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03 Março 2016
Carta Aberta

I Seminário do Maranhão sobre o MATOPIBA

Nós, participantes do I SEMINÁRIO DO MARANHÃO SOBRE O MATOPIBA, reunidos nos dias 25 e 26 de fevereiro de 2016, em São Luis-MA, com o objetivo de compreender melhor o Programa e seus impactos socioambientais no bioma cerrado, constatamos que:

1. É um Plano de Desenvolvimento Agrícola – PDA, que significa a modernização agrícola para os estados do MA, TO, PI, e BA, totalizando 143 milhões de hectares de terra, dos quais 23.982.346 hectares, 72,25%, no MA, impactando diretamente 14 unidades de conservação, 15 terras indígenas, 400 assentamentos e 23 quilombos. Essa área atinge no Maranhão os biomas:  Cerrado (91%), Amazônica (7%) e Caatinga (2%).

2. No bioma cerrado, nossa Casa Comum, “berço das águas” encontram-se os maiores aquíferos do planeta, as nascentes das três bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônia/Araguaia – Tocantins, São Francisco e Prata), povos indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco, sertanejos e a mais rica biodiversidade brasileira.

3. Este Plano faz parte da consolidação do sistema capitalista dirigido pelas grandes empresas (Suzano, CargilI, Bunge), agências (FMI, OMC) e bancos internacionais, subjugando o Estado brasileiro aos interesses do capital. Nesse sentido, medidas governamentais fortalecem esse sistema, como a reforma do Código Estadual de Florestas sem a devida publicidade e envolvimento dos principais atingidos; a criação da Lei n. 10.276 de 2015, que representa os interesses diretos do MATOPIBA e do agronegócio no Estado do Maranhão; e ainda a conivência dos órgãos públicos com a destruição do meio ambiente.

4. O MATOPIBA aprofundará os conflitos agrários, pois só no ano de 2014 foram registrados 123 conflitos por terra e território, dos quais 66,67% desses na região do Cerrado. Nesse contexto, a concentração da terra, o êxodo rural e a violência contra populações do campo, das cidades, das águas e das florestas tende a aumentar, diminuindo a disponibilidade dos bens da natureza essenciais para nosso Bem Viver.

5. O povo, no tempo de Jesus, identificou o poder do Império Romano simbolizando-o como uma besta fera que destruía a diversidade de comunidades e os seus modos de vida (cf Ap 13, 1-18). Nos tempos de hoje, o MATOPIBA se assemelha a esse monstro que se apodera do nosso cerrado, transformando-o em mercadoria para aqueles que sempre se beneficiaram dos recursos naturais, em detrimento da maioria dos maranhenses. Conscientes da trágica realidade que essa besta fera causará, exigimos: a regularização dos territórios, com a Reforma Agrária Popular, a titulação dos territórios quilombolas e a demarcação das terras indígenas.

6. Diante do exposto, reafirmamos nossa postura contrária a implantação desse empreendimento e o nosso compromisso com a resistência e insurgência dos povos e comunidades que lutam em defesa dos direitos fundamentais, seus modos de vida e de produção que se realiza em harmonia com a natureza. Acreditamos nos princípios do Bem Viverfundamentados nas tradições dos povos indígenas, quilombolas e em outras comunidades tradicionais e na tradição bíblica cristã (cf Ap 21, 1-7 e Ap 22, 1-5) que valoriza a diversidade de culturas no campo e na cidade; defendemos que a soberania das populações tradicionais seja respeitada, criando as condições necessárias para a reprodução da vida no campo.

Lutaremos e convocaremos toda a sociedade, assim como fizeram as Primeiras Comunidades Cristãs (cf. Ap 7,1-17), a empenhar-se conosco criando uma grande unidade, incidindo e pressionando os governos locais, estadual e federal, a fim de que o MATOPIBA seja enterrado, pois ele significa a morte e nós lutamos em defesa da vida.

São Luís, 26 de fevereiro de 2016.

 

Representantes das dioceses de Brejo, Balsas, Grajaú, Bacabal, Caxias, Coroatá, São Luís, do Regional NE V - CNBB.

Povos Indígenas Krikati, Krenyê e Ramkokamkrá/Canela

Moquibom – Comunidades quilombolas de Triangulo, Cruzeiro, Santa Maria

Comissão Pastoral da Terra – Regional Maranhão

Conselho Indigenista Missionário – Regional Maranhão

Cáritas Maranhão

Pastoral da Criança

Pastoral da AIDS

CEBI

CEBS

Irmãs de Notre Damme

Sociedade Maranhense de Direitos Humanos

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MA

Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco - MIQCB

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: I Seminário do Maranhão sobre o MATOPIBA
  • Enviado por: Irmã Teresinha Tontini

Comentários  

#1 Marlene Chudini 05-03-2016 09:44
Com certeza estamos em comunhão com esta luta. O que nós, aqui no Sul, podemos fazer de concreto para contribuir na pressão para que este projeto não se estabeleça? Queremos ajudar na defesa as vida do povo que precisa de sua terra, ao menos sobreviver.

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