Acordava ainda no escuro,
como se ouvisse o sol chegando
atrás das beiradas da noite.
E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia.
Delicado traço cor da luz,
que ela ia passando entre os fios estendidos,
Enquanto lá fora a claridade
da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs
iam tecendo, hora a hora,
em longo tapete que nunca acabava...
A moça tecelã (COLASANTI, 2004)
Escolhi este texto como epígrafe de minha tese doutoral, devido à motivação que a obra da escritora Marina Colasanti desencadeou no exercício da minha escrita. Escrever, assim como o trabalho da tecelã, exige foco, escolha e encadeamento entre as palavras, para então formar a rede de ideias a serem transmitidas ao leitor. Nem sempre as condições são propícias para um tear tranquilo – assim como a produção da tese, que foi tecida em momentos permeados de grandes acontecimentos em nível mundial, familiar e pessoal.
A pesquisa, que tem como título “Narrativas de professores (as) indígenas sobre suas práticas pedagógicas em escolas de São Gabriel da Cachoeira - Amazonas”, é resultado do curso de doutorado em Educação, realizado pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), campus de São Leopoldo, RS.
Elaborar essa tese foi um desafio duplo a que me propus: o de apresentar a educação escolar em contexto fronteiriço e, ao mesmo tempo, fazer um investimento em minha formação pessoal, objetivando uma maior inserção social – como mulher, religiosa, educadora, negra, indígena – humanizada e aberta aos novos conhecimentos, saberes e contextos que são produzidos.
Entendendo que as práticas pedagógicas dialogam, utilizei o termo “tecituras” para reunir as experiências da pesquisadora e dos professores participantes da pesquisa como contribuição para o campo educacional. Assim, diálogo com professores, questionário, observação participante, rodas de conversa e fotografias fizeram parte da metodologia desenvolvida e aplicada.
O termo tecitura é assim definido no dicionário Houaiss: “A reunião dos fios que se atravessam no tear (urdidura). [Por Extensão] que se encontra arranjado; estrutura”. Ou seja, tecitura remete a uma trama de fios e tecidos: a maneira como o tear produz uma realidade nova, ao mesclar cores, texturas, experiências. No contexto regional em que o estudo ocorreu, são comuns diversas práticas e técnicas de artesanato. Trançar fios, linhas, cordas é uma prática ancestral de artesanato. A partir de então, essa prática como alegoria, foi assumida como fio condutor da tese que contém seis capítulos e, em breve, estará à disposição para apreciação de todas/os.
Dia 29 de setembro, protegida pelos arcanjos, apresentei a produção para a banca avaliadora que a considerou aprovada. Agradeço todas as manifestações de carinho e cuidado nesse processo delicado, exigente e necessário.

