Neste ano a Semana dos Povos Indígenas tem como tema “Povos Indígenas: migrações forçadas, exilados na própria terra”. A partir deste enfoque o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) quer contribuir com o debate da Campanha da Fraternidade 2014, sobre o tráfico de seres humanos, trazendo presente as especificidades dos rostos sofridos dos indígenas do país.
Assim descreve o texto base do Cimi: “Entendemos que a exploração das pessoas pelo sistema capitalista de produção que força êxodos é também uma forma de tráfico que precisa ser denunciada e combatida”.
Olhando para a história dos povos indígenas constata-se que a violência que padecem hoje tem raízes históricas. Muitos grupos tinham suas crianças raptadas para serem criadas por famílias não indígenas; comunidades tinham muitos integrantes aprisionados e utilizados como escravos nas chamadas “guerras justas”. Mulheres indígenas também eram violentadas e utilizadas como escravas em famílias não indígenas.
Se olharmos o contexto atual, vemos que a violência se repete em muitas situações. Muitos povos sofrem sem as condições dignas de vida, são obrigados a migrações forçadas, a trabalhos em condição de escravos, submetidos à imposição de valores e costumes que não são da própria cultura.
Para o teólogo Paulo Suess, a migração nos coloca num campo de conflito entre dois projetos de vida incompatíveis: o projeto do sistema capitalista e o projeto de vida do Reino de Deus. No primeiro, poucos têm lugar e são os que se beneficiam pela acumulação de bens e lucros, pelo consumo e crescimento além das possibilidades da mãe Terra.
O projeto do Reino de Deus visa o “Bem Viver” de todas as pessoas e seres, a redistribuição dos bens, o reconhecimento da alteridade e da justiça maior. “Neste projeto não existem estrangeiros, todos são parentes (...). O sofrimento dos confins do mundo repercute no coração e no lugar de cada um”.
Buscando respostas
Os indígenas enfrentam os projetos de morte com muita resistência, persistência e garra. A defesa da vida comunitária é um enfrentamento ao individualismo que faz das pessoas consumidoras, valorizando apenas seu potencial de consumo e produção. Viver comunitariamente já é sinal de que é possível outro projeto de vida e de sociedade.
Igualmente, a defesa da natureza é um projeto de vida completo, que vai além do não derrubar árvores e de reciclar o lixo. Gente e natureza são partes de um mesmo projeto, daí o respeito e a busca de relações harmoniosas com toda criação.
Em outro campo, temos a luta por seus direitos constitucionais. Algumas conquistas têm levado os povos a se manterem firmes nesta busca. É o caso do advogado terena e assessor jurídico do Cimi, Luiz Henrique Eloy. Ele foi o primeiro a defender uma dissertação de mestrado dentro de área de retomada indígena. No dia 13 de março, apresentou seu trabalho na “Retomada Esperança”, onde estão acampadas, desde junho de 2013, cerca de 300 famílias do povo Terena. O local fica próximo ao município de Aquidauana, em Mato Grosso do Sul.
O trabalho, intitulado “Poké'exa ûti – O território indígena como direito fundamental para o etnodesenvolvimento local”, abrange questões sobre a demarcação de terras indígenas e os entraves jurídicos, principalmente em áreas Terena do estado.
A Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) sofreu pressões de ruralistas contrários à defesa do trabalho no local de retomada. Eloy destacou: “Creio que foi a melhor coisa que aconteceu, pois primeiro eu apresentei para minha comunidade, que aprovou o trabalho e, no dia 20 de março, a universidade ratificou essa decisão”.
São sinais de que a vida segue, as estratégias dos povos continuam vivas e seu potencial de luta, atuante. Caminhamos na esperança, na certeza de que a liberdade e a justiça serão realidade para todos esses povos sofridos!