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23 Agosto 2017
Vida pelas vidas

O cenário poderia ser dos grupos de família, de mulheres, de jovens, idosos ou grupos de reflexões conforme estamos acostumadas a chamar nas nossas pequenas comunidades. Porém, o público era bem diverso. Gente vinda de vários países do mundo, cada um, dos mais de 30 participantes falavam línguas diferentes, porém, o que nos uniu foi esta “causa”, a vida e o direito de viver, de milhares de pessoas que se colocam na defesa dos direitos humanos e ambientais, mundo afora.

 Naquela  semana, entre os dias sete e nove de agosto, num ponto da grande e silenciosa cidade de Johanesburgo, na África do Sul, estávamos reunidas representantes de várias organizações para conversar sobre as  preocupações que pairam  nos passos incertos da sociedade - ‘a morte de centenas  de defensoras e defensores dos direitos humanos e ambientais’,  e o avanço dos modelos ditatoriais de governos que vem ocupando de modo assombroso as áreas de decisões política, econômica e social em nível mundial.

[Um parêntese]... Enquanto estávamos ali reunidas, meu senso religioso, hora e outra me fazia lembrar  da cena dos apóstolos que estavam reunidos, quando ocorreu a vinda  Espírito Santo. Cada qual ouvia na sua própria língua e todas as pessoas conseguiam se entender. Era quase assim, naquela sala toda envolvida de fios, luzes e vários outros aparatos de comunicação. Creio que bem diferente do lugar onde os primeiros cristãos se encontravam. Mais... graças a Deus a imaginação ainda não tem limites.

(Voltando ao assunto) O predomínio da língua inglesa, naquele lugar é um dos sinais do avanço da globalização, da influência e da colonização de outras culturas, e isso não é novidade, enfim. Ainda bem, que neste encontro os tradutores e tradutoras nos ajudaram a compreender e perceber o que estava a se passar.

Alguns testemunhos e reflexões - Pode ser que no próximo encontro eu não esteja aqui com vocês

Embora, o tema fosse um tanto denso, ainda assim, era possível perceber nos olhos e nas palavras das e dos líderes, o sinal de esperança e de empatia. É como se disséssemos numa única voz: “Essa causa é nossa. Estamos a viver a mesma situação no (meu) País”.  

Quando um dos companheiros, defensor dos Direitos Humanos, do Sudiafrica, disse: “Temos pessoas das nossas comunidades que foram “compradas”, para ficarem do lado dos donos das empresas de minérios. Essas empreiteiras chegam para explorar nossa terra e expulsar nossa gente de casa. Nossa vida está nas mãos deles”.  Essa fala, ressoou num profundo silêncio.  Porque este mesmo companheiro também disse: “Se eu estou aqui agora, é porque eles ainda não conseguiram me matar. Pode ser que no próximo encontro eu não esteja aqui com vocês”.  Essa situação ocorre cada vez mais frequente e não é possível que continue assim. Quantas vidas ainda serão tiradas para fomentar a violência e a ganância dos poderosos? Este grito não pode ser silenciado!

A ambição principalmente das grandes mineradoras, tem avançado de modo violento contra as populações de quase todos os continentes. Quem sofre com isso, são as pessoas, e grupos. Os povos indígenas de uma parte da américa latina, estão em extinção. “Não sabemos quanto tempo vamos permanecer vivos naquelas terras”, disse a líder dos povos Quechua, que vivem numa determinada região do Peru. A mesma fala, foi de outras lideranças da Colômbia, do México, Equador, Costa Rica e também do continente asiático.

A mesma preocupação está aqui, no continente africano, a chegada de empresas chinesas, australianas e outras, estão a tomar   conta das terras e praticamente exterminando povos nativos. Imaginamos o quanto isso prejudica e afeta os costumes e a cultura de uma comunidade, e o quanto de degradação provoca à terra, água e aos demais recursos naturais. É triste sentir esta realidade!

Outro agravante que tem ocorrido no continente são as migrações, onde milhares de pessoas são obrigadas a saírem de suas terras, (porque m muitos casos as empreiteiras chegam e ocupam seus espaços) e comunidades inteiras são expulsas e se veem sem lugar para onde ir com suas famílias. Angola está a viver esta realidade e não se sabe quando terá fim.

Somos muitos sonhando o melhor para o mundo

Se pensarmos somente nos desafios que nos rodeiam, certamente ficaremos malucas. Mais uma coisa é certa, embora tudo pareça ocaso, ainda é possível avistarmos luzes. Uma delas são os espaços onde e com quem estamos.

Ainda no primeiro dia de encontro, o secretário geral da Civicus: World Alliance for Citizen Participation, Danny Sriskandarajah, lembrava-nos, “que bom estarmos reunidos para conversar sobre estes assuntos. Nós temos muitas coisas boas ocorrendo, por isso, precisamos de colaboração mútua, de solidariedade para enfrentarmos as intempéries que aparecem. Somos muitos sonhando o melhor para o mundo”, disse o secretário.

E nisso, nós, nos apoiamos. Somos muitas pessoas, que na loucura deste mundo fragmentado estamos nos permitindo o “direito ao delírio”, como dizia, o saudoso Eduardo Galeano. É preciso sonhar e somar forças, com as pessoas que estão próximas, os grupos que estamos ligadas, que não são poucos, graças a Deus. Só assim, vamos fazer essa voz ser mais ouvida. Os defensores e defensoras dos Direitos Humanos e ambientais merecem viver!

Para marcar este encontro, no encerramento foi elaborada uma carta que será enviada aos responsáveis dos Direitos Humanos em nível mundial, para que toda a sociedade civil tenha conhecimento dos desafios que estamos a viver, e que muitos outros estão por virem. “Os governos que estão a chegar, não querem diálogo com a sociedade civil. Tenhamos cuidado, mais não podemos recuar”, alertou um dos defensores.

A partir desta motivação cada uma, cada um volta para sua realidade e tenta na prática encontrar caminhos onde se possa dar passos, mesmo que incertos. O que importa é caminhar com esperança. O que importa é saber que não estamos sozinhas. A luta é grande e a causa é nossa! Estamos juntas e vale a pena sempre lembrar, “muitas pessoas pequenas, em muitos lugares pequenos, fazendo coisas pequenas podem transformar o mundo”. (Provérbio Africano).

Como franciscanas também sentimo-nos interpeladas a assumir o compromisso com essas causas, ‘o cuidado com as vidas do universo é nossa missão’. 

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Ir. Sílvia Cristina

Comentários  

#2 Eunice Berri 07-09-2017 16:56
Bela experiência, Irmã Sílvia!
Que bom nos sentirmos junto a tantos/as agentes que poem a VIDA em primeiro lugar! "Não podemos recuar"!
Postulantes do Cazenga e Ir. Eunice
#1 Enedir 25-08-2017 11:38
Parabéns Silvia! Que experiência profunda, obrigada pela partilha.

Sim estamos em sintonia e na ciranda da Vida todas fizemos parte e, queremos estar presente lá onde a Vida está ameaçada e sofrida. Nosso Deus é o Deus da Vida, e por isto acreditamos que um novo mundo é possível...
Estamos em Sintonia.
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