Francisco, Clara, venham caminhar conosco. Queremos andar seus caminhos de amor, de cuidado, de vida.
Nesta parte do Brasil, o Sul, por onde quer que nos voltemos, onde quer que olhemos, há exuberância, muito verde, cores vistosas... Há ninhos com filhotes, pássaros pais e mães vigilantes e cuidadosos, perfume-promessa de frutos abundantes... É a primavera no seu esplendor vestindo de gala a natureza, esbanjando viço, perfume e colorido... A terra generosa abre seu ventre em resposta à mão que a afaga e a fecunda com alimento e beleza. Os pássaros, sabendo respeitados seus ninhos e filhotes, respondem com alegres trinados e múltiplas cores.
Impossível não imaginar Francisco que se alegra com tanto milagre. Dá para ouvi-lo cantar: Louvado sejas meu, meu Senhor, pela força de vida com que dotaste a mãe terra. Louvado sejas pela beleza, reflexo do esplendor que enche tua morada. Louvado sejas pela resposta generosa das criaturas ao amor do ser humano, ao bom trato que lhes dispensa.
Um dos biógrafos nos faz chegar este retrato:
“Todo absorto no amor de Deus, o bem-aventurado Francisco vislumbrava perfeitamente a bondade de Deus não só na sua alma, já ornada com toda a perfeição das virtudes, mas também em qualquer criatura. Por isso, dedicava especial e entranhado amor às criaturas, sobretudo às em que via algo referente a Deus ou à religião.
Então, entre todas as aves, amava mais um passarinho chamado cotovia, vulgarmente chamada cotovia de capuz. Dela dizia: “A Irmã cotovia tem um capuz como os religiosos e é uma ave humilde, porque vai de bom grado pelo caminho à procura de alguns grãos e, mesmo que os encontre no esterco, retira-os e come. Voando, louva o Senhor muito suavemente, como os bons religiosos que desprezam as coisas terrenas, cuja morada está sempre nos céus e a intenção é sempre o louvor de Deus. Sua veste, isto é, as penas, assemelha-se à terra e dá exemplo aos religiosos, que não devem ter vestes delicadas e coloridas, mas baratas e cor de terra, que é mais humilde que os outros elementos”.
E porque via nelas tudo isso, gostava muito de olhá-las. Por isso, aprouve ao Senhor que os passarinhos dessem um sinal de seu amor por ele na hora de sua morte. No sábado à tarde, depois das Vésperas, antes da noite em que migrou para o Senhor, grande multidão dessas aves, chamadas cotovias, reuniu-se sobre o telhado da casa em que ele jazia e, voando um pouco, faziam um círculo ao redor do telhado e, cantando docemente, pareciam louvar o Senhor” (EP (maior) 113).
O amor de Clara pelas criaturas de Deus se centrava sobretudo nas pessoas que ela ajudava a viver bem, com saúde, como saíram das mãos do Criador. Sempre movida por grande compaixão, transmitia força de vida a quem sofria de alguma enfermidade e as pessoas ficavam curadas. Era a força do seu amor, transmitida pelo sinal do amor redentor de Cristo, que passava saúde e vida nova. Entre os inúmeros benefícios que realizou para devolver a saúde aos enfermos, figuram estes:
“Um menino de três anos, de nome Matias e natural de Espoleto era vítima de uma pedrinha que tinha introduzido no nariz. Não havia maneira de sair, nem o pequeno tinha forças para a expelir. É nesta situação aflitiva que é levado a Santa Clara. E no momento que é assinalado com o sinal da cruz, de repente, a pedrinha cai-lhe e o pequeno fica tranquilo.
Um outro garoto de Perúsia, foi conduzido à serva de Deus com uma vista obstruída por uma ferida. Depois de palpar a vista do menino, a serva de Deus traçou sobre ele o sinal da cruz e disse: “Leva-o a minha mãe para que ela o assinale também com o sinal da cruz”. Devo esclarecer que a mãe, Hortolana, seguindo o exemplo da filha, ingressou na vida religiosa e, longe do mundo, como viúva, servia o Senhor. Logo que ela traçou a cruz sobre o menino, a vista ficou-lhe limpa e começou a ver clara e distintamente ...” (LSC 33-34).
Francisco, Clara, o mundo precisa do amor, do cuidado pela vida tão vilipendiada, sobretudo nos seres mais frágeis que não têm como se defender. Este mesmo amor que ambos dispensaram ao pássaro, ao vermezinho, à planta, à água cantante, ao fogo ardente, ao leproso, aos irmãos e irmãs...
Precisamos de seu carinho, de sua fé na maior prova de amor dada somente pelo Homem-Deus, precisamos de sua poesia-ação promotora e defensora da vida.
Clara, Francisco, alcancem-nos da Divina Fonte a água pura do Amor que defende, que salva, cura e devolve a alegria de viver. Ajudem-nos a ver em cada criatura o reflexo do Criador para que também nós tenhamos com cada uma, aquele cuidado que vibrava em seu coração, que movia seus passos e suas mãos.
Alcancem-nos o mesmo ouvido afinado com o cântico de cada ser; que possamos cantar e não fazer calar; que saibamos ouvir os lamentos e os apelos da mãe terra e de toda a vida ameaçada. Façam-nos instrumentos de defesa e promoção da vida, façam-nos cantores da vida intensa e formosa como saiu da amorosa mão do Criador.
Francisco, Clara, venham caminhar conosco. Queremos andar seus caminhos de amor, de cuidado, de vida.

