“A criação é o milagre que Deus nos deu.
Nós não podemos destruir esse milagre”.
Celebrar o Dia Internacional da Agricultura Familiar é bendizer pelas mãos, pés, corpos e almas dos agricultores e agricultoras que como jardineiros e jardineiras dedicados/as, semeiam, adubam, regam, cuidam e colhem alimentos saudáveis que alimentam uma boa parte da sociedade
O dia 25 de julho foi instituído pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) em 2014, com o objetivo de reconhecer o papel e o potencial da agricultura familiar e reafirmar o compromisso de priorizar a luta por políticas públicas e por melhores condições de permanecer no campo, produzindo alimentos saudáveis e de forma sustentável.
Atualmente, a agricultura familiar é importantíssima para o equilíbrio alimentar, principalmente porque o Brasil busca superar as cicatrizes da volta ao Mapa da Fome com mais de 33 milhões de pessoas sem nenhuma refeição diária e mais da metade da população em insegurança alimentar, ou seja, sem ao menos três refeições diárias.
Diante disso, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apresentou e propôs para a Igreja e para a sociedade, a Campanha da Fraternidade 2023 que pela terceira vez reflete o tema “Fraternidade e fome”, e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).
O texto-base da CF 2023 afirma no nº 39 que “a alimentação saudável não pode ser considerada apenas uma questão de solidariedade. Ela é um direito. E, como tal, deve ser garantida pelo Estado a todos os seus cidadãos”. Nesse sentindo, uma grande parte das agricultoras e agricultores familiares não utilizam agrotóxicos em sua produção, garantindo o Cuidado com a nossa Casa Comum. O Brasil enfrenta “intensos ataques ao meio ambiente, às florestas, às águas, às terras indígenas e quilombolas, torna-se questão crucial fortalecer a agricultura familiar para a produção de alimentos saudáveis com respeito à natureza”.
As Pastorais do Campo (Cáritas, Cimi, CPT, CPP, PJR, SPM), a partir das falas das representações de Povos e Comunidades Tradicionais, detectam “os riscos e as ameaças que advêm das ações de mineradoras, do modelo energético (fotovoltaica, eólica, hidrelétrica, nuclear), da pesca predatória, do desmatamento, dos grileiros, dos garimpos, dos impérios do hidro e agronegócio, das corporações e do Estado, prejudicando os modos de vida, a memória ancestral, a relação com a natureza e alterando as práticas cotidianas como o lazer, hábitos alimentares, vida familiar, trabalho e costumes. Enxergando um novo horizonte que se descortina em nosso país, com a mudança de governo e a possibilidade da construção coletiva de dispositivos que melhorem as condições de vida do povo brasileiro, a exemplo da demarcação dos territórios dos povos originários, da titulação das terras quilombolas, do reconhecimento dos territórios pesqueiros, da reforma agrária, do enfretamento ao trabalho análogo a escravidão e, da violência no campo e a preservação da casa comum.
Nas lutas históricas e nas experiências dos povos do campo, das águas e das florestas, encontramos potenciais para superar a fome: a produção de alimentos sadios, as feiras agroecológicas, os mutirões de plantio e colheitas, o cuidado com as sementes crioulas, a preservação das águas, o carinho com a terra e a solidariedade com os mais vulneráveis”.
As mulheres são fundamentais nesse processo, principalmente no protagonismo da produção agroecológica, na conservação e manejo da biodiversidade, com destaque para o resgate e multiplicação da diversidade das sementes crioulas e para a produção nos quintais produtivos. Esses sinais de esperança se unem a uma importante vitória na luta contra a fome e pela segurança alimentar e nutricional do Brasil: o presidente Lula sancionou na última quinta-feira, dia 20, o Projeto de Lei 2920/2023, que institui o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), incluindo a criação de Cozinhas Solidárias.
Além disso, cinco ministérios (Defesa, Educação, Saúde, Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome e Gestão e Inovação em Serviços Públicos) assinaram acordo com o MDA e CONAB para aumentar as compras governamentais da agricultura familiar.
É com grandes passos e pequenas atitudes cotidianas que repetimos o canto de São Francisco, “ Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”. Louvado sejas, meu Senhor, pelas agricultoras e pelos agricultores familiares que resistem no modo de viver em comunhão com a mãe Terra!
Xote Agroecológico (Igor Conde)
Já posso respirar e voltar a plantar
A terra renascendo, brotando sem parar
É Agroecologia e agricultura familiar
Com organização e resistência popular
Cadê o arroz e o feijão? (Plantou e colheu)
E o milho de São João? (Plantou e colheu)
E a agrofloresta como tá? (Plantou e colheu)
Transgênico e veneno desapareceu
Texto elaborado a partir de artigos de sites: CONTAG, CPT Nacional, https://agroecologia.org.br/, Texto-Base CF 2023