A miséria humana passa pelo coração de Deus e retorna transformada em salvação. Um débil choro de bebê é o primeiro sinal visível deste acontecer salvífico: “Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado” (Is 9,6). Ainda que esteja destinado a “ter o governo sobre seus ombros”, veio com todas as fragilidades de menino pobre, vindo de uma aldeia insignificante, de um pequeno país onde o povo geme sob o duro pisar da bota imperial. Nossa miséria no coração de Deus se transforma em menino, nada mais que um menino anônimo, nascido em abrigo de pastores e suas ovelhas, na periferia de um periférico povoado.
Francisco é todo ternura e reverência ante tão grande mistério da grandeza infinita que se faz fragilidade absoluta. O presépio, que ele inventou, é representação humana do Mistério Divino, onde o povo é presença eloquente da humildade de nosso Deus: “Celebrava com incrível alegria, mais que todas as outras solenidades, o Natal do Menino Jesus, pois afirmava que era a festa das festas, em que Deus, feito um menino pobrezinho, dependeu de peitos humanos (2Cel 199,1).
Para ele, o Natal era a festa da generosa solidariedade: “Queria que, nesse dia, os pobres e os esfomeados fossem saciados pelos ricos, e que se concedesse uma ração maior e mais feno para os bois e os burros” (2Cel 200,1).
“Pois o bem-aventurado Francisco tinha mais reverência pelo Natal do Senhor que por nenhuma outra solenidade do Senhor, porque, embora em suas outras solenidades o Senhor tenha atuado pela nossa salvação, foi desde que nasceu por nós – como dizia o bem-aventurado Francisco – que teve a oportunidade de nos salvar. Por isso queria que nesse dia todo cristão exultasse no Senhor e por seu amor, pois se entregou por nós, e todas as pessoas fossem generosas com alegria não só com os pobres, mas também com os animais e as aves (CA 14,7-8).
E Clara? Ela vive mergulhada na contemplação da pessoa e projeto de Jesus Cristo para ser fiel seguidora de seus passos. O que a prende sobremaneira é o fato de Ele ter assumido nossa pobreza e fragilidade, em toda sua vida entre nós. O mistério da Encarnação a envolve e enternece. E Deus não é indiferente a tão grande amor. A Legenda nos conta que: “Numa noite de Natal, quando o mundo se alegra com os anjos ante o Menino recém-nascido, as irmãs dirigiram-se todas ao oratório para rezar Matinas, deixando a mãe só, no leito da doença. Então começou a meditar sobre o Mistério do Menino Jesus, com muita pena de não poder participar nos seus louvores. Suspirando, disse: “Senhor Deus eis-me aqui sozinha e abandonada a Ti, neste lugar”. De repente começou a ouvir o canto melodioso que ecoava da Igreja de São Francisco. Ouvindo o alegre salmodiar dos irmãos, seguia a harmonia dos cantores e percebia o som dos instrumentos. Ora a distância entre os dois lugares, não possibilitava tal experiência por meios simplesmente humanos...Mas o que ultrapassa todo este prodígio, é o fato de ela ter visto o próprio presépio do Senhor” (LSC 29,1-10).
A sua amiga Ines ela aponta o mesmo caminho de perfeição, partindo do mistério da encarnação: “Contempla, no princípio deste espelho, a pobreza, pois está colocado no presépio e envolto em paninhos. Oh maravilhosa humildade! Oh admirável pobreza! O Rei dos anjos, o Senhor do Céu e da terra reclinado num presépio!” (4In 19-21).
Que aprendamos da Onipotência que se empequenece e fragiliza para que nos acheguemos confiadamente. Que o Menino de Belém nos fortaleça no ser menor para ser próximas/próximos de quem é último/última e esquecido/esquecida.
E quase fechando a porta de 2022 para abrir a de 2023, cantemos com os Anjos: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra, tão precisada dela. Glória por seu amoroso olhar sempre atento a nossas necessidades; por seu ouvido sempre aberto a nossas queixas e pedidos; por seu materno coração onde sempre encontramos refúgio e consolo, força e direção.
Que em 2023 consigamos escutar mais o silêncio de bosques que crescem do que barulho de árvores que caem; que a Televisão nos mostre mais gestos de solidariedade e irmandade que cenas e notícias de violência e guerra; que em nossos oceanos, rios e todas as fontes de água haja mais peixe e outros seres vivos do que lixo e poluição. E que o povo seja mais sadio e feliz.
Nosso coração agradecido por tudo o que recebemos em 2022 se abre confiante para receber das mãos de Deus a missão que Ele quer nos entregar em 2023.
Obrigada Deus Pai/Mãe por teu amor que nos acompanhou em 2022. Aqui estamos, queremos te escutar. Estamos dispostos e dispostas a receber de tuas mãos tudo o que nos tens reservado para 2023. Que tua Ruah nos conduza, nos aponte os caminhos por onde queres que andemos.
“Vamos louvar e agradecer, com humildade ao Senhor bendizer”!
Feliz 2023!