O texto em questão é um convite à reflexão. Várias são as fontes que compõem as referências do que aqui se traduz, isto é, tem como inspiração principal, Cristo encarnado na existência humana, a vivência de Francisco e Clara de Assis, que no decorrer desses 800 anos, a cada dia nos mostram as marcas que o amor deixou em suas vidas, como também a Encíclica Laudato Si do Papa Francisco, de 2015, e a VI Jornada Mundial dos pobres de 2022. Dessa perspectiva, fazemos uma breve contextualização.
O Dia dos Pobres, celebrado no domingo anterior à festa de Cristo Rei, foi instituído pelo Papa Francisco em 2016. Essa data tem como objetivo, sensibilizar a sociedade para a realidade da pobreza e promover a solidariedade em relação àqueles povos e grupos sociais, espalhados por todo planeta, que vivem em condições de vulnerabilidade. O dia serve como um chamado à ação, refletindo sobre a importância de combater a pobreza ou o empobrecimento, em suas diversas formas.
A pobreza é um fenômeno que permeia a história da humanidade, manifestando-se de diversas maneiras ao longo dos séculos. O contexto histórico do tempo de Jesus, levou a afirmar "sempre tereis pobres entre vós" Mc 14,7. De acordo com o discurso do presidente Luís Inácio Lula da Silva na ONU, em setembro 2024, hoje são 733 milhões de pessoas passando fome no mundo, em pleno século XXI. Segundo dados do Banco Mundial, números equivalentes ao supracitado, ainda vivem com menos de 1,90 dólar por dia. Foi esse contexto que motivou o Papa Francisco a criar o Dia dos Pobres, para trazer à tona essa realidade, enfatizando que a pobreza não é apenas uma questão econômica, mas também uma questão de dignidade humana.
Dessa perspectiva, o dia dos Pobres oferece uma oportunidade para refletirmos sobre a situação dos mais necessitados. É um momento para que as comunidades, em todos os países, se unam na promoção de ações de apoio e solidariedade. A sensibilização é um passo para que a sociedade se comprometa a lutar contra a pobreza e suas causas estruturais.
As ações sociais estimuladas na ocasião da celebração do Dia dos Pobres, frequentemente incluem a realização de eventos de arrecadação de alimentos, roupas e recursos financeiros, além de serviços de saúde e educação. Igrejas, organizações não governamentais e grupos comunitários se mobilizam para atender as necessidades dos mais carentes, promovendo uma cultura de solidariedade e empatia.
Contudo, há urgência de aprofundamento dessas ações em direção ao resgate da dignidade da pessoa humana e efetivação da cidadania planetária. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 - DUDH, os Pactos e Protocolos assinados pelo Brasil, e, hoje, por praticamente todos os países, apontam na direção da inclusão da multiplicidade dos sujeitos de direitos, ou seja, as condições formais estão dadas para o reconhecimento da dignidade humana, que precede a qualquer lei, isto é condição intrínseca ao ser humano.
Para tanto, como afirmou o presidente Lula em 2024, na ONU, é preciso tirar do papel o que está formalizado em relação aos direitos dos povos e na defesa do meio ambiente e retroceder, jamais, no que diz respeito a todas as conquistas da humanidade no reconhecimento e reafirmação da dignidade das pessoas.
Hoje a pobreza é uma questão multifacetada que envolve não apenas a falta de recursos financeiros, mas também a ausência de acesso à educação, saúde e oportunidades de emprego. As desigualdades sociais, raciais e de gênero são fatores que agravam a situação de muitos indivíduos e comunidades. Além disso, crises econômicas, conflitos armados e desastres naturais contribuem para o aumento da pobreza em diversas regiões do mundo. A pandemia do COVID-19, por exemplo, aprofundou as desigualdades existentes e lançou milhões de pessoas na pobreza extrema.
Nesse contexto, as Igrejas, as Congregações, Institutos, as Comunidades desempenham um papel fundamental na luta contra a pobreza. Iniciativas locais podem gerar um impacto significativo, e a colaboração entre diferentes setores da sociedade é essencial. A promoção de políticas públicas que garantam direitos básicos e a inclusão social é igualmente importante. A mensagem do Dia dos Pobres reforça a importância de olhar para o próximo e agir. A solidariedade deve ser uma prática diária, um valor inegociável, não apenas em datas específicas. O engajamento contínuo é necessário para construir um futuro melhor para todos.
Frente ao exposto, à luz do Carisma das Irmãs Catequistas Franciscanas, dos apelos fundantes da Congregação “... os pequeninos pedem pão, e ninguém lhes dá” Lamentações (4, 4), aproveitemos a celebração do dia mundial dos pobres de 2024 para reafirmar nosso compromisso libertador contra todo fascismo camuflado de um discurso religioso, farisaico, extremista e intolerante, fazendo jus à memória das três primeiras e de todas as irmãs que nos precederam na luta por um mundo de irmãos e irmãs.
O Dia dos Pobres é mais do que uma data no calendário; é um chamado à ação e à reflexão. Ao celebrá-lo, somos convidados a reconhecer a dignidade de cada ser humano e a nos comprometer com a construção de uma sociedade mais justa e solidária. É um lembrete de que a luta contra a pobreza é uma responsabilidade coletiva, que requer o envolvimento de todos, todas e todes. Ao agir em prol dos mais necessitados, contribuímos para um mundo onde a dignidade humana seja realmente respeitada e promovida.