Celebramos em 15 de outubro o Dia da Professora/do Professor. Um dia muito especial porque todas/os tivemos uma professora, um professor. Quem não teria nomes de professoras e professores que marcaram algum aspecto de sua vida? Para as Irmãs Catequistas Franciscanas, dia mais especial ainda, porque em nossa origem está essa profissão, hoje tão desvalorizada.
Nossa diaconia foi entendida por muito tempo, como exercício do magistério. Ser Irmã Catequista Franciscana era ser professora. Até hoje há entre nós quem exerça essa profissão. Por isso não poderíamos esquecer de cumprimentar a você, irmã e a todas as pessoas que exerceram ou exercem essa profissão. Parabéns! Você professora, você professor pode transformar vidas! Vocês abrem as janelas do conhecimento, que ampliam os horizontes e contribuem para o empoderamento das pessoas. Nenhuma sociedade pode crescer sem valorizar a educação. Há algo de revolucionário nela, que não podemos perder.
A professora, o professor, ensina para além da sala de aula. É o que podemos perceber no relato da experiência de Jucilene Miranda da Silva, Irmã Catequista Franciscana, professora na cidade de Manaus, AM.
Professora na Pandemia, lutar pela vida!
Ser educadora/ catequista franciscana nesse tempo me fez retornar muitas vezes à fonte, rezar o caminho feito por Amábile, Maria e Liduína, bem como as estratégias utilizadas naquele contexto educacional carregado de desafios.
Na experiência relatada abaixo o que não faltam são desafios, e o primeiro deles é o direito à vida e formas de preservá-la, já que percebemos grupos com interesses diferentes.
A covid 19 chegou e avançou de forma assustadora e, além do medo, angústia, despreparo em relação à doença, uma carga maior foi imposta a nós professores (as), que já vivíamos sobrecarregados com as tantas tarefas próprias da função.
Em 17 de março as escolas foram fechadas, pois a forma recomendada pelos especialistas de prevenir-se do vírus era o isolamento social e, a partir de então esse recolhimento obrigou cada estado a buscar outros meios para que as aulas tivessem continuidade.
Sou professora no estado do Amazonas desde 2012 e a experiência com aulas a distância já era uma realidade desde 2009, de modo especial para atender os cursos tecnológicos. Sem alternativas, na segunda semana o governo lançou o Projeto Aula em Casa usando esse material pronto/ aulas prontas da EAD, para que os estudantes pudessem acompanhar pela TV aberta e outros aplicativos disponibilizados.
Os/ as professores/as procuraram adaptar-se a esse novo modelo, abrindo suas casas, adquirindo equipamentos e reformulando planos. A primeira missão foi localizar esses estudantes via whatsapp, facebook, instagram, contatos dos pais/ responsáveis, enfim sem muito sucesso porque muitos, preocupados com a saúde, buscaram refúgio em outros espaços distante da capital, outros não dispunham desses recursos necessários: celular, computador, TV, etc... e outros aproveitaram da situação para não participar das aulas e não realizar as atividades enviadas pelos professores.
Em abril e maio, muitas mortes causadas pela covid afetaram os lares de nossos estudantes. Várias vezes oferecemos nosso tempo para acolher esses pais e filhos fragilizados que acompanhavam diariamente tantas perdas em Manaus.
Além dessas aulas transmitidas foi lançado o Projeto Merenda em Casa, para levar até as casas dos alunos um kit com alguns itens de alimentação, porém, também não obteve muito sucesso. A intenção era fornecer pelo menos dois kits para cada aluno e até o momento muitos não foram beneficiados sequer com o primeiro.
No início de agosto sem dialogar com os educadores e sindicatos, o governo anunciou o retorno das aulas presenciais para o Ensino Médio, e no prazo de uma semana aconteceria o retorno do ensino fundamental. Foi elaborado um protocolo um tanto frágil com aprovação da vigilância em saúde, colocando em risco a vida dos jovens e servidores.
Com muita resistência, um grupo de professores do Ensino Médio retornou às salas de aula, enquanto outro grupo segue até o momento em greve. Dia 24 de agosto seria a volta do fundamental, porém o secretário de educação alegou que muitas escolas precisariam passar por ajustes exigidos pelo plano de retorno.
Com a volta do Ensino Médio muitos professores foram infectados. A escola passa por uma higienização mas as aulas não param. Depois de muita cobrança os educadores passaram pelo teste rápido oferecido pelo governo do estado e os estudantes de acordo com suas condições pagam por testes particulares.
Atualmente cientistas já declararam que Manaus vive uma segunda onda de covid. Mesmo assim há uma insistência para que o Ensino Fundamental volte a ser presencial. O governador em seu pronunciamento disse: “Não é justo deixar as baladas funcionando e as escolas fechadas”, mas sabemos que esse retorno precipitado servirá para justificar outros interesses.
Preocupados com a preservação de nossas vidas, estudantes e familiares decidimos pela instalação da greve pela vida, com realizações de atos públicos, lives e assembleias para alertar a sociedade em geral, sobre os riscos que corremos ao adentrar esses espaços das escolas, que não foram preparados de forma adequada.
Muitos estados têm demonstrado solidariedade ao Amazonas pela resistência dos educadores que não se renderam a esse protocolo que não deu certo.