Nós, Quilombolas e Indígenas do Maranhão, reunidos nos dias 12,13 e 14 de novembro de 2013 no I Encontro de Indígenas e Quilombolas do Maranhão, no Centro Diocesano de Mangabeira, município de Santa Helena Diocese de Pinheiro – Maranhão, compartilhamos nossa alegria de viver, denunciamos as injustiças e anunciamos um novo tempo de luta e resistência.
Indígenas dos povos Krikati, Pykobjê – Gavião, Krenyê, Tenetehara/Guajajara, krepumkatjê, Movimento Quilombola do Maranhão (Moquibom) e comunidades quilombolas do Tocantins, Amapá, Rondônia, Pará, Mato Grosso e Minas Gerais, Conselho Indigenista Missionário – CIMI, Comissão Pastoral da Terra – CPT, Universidade Federal do Maranhão – UFMA, Justiça nos Trilhos, Cáritas, CSP-Conlutas, entre outras entidades de apoio à luta dos povos indígenas e quilombolas, refletimos, cantamos, dançamos e decidimos que o momento é união de experiências, de união de forças para denunciar as constantes violações aos nossos direitos, as constantes perseguições às nossas lideranças, a persistência do racismo e da discriminação ao nosso jeito de viver, de sentir, de pensar, de se expressar.
Com nossa cantoria e o toque do tambor, no gingado da nossa dança reafirmamos nossa identidade quilombola. Com nossos maracás e nossos pés batendo forte no chão anunciamos que somos povos indígenas desta terra e é nosso esse espaço. Trocamos experiências de resistência; compartilhamos nossa dor pela constante discriminação que sofremos pela sociedade, pela violência e criminalização de nossos movimentos e prosseguimento do genocídio de nossos povos. Conhecemos a forma de viver e de celebrar de cada povo; cantamos em nosso própria língua a história de nossos antepassados e por eles e por nossos filhos e netos que virão, reafirmamos nossas identidades. O tambor e o maracá soaram em conjunto o anúncio de novos tempos de resistência e certamente o fogo aceso será sinal de celebração de novas conquistas.
Nós, lideranças indígenas e quilombolas denunciamos as constantes invasões de madeireiros e os ataques de ruralistas, mineradoras, de forças armadas e do agronegócio que querem tomar e mercantilizar nossos territórios. Repudiamos a constante tentativa de cooptação de lideranças de nossos movimentos através de políticas compensatórias ilusórias e da sedução do dinheiro e do poder que dividem e trazem conflitos enfraquecendo a resistência.
Denunciamos a tentativa de aprovação de leis que ameaçam retirar direitos historicamente conquistados. Mostra-se vil a união do governo e dos deputados com o aval do judiciário em prol de uma proposta de crescimento econômico à custa do sangue dos nossos povos, da vida dos nossos rios e das nossas matas.
A participação e compromisso da juventude de nossos povos neste encontro anuncia que a resistência se renova à luz da sabedoria de nossos ancestrais e da experiência de nossos guerreiros e guerreiras apontando para um tempo de luta e de conquistas que será celebrado sobre o chão dos nossos territórios, sob a sombra de nossas árvores, ao som dos nossos maracás e tambores, cantando nas diversas línguas a chegada de uma nova era.
Santa Helena-Maranhão, 14 de novembro de 2013