"Vivemos no meio do povo como peregrinas, em simplicidade, alegria e coragem. Assumimos a condição dos pobres e, juntos, aprendemos a vivência dos valores evangélicos na construção da justiça e da paz..." (CCGG 29)
Assim, em 09 de setembro do ano de 1991, nós Irmãs Catequistas Franciscanas, atendendo ao pedido de Dom Paulino Fernandes Madeca, Bispo da Diocese de Cabinda, chegamos a esse Território com a presença de três Irmãs: Carmelita Zanella, Maria Esther Giacomet e Vitalina Trentin. Era tempo de guerra... Após várias tentativas, conseguiram chegar, deparando-se com um povo receptivo, acolhedor e, ao mesmo tempo, defensor da sua língua nativa, o Ibinda, e cumpridor das tradições do povo Bantu.
A Província de Cabinda compreende uma pequena porção do antigo Reino do Luango e quase a totalidade dos velhos Reinos do Ngoio e Cacongo. É uma Província separada do restante do País e encravada no Território da República Democrática do Congo. Terra de gente soberana, que sonha e busca sua libertação de Angola. Território dos Bakamas que são grupos culturais com suas crenças próprias. Terras das matas do Maiombe e suas riquezas naturais. Terras de homens e mulheres incansáveis na preservação da beleza de suas culturas. “Terras de Irmã Álcida, nossa intercessora junto a Deus”.
Dom Paulino conheceu o carisma e missão das Irmãs Catequistas Franciscanas através das irmãs que já viviam em Ambriz e Luanda. Cabinda, na época, era uma jovem diocese, sofria carência de missionárias que ajudassem na formação de lideranças, organização da catequese, aulas no seminário, atendimento às comunidades e, até mesmo, para trabalhar na Cúria e secretariado diocesanos.
Nessa realidade cheia de opções, as irmãs foram acolhidas pelas Irmãs de São José de Cluny e Mercedárias da Caridade, que já estavam presentes na diocese. Por um período, ficaram residindo numa casa reabilitada na cidade, pois o desejo de Dom Paulino era que vivessem em Subantando, uma comunidade rural, rodeada por oito aldeias. No entanto, lá não tinha moradia para as irmãs. Em período de guerra, tudo era muito instável. Foi assim que permaneceram na cidade, atuando nos serviços pastorais, conhecendo a realidade através de visitas e convivência. Até que enfim, o povo das comunidades, com ajuda das irmãs, colaboração da Diocese e doações solidárias, construiu a tão esperada casa em Subantando. Essa ficou pronta em agosto do ano 1992.
Em Subantando, permanecemos por 16 anos. Fizeram parte da caminhada também os desafios. Além do trabalho de acompanhamento e formação às comunidades e na educação, foi feito intenso trabalho na área da saúde. Tudo era muito precário! Hoje, Subantando tem escola, estrada, posto de saúde...
Na convivência com jovens formandas, sentiu-se necessidade em deixar esse chão Sagrado, “O PRIMEIRO AMOR”, e partir para outro local mais acessível às escolas e Universidades. Assim, em 2006, fomos residir no Complexo Residencial de Cabassango. Continuamos atuar na pastoral da Paróquia Santos Mártires e comunidades, na Comissão Justiça e Paz, na formação bíblica e catequética, junto à PROMAICA (Promoção da Mulher Angolana na Igreja Católica), na educação sistemática em escolas, na alfabetização de crianças e adultos, no acompanhamento e formação para a Juventude Franciscana, na Cáritas e Promoção humana.
Nesse período de 33 anos, 17 Irmãs somaram nesta missão, sendo elas: Carmelita Zanella, Maria Esther Giacomet, Vitalina Trentin, Antonia Pereira Cruz, Maria das Graças Vieira, Catharina Correa Machado, Guilhermina Heinzem, Miriam Stolf, Olinda Cola, Aurélia Dal Mago, Rosa Germano Julio João, Alfonsina Nzovo, Elizabeth Maria da Silva, Sandra Regina Duarte, Solange Ivonete Schmitt, Maria Ármine Panini, Ana Lúcia Corbani, Terezinha Rinaldi. Além das irmãs, conviveram conosco as Sementes do Carisma (simpatizantes) Jóia Macua e Celina Sebastião, além de várias jovens no processo formativo para serem irmãs catequistas franciscanas.
Devido ao reduzido número de irmãs em Angola, no dia 05 de maio, encerramos esta missão. “A Igreja celebrava o VI domingo do tempo da Páscoa. A paróquia de Santos Mártires acolheu o encantado momento da missa de Ação de Graças pelos 33 anos de missão e envio da irmã Terezinha Rinaldi, que continua sua missão em Luanda. A missa foi presidida pelo padre João de Brito Luemba, o pároco da mesma e concelebrada pelo padre Francisco Nyanje, o vigário paroquial; foi animada pela JUFRA e contou com a participação massiva da comunidade paroquial. Durante a celebração, irmã Terezinha foi presenteada com surpresas excepcionais, onde se viu rostos cheios de alegria e de tristeza, tanto da comunidade, como da Família Franciscana e das Irmãs. Depois da missa, tivemos momento de recreação, relembrando momentos vividos, pois não ficaram para o passado, mas que carregaremos para sempre nas nossas memórias esse tempo de vida missionária das Irmãs Catequistas Franciscanas com o povo Cabindense (Afonso da Era Munto).
Um agradecimento especial à Igreja de Cabinda na pessoa dos bispos Dom Paulino Fernandes Madeca, Dom Filomeno Vieira Dias e o bispo atual, Dom Belmiro Cuica Chissenguete. Gratidão à família dos Religiosos e Religiosas pelas partilhas na missão, pelos inesquecíveis encontros de reflexão, aprofundamento da fé e confraternizações recreativas. Somos gratas ao povo que calorosamente nos acolheu, nos ajudou na vivência dos valores evangélicos a exemplo de Clara e Francisco de Assis. Louvado sejas, meu Senhor, pela boa convivência na vizinhança, pelas sementes que plantamos e pelos saborosos frutos colhidos! Pelas amizades cultivadas, pelas visitas e carinho de nosso Pai Lourenço, Tia Pascoalina, Mamá Teresa, Joana, irmão Moniz e inúmeras jovens... Agradecemos pelas vocacionadas que conviveram e partilharam etapas de suas vidas conosco na descoberta da vocação.
“O Senhor vai acendendo luzes quando vamos precisando delas”. Luzes ficaram em Cabinda, muitas pessoas catequizadas, comunidades que receberam formação bíblica e teológica, jovens e adultos alfabetizados, ambientes transformados pela consciência ecológica adquirida, novo jeito de buscar autonomia das pessoas e, por parte das mulheres, um bonito processo de libertação e empoderamento. E, por fim, como expressão mais bela da vivência do nosso carisma, continua a existência da Família Franciscana - JUFRA e OFS, formando fraternidades em 5 paróquias da Diocese. Que o entusiasmo, a boa energia, a vivência de fé e o compromisso desses jovens continuem levando a alegria, a paz e o bem em todos os caminhos de vivência da Mística Francisclariana.
Matondo, matondo, que Tata Nzambi! Obrigada, obrigada, meu Deus!
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