Dentro de um silêncio muito profundo, está passando o dia 24 de julho. Certamente, muitas pessoas estão se lembrando que em um dia como hoje, em 1985, tombou por terra o corpo e silenciou a voz do jovem, padre, italiano, missionário comboniano, Ezequiel Ramin. Tombado e silenciado por defender a vida e uma terra sem cercas para os pequenos. Sua entrega foi plena pela causa dos pobres – indígenas e sem terra – pela causa do Evangelho, pela causa do Reino anunciado e inaugurado por Jesus de Nazaré.
O tempo do padre Ezequiel, nesta terra, foi como no tempo de Jesus e no tempo dos profetas. Ele veio para o Brasil, em missão de paz, e uma paz libertadora precedida de justiça transformadora em favor dos pobres. Foi a voz que ressoou em um deserto verde, de uma Amazônia-mãe, bendita e martirizada pela ganância e exploração dos ídolos do capital. Um “deserto” de poucas vozes proféticas. Sua voz era de anúncio e de denúncia, por estar em uma Diocese que nasceu com esta vocação profética. Uma Igreja pastora, zelosa e protetora do rebanho, contra os “lobos” ferozes.
Sem dúvidas, o Padre Ezequiel era um amante e apaixonado pela terra. Tanto é verdadeiro esse pensamento, que seu corpo permaneceu desde o meio dia do dia 24 até quase o meio dia do dia 25 de julho, estendido sobre a terra. Terra dos sonhos daquele jovem missionário que quis vir para o Brasil; terra da Amazônia brasileira; terra que já havia provado sangue e suor de muita gente. E foi esta terra, com sua floresta que testemunhou, acolheu e guardou o seu corpo até ser resgatado e trazido para a casa do então Bispo Diocesano, Dom Antonio Possamai. A terra é sempre a primeira a testemunhar e beber o sangue dos mártires. Também um dia, em Jerusalém, a terra foi a primeira a comungar o sangue do Profeta-Filho, Jesus Nazareno.
O padre Ezequiel, foi o primeiro mártir da diocese de Ji-Paraná, depois dele, foi assassinado em 1987, o Ir. Vicente Cañas, missionário espanhol, que trabalhava com os povos indígenas em Aripuanã – MT, que, na época, também pertencia à Diocese. Tanto um quanto o outro devem permanecer em nossa caminhada pastoral e em nossa militância social e política. É lamentável perceber que nossas gerações mais novas não tenham conhecimento dessa história. Será que nossos mártires não tem espaços em nossos espaços? Por que?
Nossa Igreja tem origem “martirial”. Esquecer o martírio é ignorar nossa origem de fé. “Esquecê-los” também, vai agradar os “lobos”, pois eles não se sentirão incomodados e vão exigindo uma Igreja ao seu modo, que fale apenas o que eles querem ouvir.
A lembrança e a memória dos mártires em nossa caminhada de Igreja Latino-Americana, na Amazônia, não só reforça o anúncio do Reino de Deus, mas apressa sua chegada. Fazer memória aos mártires é mais do que somente lembrá-los ou recitá-los, mas é ter a coragem de dizer o porquê da sua morte e de dizer que é este o caminho deixado por Jesus Cristo.
Padre Ezequiel, Ir Vicente, Chico Mendes, Ir Creuza, Ir Doroth, vítimas de Corumbiara, Vítimas de Eldorado dos Carajás...e mártires da Amazônia, Roguem por nós!
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