irmãs que em 1969 nos abriram caminho;
Celebrar a abertura e acolhida do povo e das comunidades que nos acolheram;
Celebrar todos os dons partilhados, as sementes lançadas no chão, os frutos colhidos e repartidos, as alegrias somadas e a vida promovida!
É hora de celebrar a gratidão à Divina Fonte da Vida que nos conserva firmes no desejo de SERVIR onde estamos sem importar o lugar.
E assim seguimos! Como discípulas, fazendo-nos aprendizes do Mestre Jesus.
Como missionárias, na atenção aos gritos da terra ferida e ao clamor pela justiça e pela paz.
Comentários
Parabéns e coragem.
Celebramos os 45 anos de missão no cenário do Ano Jubilar da Congregação. Isto nos possibilita resgatar com maior intensidade a riqueza da fonte que ainda jorra com muito vigor. Esta história é nossa!
Agradecemos de coração a cada irmã que se manifestou pelo site, a quem ligou, escreveu, enviou mensagem e a todas que sintonizaram e rezaram.
Abraço grande de todas nós da PAMA.
Juntas damos graça ao Mestre da Messe que pelo dom da vocação continua chamando. Que irmã Hilda interceda por nós, e que a divina luz nos fortaleça na missão concedida.
com muita simplicidade e amor, dar o ponta pé inicial àquela animada Missão.
É bonito contemplar a dinâmica itinerante que anima o Projeto de Vida das irmãs nesta Região. A coragem e a ousadia são marcas nesses anos de missão inserida e encarnada na realidade amazônica. Quantas tendas armadas no meio dos pobres como presença solidária e profética. Parabéns! Gratidão!
Que Amábile as acompanhe sempre nas trilhas amazônicas. E que a memória sagrada dos passos dados, alimentada pela mística dos povos amazônicos revigore o ardor missionário e as ajude a continuar com os ouvido no chão e, junto com os pobres, “escutar a Deus onde a vida clama”, Sair dos espaços costumeiros e avançar com ousadia e a coragem das primeiras para “primeirear” com aquelas pessoas “com quem ninguém quer estar e onde ninguém quer estar”.
Na comunhão de vida e missão abraço-as carinhosamente,
Ana Pereira de Macedo
Que o Deus da vida, a Divina Ruah siga derramando todas as bendiciones sobre a cada uma de voces e sobre toda a missao que realizam naquela "Terra bendita" onde aprendi tanto junto aquele povo querido.
Um grande e saudoso abrazo com muito carinho e saudades,
Tere