É necessário e urgente que avancemos
para águas mais profundas!
(cf. Lc 5,4).
Amazônia: novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral. O Sínodo da Amazônia, que ocorreu de 06 a 27 de outubro, com toda certeza foi um tempo de graça para a igreja na Amazônia, um Kairós para a igreja como um todo. O caminho sinodal percorrido inaugurou um novo tempo eclesial, pois no processo preparatório foram escutados mais de 80.000 pessoas, grupos e comunidades, trazendo as vozes dos povos originários e dos povos amazônicos. Temos aqui uma imensa riqueza e um desafio enorme pela frente, dado a diversidade de realidades neste grande território que compreende a Pan-Amazônia, exigindo respostas diferenciadas nos diversos contextos.
A experiência vivenciada durante a assembleia sinodal foi de escuta, liberdade, corresponsabilidade e compromisso, com os clamores que vêm da terra ferida e dos povos originários e amazônicos. Foram dias de abertura à voz da igreja amazônica e de discernimento comunitário. O Papa Francisco, em sua fala de abertura, convocou a todos a ouvir as novidades que o Espírito inspirava. E lembrou que estávamos reunidos não num parlamento, para defender esta ou aquela ideia, mas para discernir conjuntamente os novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral. Convidou-nos a centrar esforços para não perder este foco.
Os participantes do Sínodo Especial para Amazônia foram convocados e provocados a entrar na dinâmica de abertura, discernimento comunitário e conversão. O Sínodo procurou auscultar o Espírito no clamor do povo amazônico, com suas angústias e alegrias, com seus desafios e esperanças, e construir caminhos de solidariedade e fraternidade para as gerações presentes e futuras.
O documento final apresenta o grande esforço de todos na construção e na busca conjunta de respostas para ser igreja na Amazônia, a partir da convocação “Amazônia: novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral”, com um chamado para a conversão pastoral, cultural, ecológica e sinodal. O Papa Francisco nos convocou, como igreja, a continuar com o espirito sinodal, num processo de conversão pessoal e comunitária, considerando a centralidade do Evangelho, da Boa Nova do Reino e do Bem viver.
Conversão Pastoral: exige de nós, igreja, ter uma atitude de serva e samaritana, “igreja em saída”, que permanece aonde a vida está ameaçada, que vai ao encontro dos que estão nas periferias geográficas, culturais, sociais e existenciais. Temos uma enorme diversidade de realidades, por isso, precisamos ser uma igreja que plasme o seu rosto na Amazônia, com resposta diversificada, para anunciar a boa notícia a todos os povos, em seus contextos próprios.
Conversão Cultural: o território amazônico é diverso e plural. Temos aqui um mosaico de povos, culturas e línguas. Os povos originários e amazônicos nos convocam a uma aliança em defesa da vida, da terra e dos direitos dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, seringueiros, quebradeiras de coco, populações urbanas... A Boa Notícia do Reino de Deus nos surpreende com a novidade das “sementes do Verbo”, presentes desde sempre em meio às culturas e povos. Para isso, a igreja precisa estar aberta para o diálogo ou, quem sabe, ao “poliálogo” intercultural, inter-religioso e ecumênico, como chave de novos caminhos, superando a atitude e o pensamento colonizadores. A igreja é desafiada a fazer um processo de mútuo aprendizado com os povos da Amazônia.
Conversão Ecológica: vivemos uma crise socioambiental sem precedentes na história da humanidade. Amanhã poderá ser tarde demais para fazer algo em defesa da Casa Comum. Os povos originários e amazônicos sofrem ameaças concretas à sua integridade física, cultural e territorial. A defesa da terra e dos povos da Amazônia é a defesa de todo o planeta e de toda a humanidade. A terra é a nossa única morada. Os povos originários e amazônicos foram e continuam sendo guardiões no cuidado da mãe terra e da Casa Comum. Eles sabem como cuidar e proteger a Amazônia. A defesa da Amazônia e de seus povos requer de nós uma profunda e sincera conversão, em nível pessoal, comunitário, social e estrutural. Se não fizermos isso agora, amanhã poderá ser tarde demais!
Conversão à sinodalidade: todos somos convidados a ser uma igreja sinodal, caminhar juntos, buscar respostas conjuntamente para os desafios, numa atitude ministerial de serviço ao povo de Deus, preferencialmente aos mais pobres. A conversão à sinodalidade e à ministerialidade requer desaprender práticas colonizadoras, aprender dos gemidos que ecoam da mãe terra e dos povos originários e amazônicos e reaprender uma nova forma de ser igreja no meio do povo. Nessa conversão, os diversos ministérios como o diaconato de mulheres, a ordenação de homens casados, os agentes pastorais da ecologia e outros necessários para os serviços na igreja, poderão emergir na forma que existiam na igreja nascente, onde não havia nem gregos nem romanos, nem escravos nem livres, nem homens nem mulheres, mas todos eram um em Cristo (cf. Gl 3,28), em condição de equidade e irmandade.
É necessário e urgente que avancemos para águas mais profundas! (cf. Lc 5,4)
Comentários
abraços fraternos a cada irmã indígena, conte com minha sintonia e orações.