Na Tri fronteira Peru, Bolívia e Brasil, espaço aberto de fácil acesso, diariamente chegam de 50 a 80 haitianos, senegaleses e dominicanos. A situação dos dois últimos é ainda mais desafiadora devido a falta de documentação e o não reconhecimento de nosso país. Chegam após 8 a 10 dias de viagem, com fome, sede, explorados, perdidos, mas trazendo na pouca bagagem sonhos, vontade de trabalhar e de conquistar uma vida digna. Alguns já têm alguém conhecido no Brasil, outros, o marido ou esposa e a maioria, ninguém.

Sensíveis a essa situação, as Irmãs Clarice Berri e Ármide Stolf, Pe. David, Pároco e Irmão Franco (jesuítas) juntamente com o povo de Assis Brasil-AC buscaram uma maneira de ajudar. Refletiram e   dialogaram nas reuniões de lideranças. Nas celebrações convocaram o povo a um gesto concreto da Campanha da fraternidade por uma Igreja solidária. E assim, ainda que com alguma dificuldade, conseguiram organizar uma equipe que assumiu a Pastoral da Mobilidade Humana, tão urgente em nossa realidade.

A equipe abraçou com esmero e dedicação a causa. Duas a três vezes por semana, bem cedo se dirige até a Alfândega para, de mente e coração aberto, acolher os imigrantes que chegam ou já dormiram na praça da cidade e param para se apresentarem à Polícia Federal. Com a valiosa contribuição do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC), podemos oferecer um apetitoso café com leite, pão e fruta. Estamos partilhando uma carta informando a sequência de nossa caminhada no Brasil, traduzida em quatro idiomas: francês, crioulo, espanhol e em português. A equipe se desafia a aprender o básico do crioulo. É gratificante perceber a alegria deles e nossa por este gesto solidário. “ Os pequeninos pedem pão...” "Pois eu estava com fome, e vocês me deram de comer..."

Fomos informados, através da Polícia Federal, sobre algumas mudanças nesta região que visam amenizar os problemas enfrentados pelos imigrantes. Por exemplo, a Alfândega de Assis Brasil está se preparando para realizar os procedimentos, que até o momento são feitos em Epitaciolândia. Preocupa-nos se a cidade de Assis Brasil terá infra estrutura suficiente para acolher a todos. Outra informação é que há um processo em que o governo do Acre, solicita ao governo federal que assuma o abrigo para imigrantes de Rio Branco pois o estado já não consegue mais sustentá-lo.

Diante deste panorama complexo, lembro muito de nossos antepassados, chegando de diversos países e sendo acolhidos aqui no Brasil em busca de uma vida melhor.

Além desse trabalho junto aos imigrantes, damos continuidade ao valioso trabalho das Irmãs que nos antecederam, na formação de lideranças, de comunidades, seringueiros, associações e sindicatos.

Essa é nossa partilha. Convidamos para rezarem por esta situação, pois está mexendo com a conjuntura brasileira. Que cada ser humano, criatura de Deus, encontre seu espaço e dignidade de vida humana e cristã.

Somos felizes nesta missão porque, como nos diz o Papa Francisco: “A conversão do olhar e do coração nos leve a nutrir a reverência e o desejo de estar com os refugiados, com os pobres, com os menores,  com os doentes, com as crianças e idosos. Vamos lançar luz, voltar os olhos da sociedade para aqueles/as a quem se evita ao máximo olhar”.