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03 Abril 2015
Os silêncios daquele sábado...

João abraça Maria e lentamente se afastam do Calvário, seguindo os homens que levam, envolto num lençol, o corpo dilacerado de Jesus. É quase noite. Rapidamente chegam a um túmulo novo, da família de José de Arimatéia, próximo dali. O sepultamento é feito às pressas, por causa da vigília do sábado que começa no pôr do sol daquela sexta-feira. Uma chuva miúda, insistente, tinge de desesperança aquele cenário de dor e tristeza.

Maria está exausta. Toda as dores daquele dia parecem desabar agora, de uma vez, sobre seu coração e seu corpo. Mal consegue andar, amparada por João.

No rosto jovem do discípulo correm lágrimas silenciosas que se confundem com as dela, num abraço em que se acolhem como mãe e filho, conforme a última vontade de Jesus.

Maria Madalena e as outras mulheres conversam baixinho diante da pedra que fecha a entrada do sepulcro. São observadas de longe por dois homens da guarda do Sinédrio.

Jesus, agora, está preso em seu túmulo. A morte triunfou sobre a vida, como sempre acontece. É o destino de toda criatura humana e com Jesus não foi diferente, pensa José de Arimatéia.

Ao seu lado, Nicodemos está confuso e pensativo. Uma fria lufada de vento e chuva agita seu manto e ele, num arrepio, se lembra das palavras que Jesus lhe disse, em seu último encontro, às escondidas: “O vento sopra onde quer...”. Recorda também um trecho do diálogo que o deixou ainda mais confuso: “Quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus....

Nicodemos pensa; como algo ou alguém poderia renascer, naquele corpo destroçado e sem vida...?

Mais confuso está o centurião. A guarda romana que estava sob seu comando, já se foi, mas ele permanece ali, no Calvário, aturdido, com o coração aos saltos. Olha para a cruz vazia e sente que algo extraordinário aconteceu, mas não consegue entender o mistério daquele homem que ele, cumprindo ordens, executou.

As últimas testemunhas daquele triste espetáculo voltam para suas casas, para sua rotina, comentando os detalhes, iluminadas pelos derradeiros raios de sol que se encontram com o brilho pálido da primeira estrela, nos céus de Jerusalém.

 Tudo está realmente consumado...”, murmura Nicodemos.

Na cidadela Antônia, Pilatos vê sua mulher, Cláudia, chorando em silêncio no quarto. Em seu coração há uma mistura de medo vergonha e raiva. Como pôde entregar aquele inocente nas mãos da turba assassina? Exasperado, grita sua ira para as paredes vazias: “Malditos judeus, maldita seja sua religião, maldito seja César que me enviou a esse fim de mundo!” Ato contínuo, ordena rispidamente a um criado que lhe traga novamente a bacia com água onde, compulsivamente, lava, mais uma vez, as mãos...

Próximo dali, na trilha que conduz ao Jardim das Oliveiras, Judas vagueia sem rumo, sozinho com seu remorso. Na sua cintura, a bolsa cheia de moedas soa como um sino fúnebre anunciando presságios de morte. Sua dor é insuportável, assim como seu desespero e arrependimento.

No cenáculo, Pedro e os outros discípulos compartilham, em silêncio, aquela derrota absoluta que lhes ressalta o desamparo, o medo e a covardia. Não se ouve uma palavra sequer. Sobre a mesa, uma taça esquecida, uma garrafa de vinho vazia, um pedaço de pão, restos daquela ceia. No silêncio daquelas paredes ainda ressoam as palavras proféticas de Jesus, ditas ali, na noite anterior: “Este é o cálice do meu sangue, que será derramado por vocês...”.

No Sinédrio, mais uma reunião extraordinária acontece. São incansáveis, esses homens, na tarefa de manter o poder a todo custo. Caifás confabula com Anás e resolvem ir mais uma vez a Pilatos. Querem uma guarda ao redor do túmulo. Temem que os discípulos roubem o corpo.

Malco, o criado ferido por Pedro no momento da prisão de Jesus, olha pela janela. Ao longe, no alto do Gólgota, vê a silhueta do patíbulo da cruz que, mesmo à luz tímida do crepúsculo, parece projetar um silêncio de morte à sua volta. Ele toca a orelha intacta e uma lágrima furtiva corre de seus olhos.

Um legionário romano, tão confuso e aturdido quanto seu centurião, tem nas mãos a túnica manchada de sangue que ganhara no jogo de dados...

A quinze quilômetros dali, em Betânia, Marta e Maria se abraçam num choro profundo. Acabaram de receber a notícia. Lázaro também chora. Ele sabe o que é túmulo e morte, mas não compreende o mistério maior: Salvou e devolveu vida a tantos, inclusive a mim... por que não salvou a si mesmo?

Como o vento, que sopra onde quer, os silêncios daquele sábado falam ao coração de cada um, de cada uma...

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  • Fonte da Notícia: Eduardo Machado - BH

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Arte: Lenita Gripa

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