“Povos indígenas na luta pelos territórios. Sementes de vida, resistência e esperança!”
Na história do Brasil, sempre vimos e ouvimos relatos de luta dos povos indígenas pela sua sobrevivência. Tudo começou no trágico dia em que as caravelas, vindas de Portugal, atracaram aqui neste litoral do Brasil. Quanta alegria por descobrirem uma nova terra com futuro promissor! É verdade que encontraram aqui alguns selvícolas, mas nada importantes. Com o passar do tempo, foram expulsando-os para mais longe pois, afinal, os “recém-chegados” haviam descoberto este paraíso e podiam dele desfrutar, com toda certeza e direitos de posse, mesmo passando por cima dos que eram originários e autóctones deste país. Assim iniciou a trágica história dos povos indígenas que, a partir desse instante, perderam sua tranquilidade e bem viver, por terem seus territórios usurpados e suas vidas dizimadas.
Passados 520 anos, a luta desses povos pelo território continua. Foram expulsos de onde já estavam e, por isso mesmo, resistem pela reconquista de seus direitos, para que sejam respeitados e reconhecidos. Afinal, quem são os verdadeiros brasileiros nesta história? Quem verdadeiramente é o invasor?
A vida parece uma ironia. Ainda hoje, esse fato se repete e os indígenas continuam mendigando o que antes já possuíam: seu território original, nosso Tekohá, como dizem os Guarani Kaiowá. Ainda hoje, os povos resistem e pedem a demarcação de seus territórios e exigem o cumprimento da constituição de 1988. Lutam para que essa garantia lhes seja assegurada e reconhecida, pela sua ancestralidade e direitos. Quantas gerações já se passaram e a promessa da demarcação não se cumpre. A luta continua. Por quanto tempo ainda? Muitos morreram sem ver o sonho realizado e sua resistência recompensada.
Os Guarani kaiowá, que são hoje mais de 50 mil indígenas na região do Mato Grosso do Sul, vivem acampados à margem das rodovias, nos fundos de fazenda, aglutinados e confinados em oito grandes reservas e no total descaso da sociedade circundante. Nesta realidade dura e sofrida, o que eles têm para comemorar no dia a eles dedicado? Como cantar a alegria da vida quando ainda estão esquecidos, à mercê do descaso e da exclusão? Que motivação pode animá-los, na atual conjuntura em que se encontram e vivem?
Diante da pandemia do coronavírus, a ordem é “ficar em casa”! Que casa? Podemos dizer que os barracos de lona, à beira das estradas, sujeitos a todo tipo de ataques e expostos às intempéries, podem oferecer proteção e segurança para essas famílias? Sem casa digna, sem água potável, sem material de higiene e limpeza, como cumprir a ordem de cuidados de higiene, recomendada pela OMS? Alimentação... tão escassa e faltando até o mínimo que lhes é destinado por lei. Mesmo assim, não podem sair das aldeias para não se contaminarem.
Esse grupo é de muita vulnerabilidade, com a saúde precária em tempos normais. Imaginemos agora, nesta pandemia... Não há lugar adequado nas aldeias para se protegerem. Numa emergência, a quem recorrer e onde buscar socorro? Os postos de atendimento a indígenas não têm o mínimo de recursos e nem estão preparados para eventual emergência. Se a sociedade não se sensibilizar para esta ajuda, poderá ocorrer um genocídio sem precedentes!
As lideranças afirmam que necessitam de doações de alimentos não perecíveis, produtos de higiene e limpeza, além de recursos financeiros, já que as famílias estão sem sua fonte de renda. Diante disso, os movimentos sociais de Dourados/MS e outras regiões do Estado se mobilizaram e não está faltando solidariedade.
Há campanhas para arrecadação de alimentos, material de higiene e máscaras, bem como encaminhamento para receber benefícios e envolver os órgãos públicos ligados à causa indígena, para dar o atendimento mínimo necessário a esta população. O CIMI (Conselho Indigenista Missionário) tem sido incansável na ajuda, apoio e sensibilização, para aliviar os indígenas, para que não venham a sofrer mais ainda com esta pandemia, cobrando inclusive que os órgãos públicos responsáveis tenham esse olhar diferenciado no cuidado e atendimento a eles.
A congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, sempre atenta às necessidades do povo, assumiu este ano, durante a quaresma, um jejum solidário. “ Vamos fazer o jejum solidário nessa quaresma e partilhar o fruto desse compromisso, para que o povo Guarani e Kaiowá tenha mais vida e força, para continuar lutando pela demarcação de suas terras e pelo direito de viver” (Carta da ministra geral, de 11.02.2020). Com esse gesto, a pequena ajuda das irmãs se soma à ajuda de tantos outros.
No tocante à saúde, ainda nos perguntamos: onde estão as estruturas básicas para atendimento à saúde indígena, neste tempo de pandemia? Até os agentes que atendem o povo não têm a proteção mínima necessária para enfrentar esta situação. O CIMI/MS está trabalhando com um grupo de voluntárias para confeccionar máscaras para os atendentes dos polos da saúde indígena, que estão totalmente desprotegidos. Mas existe uma grande preocupação: caso o vírus venha a atingir esses povos, como serão tratados na atual conjuntura? Em sua maioria, as aldeias estão fechadas, sem permissão para que pessoas saiam ou entrem, de forma a proteger os seus moradores.
Diante de tudo isto, o que se tem a comemorar no Dia dos Povos Indígenas?
Resta-nos refletir e trabalhar para que o direito à terra seja garantido a este povo e, aí sim, podemos dizer que vamos comemorar esta data importante de conquista. Como canta Caetano Veloso: “Amanhã será um lindo dia!” Vamos acreditar e esperar!
Comentários
Obrigada por seu artigo tão verdadeiro e questionador.
Minhas preces a você, as demais Irmãs e aos povos indígenas.
Abraços de Maria Aroní