Bofetada, escarro, chicotada, espinho, prego, suor, zombaria, covardia. Toda sorte de humilhação o Cristo enfrentou por conta de sua firme fidelidade ao Reino. Nunca estendeu a mão contra ninguém, mas levou uma certeira bofetada do soldado que lhe escoltava. Sua saliva, utilizou-a na pregação do Reino e, certa vez, usou-a para curar um cego. Do soldado, ganhou uma cusparada que lhe sujou o rosto e feriu a alma. Quanto ao chicote, chegou a usá-lo, mas nunca para agredir alguém, apenas revoltando-se contra o comércio e a exploração praticada em nome de Deus. Em contrapartida, recebeu no corpo chicotadas que lhe rasgaram a pele e lhe abriram feridas latejantes. Dispensou todo tipo de glória e bajulação, mas teceram-lhe uma coroa de espinhos que afundaram-lhe crânio adentro gerando uma dor lancinante e uma hemorragia extenuante. Suas palavras eram duras e proféticas, mas sempre libertadoras. Na cruz, prenderam-lhe com pregos brutos, grandes e grossos que perfuraram músculos, tecidos e nervos. Nunca ridicularizou ninguém, mas foi alvo de zombaria e irreverência de quem ainda não havia compreendido a natureza de seu poder.
Os absurdos da Sexta-Feira Santa, além de nos comover e emocionar, devem nos despertar mais uma vez para a indignação profética diante da covardia e da crueldade que, com frequência, atualizam para os nossos dias a Paixão de Cristo. As perversidades de um sistema que, no auge do absurdo cria um ambiente de medo, ódio e opressão no qual meninos de pouco mais de 18 anos são capazes de disparar 80 tiros na direção de um carro no qual se encontrava uma família. Pobre matando pobre e Jesus novamente crucificado. Este é apenas um exemplo. Infelizmente existem muitos outros. A situação só pode mudar se mantivermos nossa indignação e se esta se tornar em mobilização comprometida em transformar esta situação de verdade, sem demagogia ou discursos baratos e simplistas que em nada nos ajudam a construir a paz e a concórdia.
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