"O amor não prende, não aperta, não sufoca.
Porque quando vira nó, já deixou de ser laço."
Mário Quintana
Apesar da luta enfrentada por muitas mulheres, ao longo dos últimos séculos, persiste a cultura machista e preconceituosa, que impede a igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres. Essa cultura, muitas vezes, baseada numa interpretação tendenciosa dos textos bíblicos, leva muitas mulheres a acreditar que devem submeter-se a seus maridos e até suportar “as violências” que eles lhes infligem.
Há poucos meses, o bispo Edir Macedo, fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus, em um vídeo divulgado na internet, disse que a mulher não pode ter mais estudo que o marido. Falou, ainda, que não permitiu que as filhas fizessem faculdade, antes do casamento porque, se elas estudassem e fossem mais inteligentes que os maridos, elas seriam “cabeças” da família o que não serviria à vontade de Deus.
As brasileiras só obtiveram autorização para estudar, em 1827, o que não garantiu para todas o acesso ao estudo. A falta de formação as tornam mais dependentes e submissas. Não significa que uma mulher que tenha estudo, esteja livre da violência. Qualquer mulher pode ser vítima da violência doméstica. Temos o exemplo de Maria da Penha Maia Fernandes, mulher que deu nome à Lei. Ela é farmacêutica, portanto, tem curso superior. Mesmo assim foi agredida e quase morta duas vezes, pelo marido, economista e professor universitário, o colombiano Marco Antônio Heredia Viveros. Contudo, a instrução facilita a independência e a busca de alternativas para se livrar da violência.
A campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres” iniciativa da Organização Mundial das Nações Unidas-ONU é uma atividade que visa conscientizar, expandir o debate e propor medidas de prevenção e combate à violência contra mulheres e meninas.
O dia 25 novembro, Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, foi escolhido em homenagem as irmãs Mirabal, de República Dominicana. Conhecidas como “Las Mariposas”, as irmãs: Pátria, Maria Tereza e Minerva se opuseram, desde muito jovens, ao governo do ditador Rafael Trujillo.
Três mulheres valentes que foram presas várias vezes e, mesmo sabendo das consequências de sua luta, não fraquejaram e doaram a vida em defesa do povo dominicano. Foram cruelmente torturadas e assassinadas em 25 de novembro de 1960. Minerva Mirabal tinha razão quando dizia: “Se me matam, levantarei os braços do túmulo e serei mais forte”. Foi o que aconteceu. Muitas pessoas se comoveram com a morte de “Las Mariposas” e aderiram à luta contra a ditadura trujillista.
O testemunho de coragem e ousadia dessas três heroínas ganhou o mundo, e as transformou em símbolo e inspiração na luta pelo fim da violência contra a mulher.
No Brasil, os índices desta violência são altíssimos. Muitas delas só a percebem quando são agredidas fisicamente. Não se dão conta que, antes da agressão física, já podem ter sofrido outros tipos de violência como a psicológica, sexual, moral ou até patrimonial.
Apesar da violência, muitas delas resistem ao lado do agressor. Em minha experiência como psicóloga no Centro de Defesa da Vida Irmã Hedwiges Rossi, em Duque de Caxias, pude perceber que muitos são os fatores que levam a esta resistência: dependência afetiva, econômica; medo de denunciar e sofrer violência maior; de ser morta caso rompa a relação; de romper o relacionamento e não ser aceita na sociedade, na Igreja; medo de prejudicar os filhos. Existe também o sentimento de vergonha: de admitir a agressão; de procurar ajuda e ser criticada pela família, amigos e vizinhos. Algumas alimentam a esperança de que o parceiro mude o comportamento e, infelizmente existe, muitas vezes, o sentimento de culpa e/ou responsabilidade pelas agressões sofridas.
São muitos e grandes os desafios a serem enfrentados na luta pelo fim da violência contra a mulher. Em primeiro lugar é preciso empatia. Só conseguimos compreender a dor da outra pessoa, quando nos colocamos no seu lugar. Que possamos nos unir a esta causa, ajudando muitas mulheres a ter consciência do seu direito de “viver” em segurança e sem violência.
Comentários
Abraços!