“A gente se forma como educador permanentemente na prática e na reflexão sobre a prática” (Paulo Freire).

O dia do professor/a no Brasil tem sua origem no período do Império, sendo oficializado em 1963 por meio de decreto federal, que visava promover um dia de solenidades para enaltecer a função do professor/a na sociedade moderna.

Em tempos de obscurantismo, anti-intelectualismo, ataque ao pensamento crítico, perseguição aos professores, desvalorização da carreira docente, de disputas políticas em torno do currículo escolar e dos conteúdos a serem ensinados, de moralização conservadora e de mercadização da educação, perguntamo-nos: qual é a função do professor/a no atual momento da história?  Continua tendo relevância?

Talvez essa resposta se torna possível quando o nosso olhar se foca em pequenas  ações contextualizadas em locais concretos, onde é possível ver  educadores e educadoras incansáveis que, em meio à precariedade da vida e de recursos humanos e financeiros, criam estratégias de resistência aos regimes de padronização e mercantilização da  educação; educadores/as que apostam em práticas inovadoras de ensino-aprendizagem, envolvendo todos os sujeitos da comunidade escolar; educadores/as que criam possibilidades emancipadoras para seus estudantes, ensinando-os a pensar de maneira crítica e a se envolverem em processos de construção de uma sociedade humanizada, sustentável,  justa e plural.

Não é possível imaginar um futuro para a humanidade sem os educadores/as.  Mesmo que facilmente temos acesso às informações e aos conhecimentos científicos por meio da internet, é, ainda, o professor/a quem, por meio de uma relação interativa e dialógica,  ensina a produzir conhecimento, a ler criticamente a realidade social, a exercer a cidadania e  a transformar o mundo em uma “casa” melhor para todos os humanos, independentemente de sua classe, gênero, etnia, cultura...

Ser educador/a hoje requer que se problematize constantemente a própria ação, perguntando-nos que diferença fazemos no cenário da educação, que sujeitos estamos formando: empreendedores e consumidores para o mercado ou cidadãos preparados para assumir o espaço público, promover o bem comum e   transformar a realidade, segundo os princípios éticos e humanos?

Na celebração do dia do professor/a se torna importante evocar Paulo Freire, um dos grandes educadores deste país, cujo legado vem sendo desqualificado pelas forças políticas conservadoras e neoliberais. Nos fragmentos de seu pensamento, abaixo selecionados, pode-se compreender a importância do papel do professor/a em tempos de grandes desafios para a educação. Segundo Paulo Freire:

•  “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”.
• “Transformar a experiência educativa em puro treinamento humano é mesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador.
• “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
• “Não basta saber ler que 'Eva viu a uva'. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”.
• “Ensinar o povo a ver criticamente o mundo é sempre uma prática incômoda para os que fundam os seus poderes sobre a inocência dos explorados”.
• “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.

Essas ideias também são balizadoras para todas nós, Irmãs Catequistas Franciscanas, que temos em nosso DNA a missão de sermos educadoras para a fé e para a cidadania, nos diferentes espaços em que exercemos a nossa missão-diaconia. Assim, diante de uma cultura individualista, centrada no empreendedorismo e na competição, faz-se necessário educar para o conhecimento crítico e para ações humanizadoras, coletivas e solidárias.

Em tempos de acirramento do ódio às diferenças culturais, sexuais, étnicas..., é preciso educar para o respeito aos direitos humanos e para a convivência plural, pacífica e democrática. Em tempos de uma racionalidade técnico-instrumental, focada no lucro e na depredação dos recursos naturais, é urgente educar para o cuidado e defesa da vida e do planeta, começando pelas práticas cotidianas sustentáveis capazes de contagiar e envolver outras pessoas. Em tempos de retrocessos e ameaças aos direitos culturais, sociais, econômicos, políticos e ambientais, conquistados historicamente por meio de luta social, educar para a consciência crítica, para a mobilização e organização e para a resistência ativa e esperançosa, torna-se imprescindível.   

Parabéns a todas as educadoras que fazem de sua ação contextualizada uma ferramenta de resistência e de transformação das pessoas e, consequentemente, da realidade social, pois segundo Paulo Freire, “a educação não transforma o mundo; a educação muda as pessoas e as pessoas mudam o mundo”.