Fome! Fome! Fome! Fome...
“Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16)
Todos os anos, no tempo da quaresma, período de 40 dias que antecede a Páscoa, a CNBB assume a Campanha da Fraternidade como prática de animar e incentivar a caminhada dos Cristãos, no compromisso com a transformação social, num olhar profético e participativo. Convoca a unirem-se na luta pela defesa dos empobrecidos, com temas que provoca o engajamento do povo, incentivando as comunidades a assumirem suas responsabilidades ante a situação social de exclusão que persiste no Brasil.
Nesta Campanha da Fraternidade de 2023, o tema que interpela a uma conversão pessoal e comunitária é: “Fraternidade e fome”, juntamente com o lema “Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16),
A Campanha da Fraternidade deste ano propõe que voltemos nosso olhar para nossos irmãos afetados pelo flagelo da fome. São, hoje, milhões de pessoas que sofrem e morrem de fome, diante das toneladas de alimentos que se descartam diariamente. A fome é um ato criminoso, frente a alimentação que é um direito inalienável.
A reflexão sobre o tema da fome, proposta durante a quaresma, leva não somente a ações concretas, mas deve despertar em todos a consciência de que o gesto da partilha não se restringe a um momento, a uma campanha, ou em algumas ações pontuais. A partilha, a solidariedade, o compromisso com a garantia de alimentação para todos deve ser uma atitude constante.
Que a tomada de consciência pessoal ressoe em nossas estruturas de Igreja, povo de Deus, e ecoe nos órgãos públicos em nível federal, estadual e municipal, tendo presente que “aqueles que sofrem a miséria não são diferentes de nós. Tem a mesma carne e o mesmo sangue de cada um de nós. Que ninguém seja abandonado e, no nosso mundo, a fraternidade tenha direito à cidadania”.
Atualmente, mais de 33 milhões de brasileiros não têm garantia à alimentação. A fome ainda faz parte da realidade brasileira. Em cada dez lares brasileiros, seis deles são ameaçados pela fome.
“Fome!! Onde está?
Ah, esconde-se entre os pequenos e humildes da terra; aflige a mãe preta, pobre, sem teto, sem emprego; agride e mata a criancinha Yanomami; e tomou a mãe indígena como uma de suas prediletas.
Fome, por que não se lança sobre as mesas dos poderosos? Por que escolhe agredir e fazer adoecer sempre aquelas e aqueles que nada tem?
Fome, você é a soma de todas as maldades, enviada pelas sombras de ódio das classes dominantes; você é a força bruta dos gananciosos, dos tiranos e pervertidos; você é o egoísmo dos ricos vaidosos, que armazenam os bens como fonte de prazer; você é reflexo dos covardes endinheirados, dos escravocratas e racistas; você é a exaltação da política e dos políticos que adoram a prata, o ouro e desprezam a comunhão; você é assassina de aluguel dos empresários e banqueiros afortunados; você é uma serva devastadora comandada por elites brancas e cruéis.” (Roberto Antônio Liebgott)
A fome não é apenas uma tragédia, mas uma vergonha! É provocada por uma distribuição desigual dos frutos da terra, pela falta de investimento no setor agrícola, consequência das mudanças climáticas e do aumento dos conflitos em várias regiões do país.
“Quando partilho o pão com o pobre, sou considerado santo; quando questiono porque há pobreza, sou considerado comunista!” (Dom Helder Câmara)