No mês de novembro, quando celebramos nossos entes queridos que já nos deixaram, somos convidadas, convidados a refletir sobre o significado da morte. Nosso título, é uma frase de uma canção que cantam nossas comunidades.
Num áudio que ele publica diariamente, Frei Adolfo Temme, OFM de Teresina, insere um diálogo entre duas amigas, uma delas cega. A amiga pergunta à cega se ela acredita na vida após a morte. A cega diz que morrer é como passar de um quarto para outro da mesma casa. Só que no quarto para onde vamos depois da morte, será diferente: ela poderá enxergar a luz e toda a beleza. E a amiga também poderá enxergar o que não enxerga por aqui. A visão que ela tem da morte coincide com a do Apocalipse: “Passou a primeira condição...” (Ap 21,4). Jesus, um camponês que entendia de sementes e plantação, de plantas e de frutos, a morte é o início de nossa etapa produtiva: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto” (Jo 12,24-26).
Para Francisco de Assis a morte é irmã pela qual ele louva a Deus: “Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa, a morte corporal, da qual nenhum ser vivente pode escapar” (Cântico do Irmão Sol,12).
Outra fonte biográfica, o Espelho da Perfeição (maior) faz chegar até nós este testemunho: “Quando jazia doente no palácio do bispo de Assis... para consolar seu espírito para que não viesse a desfalecer alguma vez pela veemência das dores que constantemente o atormentavam, o santíssimo pai mandava que seus companheiros cantassem muitas vezes os Louvores do Senhor. Vendo que em tamanha dor o bem-aventurado Francisco assim se confortava e alegrava no Senhor, Frei Elias disse-lhe: “Caríssimo irmão, sinto-me muito consolado e edificado por toda a alegria que manifestas a teus companheiros na tua enfermidade. Mas, embora as pessoas desta cidade te venerem como santo... ouvindo cantar assim, dia e noite, esses Louvores, são capazes de dizer: Como pode ele mostrar tanta alegria, se está para morrer? Deveria antes pensar na morte” ... O bem-aventurado Francisco respondeu-lhe: ... muitas vezes, dia e noite, pensei sobre o meu fim... E logo acrescentou com grande fervor de espírito: “Permite-me, irmão, que, nas minhas enfermidades, eu me alegre no Senhor e nos seus louvores, pois, com a cooperação da graça do Espírito Santo, estou tão unido e ligado ao meu Senhor que, por sua misericórdia, bem posso alegrar-me no Altíssimo” (cf EPM 121).
Clara de Assis sente grande confiança e alegria diante da morte, pois sabe que, depois dela, nada lhe acontecerá de mau: “Voltando-se sobre si mesma, a santa virgem assim falava silenciosamente à sua alma: “Vai em segurança, que boa escolta levas para a viagem. Vai, dizia ela, porque Aquele que te criou, também te santificou. Ele sempre te protegeu como uma mãe ao seu filho e amou-te com ternura. Bendito sejas, Senhor, porque me criaste”. Quando uma irmã lhe perguntou com quem falava, respondeu: “Falo com a minha bendita alma”. Estava próximo o glorioso guia. Com efeito, voltando-se para uma das irmãs, perguntou-lhe: “Filha, vês o Rei da Glória como eu vejo?”. ...
Esta santa alma expirou, para ser coroada com o prêmio eterno, no dia seguinte à festa de São Lourenço. Liberta do templo carnal voou, feliz, em direção às estrelas.
Bendito este êxodo do vale de misérias, que para ela significou a entrada na vida bem-aventurada. Agora, em troca do austero jejum terreno, partilha da mesa dos manjares celestes. Em troca das vestes terrenas, perecíveis como a cinza, é bem-aventurada no reino celeste e revestida com o manto da eterna glória (LSC 46).
Em nossos dias, é certo que tememos a morte que nos espreita em cada esquina, em cada viagem. Independente das circunstâncias em que ela nos venha buscar para levar-nos à Casa do Pai, pedimos que ela nos encontre preparadas/os como encontrou Francisco, da mesma forma que encontrou Clara. Que nossa mãe Clara nos ensine os caminhos da fidelidade ao Evangelho que terminará na porta do paraíso e interceda por nós. “Tu, que foste a primeira entre as senhoras pobres, tu que guiaste à penitência e à vida inumeráveis pessoas, intercede a Cristo por nós” (LSC 48,6).