Descalçando o Coração na Vivência da Simplicidade!
Ainda respirando Ressurreição e já esperançosas/os com o sopro do Espírito que renova a face da terra (Sl104,30) nesta dança de hoje, solfejaremos algumas notas sobre a simplicidade. Temos consciência de que falar sobre ela não é tão simples, pois ela abrange todas as dimensões do carisma das Imãs Catequistas Franciscanas. Diríamos parafraseando Clarice Lispector, “que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade com muito empenho”. Todavia é encantador e acima de tudo interpelador os testemunhos sobre a sua vivência.
A simplicidade é irmã gêmea da sabedoria, nos diz São Francisco no Elogio às Virtudes (Saudação às Virtudes,1) e recomendava a seus irmãos que praticassem a pura simplicidade, (a humildade, a oração e a pobreza) porque ela é o único caminho que Cristo nos ensinou, tanto com a palavra quanto com o exemplo (cf. 2EP, 72). E o Papa Francisco, como bem sabemos, vem afirmando e testemunhando desde o início de seu pontificado “Uma igreja pobre para os pobres”.
A vivência da simplicidade transparece na vida de nossas primeiras irmãs e em tantas outras. Ela está ali espelhada no dia a dia no modo de viver e no desempenho da missão. A Crônica nos diz que Frei Bruno recomendava “manterem o espírito primitivo da santa simplicidade, modéstia e fervoroso amor à missão”. (Em resposta ao clamor do povo. Valandro Ede, p 184). As nossas constituições confirmam que a simplicidade é característica de nossa origem e que o testemunho dos pobres nos interpela a vivê-la com maior radicalidade (CCGG 6)
A vida simples, sofrida e frugal dos agricultores foi o ambiente e o modo de viver das primeiras irmãs: em casas isoladas como os outros, enfrentando o medo e a insegurança; semelhantes no comer, no vestir, na locomoção, na busca de sustento, contraindo as mesmas doenças e se curando com os mesmos recursos usados pelo povo. Quanto amor, quanta simplicidade e austeridade pessoal em nome da causa e da fé em Deus que as chamara, em Jesus Cristo que entregou a vida pelos seus “ até o fim”.
Alegra-nos também em nossos dias poder contemplar a simplicidade na vida de muitas irmãs e simpatizantes do carisma. A partilha de Irmã Olga Ferreira (91) ao ser convidada a falar sobre a simplicidade é um dos testemunhos: “Simplicidade é não ter ‘dublês’, não ‘esconder’ nada, ser o que realmente se é. É viver com o que é importante e deixar o que não é necessário. O exemplo de simplicidade e humildade de Santa Terezinha do Menino Jesus marcou minha vida. Em seu livro “História de uma Alma” descobri a grandeza de sua simplicidade, amor, entrega total. A simplicidade faz parte de minha vida. Nasci numa família muito simples e cristã (...) A etapa de formação que antecedeu meus primeiros votos (25/12/1951) foi muito simples e quase diria precária, pois necessitávamos trabalhar muito para ajudar na manutenção”. Para ela, a vivência da simplicidade nos abre à itinerância nos dando a consciência de que Deus é quem nos conduz, nos levando a acolher tudo como graça: “Passados vários anos depois da aposentadoria, Deus nas suas imprevisibilidades me chama para a Guatemala, onde partilhei da missão durante 15 anos, mas a abundante graça de Deus nunca me faltou”. Como podemos perceber na conclusão de sua fala, a simplicidade não tem idade para ser vivida: “ Hoje, com meus 91 anos, estou na Casa Mãe, em Rodeio, colaboro nos trabalhos de jardinagem e outros. Faço-os com muita alegria. Procuro também ser elo de unidade e de bem querer. E sinto-me muito feliz”!
Sem dúvida, a simplicidade está muito presente em diversos aspectos do nosso cotidiano. Mas não podemos continuar descalçando nosso coração com mais intensidade? Na vida de nossas primeiras irmãs há um forte chamamento a moderar nosso desejo consumista, a radicalizar a vivência da solidariedade. Há uma clara provocação à itinerância geográfica e do coração; a nos dispormos à pluralidade de culturas e de tempos, para que mais livres, possamos buscar o essencial. (Berri, E. in “ Missão e Diaconia pg. 10/11). De certo modo, não é isto que está nos pedindo o processo de reorganização? A dimensão socioambiental assumida como uma das áreas de nossa atuação é também um convite a aprofundar a força transformadora da simplicidade presente em nossas origens.
A simplicidade ajuda a esvaziar o coração de muitas coisas e ocupações, deixando-nos livres para ir além de nós mesmas, num abraço incondicional à irmandade universal. Só a pessoa simples é capaz de contemplar a beleza de todas as pessoas e de todas as coisas. A simplicidade abre-nos o coração à liturgia da profunda gratidão.
Alguém já dizia A simplicidade nos possibilita sentir a magnífica bênção dos detalhes divinos. Vamos pois, todas/os e cada um/a compartilhar e multiplicar estas bênçãos, intensificando a vivência da simplicidade.
Comentários