Deus chama Abraão para que se ponha a caminho, olhar fixo no céu coalhado de estrelas, o coração colado na esperança de terra, descendência e bênção.
Os profetas são postos no caminho da Aliança: chamados a ser o dedo em riste contra os responsáveis pelas rupturas, mão estendidas para levantar as vítimas da quebra do pacto de fidelidade entre Deus e o seu povo chamado a se colocar no caminho da liberdade. Seu chamado foi caminho de inquietude, indignação, de perseguição quase sempre terminado em morte violenta.
Jesus Cristo enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel (cf. Mt 15,24), que veio para todos tenham vida em abundância (cf. Jo,10,10), se proclamou porta e caminho de vida.
O chamado de Francisco – “Francisco, vai e restaura a minha casa que, como vês, está toda destruída” (LM II,1,3), se tornou caminho de restauração não só para a Igreja, mas para a humanidade. No mundo que vivia dilacerado pelas guerras sangrentas que, sob o título de “santas” escondiam ambição e sede de domínio, ele propõe a volta ao evangelho pela vivência da pobreza como caminho de igualdade de irmãos menores.
Convido a ler o capítulo IV completo do Espelho da Perfeição, do qual aqui transcrevemos uma pequena parte: “Um noviço que sabia ler o saltério, embora não bem, obteve do ministro geral a licença de tê-lo. Mas, como tinha ouvido que o bem-aventurado Francisco não queria que seus frades fossem ávidos de ciência e de livros, não se contentava em possuí-lo sem a licença do bem-aventurado São Francisco. Por isso, quando o bem-aventurado Francisco foi ao lugar onde estava o noviço, ele lhe disse: “Pai, seria uma grande consolação para mim ter um saltério, mas, embora o ministro geral me tenha concedido isso, gostaria de tê-lo com o teu conhecimento”. ... Alguns dias mais tarde, estando o bem-aventurado Francisco sentado junto ao fogo, o mesmo noviço falou-lhe novamente do saltério. E o bem-aventurado Francisco disse-lhe: “Depois que tiveres o saltério, desejarás e quererás ter um breviário. E depois que tiveres o breviário, sentarás na cátedra como um grande prelado e dirás a teu irmão: Traze-me o breviário” ... (EP IV, 1-3.8-9).
Clara provocou uma onda de fúria quando, abandonando a vida rica e nobre abraçou o caminho da pobreza de Nosso Senhor Jesus Cristo. Seus passos, porém, foram seguidos por numerosas jovens de sua mesma condição social, conforme se testemunha na Legenda: “A mãe convidava a filha e a filha convidava a mãe a seguir a Cristo; a irmã seduzia a irmã e a tia as sobrinhas. Todos pretendiam seguir a Cristo em fervorosa emulação. Todos desejavam partilhar desta vida evangélica que o exemplo de Clara inspirava. ... Para que a fonte de bênçãos celestes que rebentou no vale de Espoleto não ficasse reprimida em limites estreitos, quis a divina providência que se transformasse em torrente e com os seus braços alegrasse a cidade de Deus.
Efetivamente, a novidade de acontecimentos tão notáveis espalhou-se por todo o mundo e começou a ganhar almas para Cristo. ...
A fama das suas virtudes enche as mansões das senhoras ilustres, chega ao castelo das duquesas e penetra até no palácio das rainhas. Disposta a seguir o seu exemplo, a nobreza mais insigne troca o orgulho do sangue pela santa humildade. Algumas, dignas de casamento com duques e reis, interpeladas pela mensagem de Clara, decidem-se pela rigorosa penitência e as que haviam casado com senhores poderosos procuravam imitar Clara, conforme o seu estado lhes permitia” (LSC 10,18-20; 11,1-6).
Que a todas, todos que escutamos a voz do Mestre e fomos seduzidas/seduzidos a segui-lo no caminho aberto por Clara e Francisco de Assis, Deus nos ajude para que “com passo ligeiro e pé seguro ... confiantes e alegres avancemos pelo caminho da bem-aventurança (2In12s). “O Senhor que deu o bom começo dê o crescimento e também a perseverança até o fim” (TestC 78).