A primavera, em determinadas regiões, caracteriza-se como estação florida, cheia de encantos e divinal fulgor! Primavera tem a ver com novas paisagens, intensidade de processos sutis, que agora fazem revelações bonitas. Primavera tem a ver com gorjeios de pássaros já ao alvorecer do dia e, também ao entardecer. A bela estação tem tudo a ver com novos ritmos e novas brisas. É como se uma rajada de ar fresco atravessasse todos os vitrais de nossa terra, embora Rubem Alves afirme que falta à primavera uma gota de nostalgia, como nas obras de arte...
Primavera tem a ver com o tempo, com espaços! É nova estação do ano! Mas a primavera compreendida na perspectiva da complexidade e da interdependência, num mundo onde os seres e fenômenos estão interligados por dinâmicas de simultaneidade e de auto-organização, revela outras tantas possibilidades e surpresas. O sol e a lua, o cedro e a pequenina flor, a águia e o camaleão, o espetáculo de sua múltipla diversidade e desigualdade, nos fala de que nenhuma criatura é autossuficiente. Os novos brotos e florações surgem como consequência de infinitos e intensos processos relacionados.
O mundo mudou! Uma rede de processos cósmicos proporciona-nos olhares e vitrais bem mais amplos. Desperta e aspira novas possibilidades! Surpreendentemente, uma primavera de movimentos, de fervilhar de desejos chegou ao Brasil no inverno! Isto nos lembra a imagem do poeta “Frio ou escuro, pode ser que seja. Isto porém, não é um inverno”! Importante é acreditar na luz, à noite! Rachaduras e descongelamentos acontecem e a primavera se anuncia!
Quando os tempos e espaços se dilatam, novas perspectivas se abrem para a história. Em âmbitos da história sócio-política e religiosa, ocorrem de forma inédita, e até inesperada, a partir da intensidade e dos sonhos, fenômenos e processos convergentes. Podemos falar de uma primavera com cara de junho! Em lugar da dinâmica linear dos fatos, temos processos de sincronia, dissonâncias, interdependência e reciprocidade. Isto se constitui em boa notícia!
Movendo-os para a esfera religiosa, encontramos os discípulos de Emaús, que decidiram voltar a Jerusalém, mesmo sendo noite... Estes peregrinos/as haviam hospedado, novamente, dentro de si o novo tempo, o novo sonho da vida! Seus olhos já não estavam mais pesados, mesmo que se movendo em meio ao escuro da noite. A primavera os habitava e florescia novamente! Primavera é também uma nova ousadia. É trilhar caminhos alternativos, gerando novas visibilidades!
Já antes, as mulheres da manhã da Páscoa, ousaram correr atrás do sonho, quando ainda era escuro e a luz matutina ainda não havia pronunciado nenhuma palavra. Vencendo o luto, elas inauguraram na história a primavera que nunca conhecerá ocaso!
A dinâmica da vida e da história presenteia-nos com inúmeras expressões e intuições de novo tempo, mais do que com uma preservação lógica das coisas. Perpassa o cosmos e a vida, na bela expressão de Swimme y Berry, “uma tendência desenfreada pelo novo!”
F e l i z P r i m a v e r a !