“Ajudar outras pessoas em atitude de partilha

e solidariedade é um dos melhores serviços

que se possa prestar no cuidado à vida...”

Nossa experiência missionária em Morro do Chapéu - Bahia está em sintonia com o objetivo e Linhas Inspiradoras da Congregação, a Espiritualidade Franciscana, as prioridades da Paróquia Nossa Senhora da Graça e Diocese de Irecê e a Missão da Comissão Pastoral da Terra.

Para fortalecer uma Igreja Comunidade de Comunidades, setorizamos a Paróquia, em sete núcleos que os nomeamos setores: em 2018, realizamos visitas missionárias em todas as comunidades Rurais. O tema da nossa Missão é: “Somos uma Igreja em saída Missionária” e olema: “Permanecei em mim para que deis muitos frutos e vos torneis meus Discípulos/as” (Jo 15,4. 8)

Nossa contribuição nesta caminhada se dá na formação das lideranças nos setores da sede e rurais: a Iniciação à Vida Cristã como Inspiração Catecumenal; e acompanhamento e formação dos/as Missionários/as (umas 60 pessoas) que juntos visitamos as pessoas dos Bairros da Sede do Município, nos reunimos e celebramos com elas sua vida. O objetivo principal das visitas é escutar as pessoas. Ouvir seus sofrimentos, dores e Esperanças. Nas avaliações, os missionários/as apontam como positivo: as tantas situações de coragem, luta e esperança que o povo tem para enfrentar a dura realidade do dia a dia.

 Ouve-se depoimentos de missionários/as que dizem: fui para evangelizar, e sai evangelizado/a. E como desafios mais gritantes foram apontados: a Juventude – pobre, negra sem perspectivas sendo exterminada. Quase todo final de semana um ou mais jovens são assassinados. Nas Escolas, alunos/as se auto mutilam... Aumento da pobreza e da fome. Violência doméstica, abuso sexual de menores, gravidez precoce; pessoas doentes, perdendo seus direitos como pensão por doenças, muitas pessoas depressivas...

No processo formativo temos importante colaboração de Irmã Cleide Lazarin na elaboração de subsídios adaptados à realidade do Regional Nordeste 3 (Bahia e Sergipe). Material com encontros e celebrações para: Campanha da Fraternidade, mês da Bíblia e novena de Natal. São três momentos fortes de Evangelização nas comunidades.

Morro do Chapéu é um município em destaque na Chapada Diamantina porque é considerado uma caixa d’Água, para ajudar com suas nascentes e rios as Bacias Hidrográficas: os rios São Francisco e Paraguaçu. Nós nos integramos na campanha de conservação da bacia hidrográfica do Rio Paraguaçu, com a temática: “Raízes que geram Vidas”. Realizamos trabalho de base nas comunidades ribeirinhas dos rios Jacuípe e Utinga afluentes significativos do Paraguaçu. Com as comunidades do Rio Jacuípe realizamos um diagnóstico hídrico e já estamos planejando várias ações que a comunidade pode fazer e outras que precisamos apelar para as políticas públicas. No acompanhamento às comunidades e assentamento às margens do Rio Utinga houveram vários enfrentamentos, manifestações e audiências públicas com as Secretarias do Meio Ambiente, INEMA, IBAMA e com os plantadores de bananas do agronegócio que consomem praticamente toda água para a irrigação, deixando mais de 20 comunidades sem água. Foram conseguidos recursos para criação de viveiros de plantas nativas para reflorestar a mata ciliar e limpeza do Rio.

Outro fator importante que aguça a ganância e traz as grandes empresas para a região é a questão dos Ventos. As pesquisas confirmam que há uma rota que abrange vários municípios em que os ventos são favoráveis à produção de energia eólica nas quatro estações do ano.

Até agora, embora sendo considerada energia limpa foi implantada de forma suja. Pois, implica em impactos ambientais e sociais. Ambientais, porque destrói a mata nativa, acaba com os córregos, rios e nascentes. Expulsa os bichinhos do seu habitat... Sociais: porque há pessoas que foram forçadas e até ameaçadas para assinar o contrato de arrendamento das terras; contratos abusivos. Em caso de descumprimento do contrato por parte do dono da propriedade há multas que chega até 5 milhões de reais. E caso o proprietário da terra queira contestar ou entrar com processo na justiça, os escritórios centrais das empresas estão no Sul do Brasil ou no Exterior.

Morro do Chapéu, por ser uma região fria, o agronegócio também se sente atraído para cá, sobretudo para plantação de morango, uvas, cebola, pimentão, tomate... Para sustentar esta produção, utiliza-se muita água. Abre-se poços artesianos, aplica-se quantias excessivas de agrotóxicos. Algumas comunidades vivem sufocadas e adoecem por causa dos agrotóxicos. Há muitos casos de câncer.

Tendo em vista todas essas situações relacionadas à água e ao Meio Ambiente, em março aconteceu a Audiência Pública das Águas, em Irecê – BA, no auditório da Câmara de Vereadores/as. Foi organizado e realizado pelas pastorais sociais, Instituições, Organizações e Movimentos Populares. Neste dia aconteceu também um ato de solidariedade às vítimas de Brumadinho e em defesa do Rio São Francisco. Com a possibilidade de as águas do São Francisco serem contaminadas com os rejeitos da Barragem de Brumadinho – MG, coloca em risco o abastecimento de água de mais de 360 mil pessoas de 16 cidades da região de Irecê, bem como, da população de toda a bacia hidrográfica do Rio São Francisco.

 Esta audiência fez parte de uma grande mobilização nacional, com atos nas cidades da bacia do Rio São Francisco, Minas Gerais e outras capitais do país. Além da solidariedade aos atingidos/as, a audiência teve como objetivo denunciar a Vale e cobrar das autoridades mais rigor nos processos de fiscalização ambientais e em defesa da vida do Velho Chico (Rio São Francisco). “De certa forma, a bacia do São Francisco já foi afetada, porque o Paraopeba é um afluente do Velho Chico. A preocupação no vale do São Francisco é como essa contaminação, ao longo da bacia, pode gerar mais danos, porque pode afetar o consumo de água e também outras atividades, como a dos pescadores”.

“Senhor tende pena deste povo sofredor,

tem gente que ainda aumenta sua dor...”