Sem ar puro e águas limpas, não podemos viver.
Não podemos existir sem as florestas!
No dia vinte e dois de abril, celebramos o dia da Terra. Fazemos memória do quanto necessitamos desta mãe generosa, pródiga e cheia de vida, que precisa ser cuidada e zelada. O dia da Terra representa a luta em defesa da Casa Comum, promovendo a reflexão sobre a importância de uma ecologia integral. “O urgente desafio de proteger a nossa Casa Comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar” (Laudato Si 13).
Os povos amazônicos são guardiões de uma cultura milenar e de um ensinamento sagrado, recebidos dos antepassados ‘a Terra é mãe e ventre de vida’. Crescemos escutando que a terra, o ar, as águas, a floresta, são sagradas e cheias de encantos. Cada ser criado tem seu espírito e sua história, é preciso respeitar a vida presente em cada ser. Temos a responsabilidade de cuidar e amar este imenso território, com suas águas, florestas e fauna, cores, saberes e sabores.
A Terra é como ventre sagrado do Criador, do Grande Espírito, que gera toda a possibilidade de vida que existe nesta Casa Comum. Este ventre sagrado gerou filhos e filhas, que nasceram e cresceram, com a liberdade de escolher ‘a vida ou morte’. Com o passar dos tempos, estes filhos e estas filhas foram se distanciando da fonte da vida e perderam o contato com sua realidade mais profunda, o ser semelhança do Criador de todos os seres viventes.
A Amazônia ardendo em fogo - A Amazônia, maior floresta do mundo, em 2019, perdeu 9.762 km² com os desmatamentos, intensificados com os incêndios criminoso, que registraram, só na Amazônia, 89.178 focos. Como ficaria a Casa Comum se a floresta amazônica desaparecesse? Considerando a depredação de suas florestas essa é uma possibilidade! Teríamos um fim catastrófico, um imenso deserto sem possibilidade de vida, como consequência em todo o mundo.
O ano 2019, foi marcado por intensas queimadas em todo o planeta. Incêndios na Austrália, na California, na Amazônia e no mundo como um todo. Queimavam as entranhas da Terra Mãe, pela ganância de uns poucos, que determinam a miséria de muitos. Nesse período, houve a maior incidência de incêndios na América do Sul em nove anos. Grandes áreas de floresta foram derrubadas para a grilagem de terra e o agronegócio na Região Amazônica. Esses incêndios não são naturais, mas provocados.
No Brasil, os incêndios florestais são politicamente motivados por interesses econômicos escusos. A Amazônia esteve no centro das notícias, pela grande quantidade de fumaça e dióxido de carbono, que transformaram o dia em noite, de tão insuportável foram as queimadas. É desenvolvimento ficar ser ar puro para respirar?
Vimos a Casa Comum agonizando, com falta de ar para respirar... Não nos demos conta dessa agonia e da morte silenciosa da Terra. Muitos de nós assistimos anestesiados pela separação que fazemos da terra e dos filhos e das filhas da terra, “tudo o que fizer à Terra, será feito aos filhos e filhas da Terra”.
A Terra Mãe agonizou. Não havia como respirar, não havia respiradores artificiais para acudir esta grande agonia. Não nos damos conta de tamanha dor. Não choramos pela sua desvalia. A Terra Mãe, silenciosamente e na solidão, viveu esta profunda dor.
O ar é muito precioso para nós, porque insufla seu espírito em todas as coisas e em todos os seres viventes. O sopro vital da vida foi gerado nos interiores dos grandes rochedos e se espalhou por todos os rincões da terra, para que os seres viventes pudessem ter o sopro da vida e o alento dos grandes ventos.
A Terra Mãe viu os ares da vida correr pelos montes e planícies, mares, rios e igarapés, a por cada pedaço escondido das profundezas dessa Casa Comum que habitamos. A vida chegou, trazendo o respiro das manhãs de cada dia que nasce.
A Terra chora... Chegamos em 2020! Agora, a Terra Mãe, sem tantas fumaças, poluições e emissão de dióxido de carbono, chora inconsolavelmente a agonia de tantos filhos e filhas que, sem o sopro vital, o ar que nos dá vida, agonizam em leitos de morte, longe das pessoas que amam. Sofrem a solidão e o silêncio no último respiro de vida.
Estamos estupefatos, com o que ocorre no mundo... um minúsculo vírus, nos leva a repensar tudo o que somos e temos...
O isolamento social a que fomos obrigados, nos forçou a perceber o quão importante e indispensável é o contato com as pessoas, sobretudo com aquelas a quem amamos e nem sempre nos detemos, para sentir o quão importante são em nossa vida.
A dor e a agonia das pessoas infectadas pelo Covid 19 e dor das pessoas que devem se distanciar delas para defender a vida, nos fazem uma interpelação muito grande a valorizar a terra, a água, o ar e as florestas. Quão importante é o ar que respiramos e quão importante é cuidar a Casa Comum!
Impotentes seguimos... Agora nos damos conta, Terra Mãe, do quanto agonizaste e do quanto agonizas, na agonia dos teus filhos e filhas.
Nesta travessia que vivemos agora, abracemos a esperança, que tudo recria e tudo renova. Na espera confiante do grande sopro, criador da vida.
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