Dia 22 de agosto de 2019. Nosso irmão franciscano, amigo, “superior”, “fundador” – celebra já 80 anos de sua partida para a eternidade.
Já conhecemos bem sua história, sua biografia, pelos escritos de Clarícia Otto, que o destacou como “educador incansável, homem de intuição e da instituição”, como também, pelo texto de nossa Irma Anita David: “Memórias de Frei Polycarpo Schuhen”.
Acrescento algo mais, recolhido do livro “tombo” da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, de União da Vitória:
“Foi no dia 22 de agosto de 1939, na cidade de União da Vitória, que nosso Frei Polycarpo foi matado por duas pessoas que buscavam o dinheiro da festa realizada para construir o templo paroquial. Mas o dinheiro já havia sido depositado no banco pelos “fabriqueiros” da Paróquia. Frei Policarpo não tinha nada, nem dinheiro suficiente para a comida e o necessário de cada dia.” Fonte fidedigna relata que o assassino que atirou no padre teria se arrependido. Participou do velório e do enterro, até ajudou a levar o caixão. No dia seguinte, ele mesmo se apresentou à polícia e confessou seu crime. Mesmo assim, recebeu 30 anos de cadeia.
Ainda dos escritos da crônica: “Com a morte do Frei, desapareceu de nossa região, um missionário franciscano, zelosíssimo durante todo o tempo de seu sacerdócio, um madrugador e servidor de doentes em grandes distâncias. Bom pastor para as almas penitentes a quem se dedicava com todo carinho e atenção.”
São 80 anos de sua entrega total para receber o prêmio desta vida totalmente dedicada para o bem do povo e a serviço do Reino de Deus.
Mas, quem foi Frei Polycarpo para a história da nossa Congregação? Quem é Frei Polycarpo para o hoje de nossa história?
Foi um idealizador, destemido, corajoso, carismático, profético, um homem de Deus. Um homem que amava o povo, se dedicava incansavelmente pelo bem do povo, especialmente dos mais pobres, doentes e necessitados. Ele mesmo vivia muito pobremente, andava sempre com roupa muito surrada, passava fome, caminhava a pé ou a cavalo. Mas, com espírito elevado, contemplativo, atento aos apelos de Deus. Se deixava conduzir pelo Espírito de Deus nas suas caminhadas evangelizadoras ao encontro dos mais necessitados. Assim que, ao entrar numa casa para pedir água (a sede era muita), teve a oportunidade de atender em confissão uma jovem às portas da morte, que suplicava a presença de um sacerdote. O Espírito o conduziu aí. Vemos aqui seu espírito missionário apostólico. Tudo isto na inteira disponibilidade e gratuidade. Era tudo para o povo, por amor ao Reino de Deus.
Sua atenção se voltava sempre para o povo no sentido de valorizar a cada pessoa, dar-lhe espaço para desenvolver e partilhar seus dons em benefício da comunidade. Tão forte foi seu amor ao povo, que reuniu um grupo de mulheres para ajudá-lo no serviço da educação e da catequese, e as denominou “irmãs do povo”. Este grupo se constituiu, mais tarde, na Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas. Queria irmãs igual ao povo em tudo. Um frei de Porto União, dos chamados “Brudas de Porto” - os Irmãos Pobres de São Francisco (assim se chama a Congregação) - me disse que quando duas irmãs, que haviam vestido o hábito, se apresentaram a Frei Polycarpo para mostrar como estavam vestidas agora, ele disse: “Não foi assim que eu pensei as minhas irmãzinhas”. Nos queria igual ao povo também nas vestimentas. Conversando uma vez com nossa querida e saudosa Irma Ede Maria Valandro, ela assim se expressou: “Frei Polycarpo não pensava em fundar uma congregação, ele queria gente para atender o povo na educação, na catequese, na saúde, na liturgia e, principalmente, junto aos pobres e mais necessitados”.
Querido Frei Polycarpo, quanto lhe devemos agradecer por esta semente lançada há mais de 100 anos! Ajuda-nos a entender a sua intuição primeira e a colocar a serviço do povo nossas energias e capacidades. Queremos ser fiéis ao carisma por você pensado e idealizado, que nós conseguimos colocar no papel, depois de muita oração, reflexão e discernimento. Como também agora nesta etapa da nossa história, nos preocupa o ser resposta aos clamores do povo, ser sinal de Deus nesta história, saber atualizar os princípios fundacionais no hoje do nosso chão. Queremos, como você, auscultar o Espírito de Deus e assim ser resposta aos tempos de hoje. Mas, nem sempre vemos claro o caminho que devemos seguir e traçar. Por isso, pedimos sua ajuda e proteção.
Louvamos e agradecemos sua vida e dedicação! Oferecemos a Deus os 80 anos de páscoa definitiva. Também oferecemos todo o seu esforço e empenho em nos “criar” como família religiosa, irmãs do povo e fieis discípulas de Jesus Cristo e de seu Reino.
É um pouco do que queremos viver e celebrar no dia 22 de agosto com nossos sentimentos de alegria, gratidão e súplica, para que sejamos as catequistas franciscanas idealizadas por Polycarpo, porém, sendo resposta inculturada na realidade e nas urgências atuais. “Senhor, em ti confiamos, mostra-nos o caminho a seguir”. Amém.