Com o tema Povos originários: Por uma sociedade do “Bem Viver”, o CIMI convida a uma reflexão, através da “Semana dos Povos Indígenas”, sobre “Povos Originários: a sociedade do Bem Viver”, que coloca a “sobrevivência no modo de vida próprio” (CF 2015 n. 52), dos povos indígenas caracterizado pelo “Bem Viver”. Não queremos que a sociedade brasileira não indígena tenha que viver como os povos indígenas e nem que os povos indígenas almejem os padrões de vida da sociedade brasileira. Procuramos sim manter vivo o espírito do “Bem Viver” que é o espírito do “bem- conviver, o espírito do ser-vir e do vir-a-ser, expresso na palavra de Jesus, que é o lema da CF 2015, “Eu vim para servir” (cf.Mc 10,45).
A Campanha da Fraternidade em seu texto esclarece: “os povos indígenas precisam, sobretudo de apoio na luta pelos seus territórios, pela manutenção de suas culturas e pela sobrevivência no modo de vida próprio de sua tradição”.
Na contra mão da política indigenista do estado brasileiro a população indígena vem crescendo e se consolida diante dos seus direitos quanto às políticas públicas referente ao território, a educação, a saúde e a sustentabilidade.
A luta pela demarcação e garantia das terras, a autodeterminação, a plena cidadania, a educação específica, diferenciada e intercultural, o respeito pela diversidade cultural e religiosa, são formas de apropriação de suas histórias e identidade.
Segundo o Censo do IBGE 2010, no Brasil a população indígena é de 896.917 pessoas. Dentro deste amplo mosaico que é a realidade dos povos indígenas, se somam a 305 etnias, falantes de 274 línguas diferenciadas. Estima-se que existam ainda pelo menos mais de 90 grupos de índios isolados (livres ou sem contato) na parte brasileira da floresta amazônica.
A história relata que até a década de 1970 os povos indígenas foram proibidos de praticar rituais sagrados e falar em língua materna. Na época, os inimigos dos povos indígenas tinham a prática de persegui-los e matá-los. Muitas vezes, em diversas regiões do Brasil, a saída foi tentar manter seus rituais às escondidas. Nesse processo de perseguição por interesses aos recursos naturais em terras indígenas muitas coisa se perdeu. “O mais triste é que nós nem sabemos o que de fato ficou pelo caminho da nossa história”, lamenta Claudinha Truká, liderança do povo.
O governo brasileiro segue decidido a continuar com essa prática genocida, na posição de nada decidir, descumprindo a Constituição, favorecendo os setores ante-indígenas e potencializando os conflitos e as violências contra os povos originários. Frente a isso se faz necessário às constantes retomadas de seus territórios tradicionais. Terras dos seus antepassados, terra de onde cada povo foi originado, terra onde habita o sagrado. E vive-se a prática do “Bem Viver”.
O momento agora é de denúncia das violências sofridas pelas comunidades indígenas país afora. Sassá Tupinambá comenta: “É preciso mostrar qual é a realidade que os povos indígenas estão vivendo, sendo atacados nas suas terras por pistoleiros, tendo suas terras invadidas por latifundiários, a morosidade do Estado brasileiro e do governo na demarcação, ampliação e desintrusão de suas terras”,
“Os direitos originários” (direito ao território tradicional) e constitucional estão seriamente ameaçados pela bancada ruralista (agronegócio). Somos um país pluriétnico e multicultural, onde cada povo tem o direito de viver com dignidade sua cultura, língua e tradição, sendo brasileiros originários.
No seu grito de um “basta”, seguido de suas lutas em todos os níveis da existência humana, está a força que pode desmascarar as ideologias, que neutralizam as patologias, e desconstruir o consentimento alienado em dor histórica. A dor é sinal que na vida danificada subsistem raízes para viver, não para viver de qualquer jeito, mas onde se encontra fragmento de esperança para a contínua construção do “Bem Viver”.
A resistência histórica e atual dos povos originários é surpreendente. Nos últimos anos vem fazendo um enfrentamento permanente contra seus inimigos históricos, articulados no latifúndio e no agronegócio. Além de manter-se mobilizado para evitar retrocessos com relação aos seus direitos constitucionais. Neste novo cenário político onde as forças conservadoras e reacionárias, no Congresso Nacional têm avançado, os desafios e embates vão exigir maior união dos povos e um constante busca de força com um maior número de aliados e apoiadores.
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