Erwin Kraütler há alguns meses conhecido em todo o mundo como o colaborador do Papa Francisco para a próxima encíclica sobre os pobres e a criação, manteve sua promessa. Apesar de ter completado 75 anos, em 12 de julho, seu compromisso em favor de sua gente no Brasil parece ter encontrado um novo impulso e novas forças. A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada por Vatican Insider, 21-07-2014. A tradução é do Cepat.
Ainda bispo da prelazia de Xingu (até a nomeação de seu sucessor) e presidente do Conselho Indigenista Missionário(CIMI), Kräutler participou, como apontou a página web do episcopado brasileiro, da apresentação do relatório “A violência contra as populações indígenas no Brasil - 2013”, por ocasião da Conferência Nacional dos Bispos, realizada na capital, na semana passada.
Segundo o religioso, na atualidade, a sobrevivência física e cultural dos indígenas “está ameaçada”, pois, quando se nega o direito das populações indígenas à existência, verifica-se uma autêntica “agressão, inclusive contra a própria nação brasileira”.
Citando o documento da Conferência dos Bispos Latino-Americanos de Aparecida (que no parágrafo 65, a respeito da exclusão social, adverte: “Os excluídos não são apenas ‘explorados’, mas também ‘sobrantes’ e ‘descartáveis’”), o bispo Kräutler apontou que a atual sociedade brasileira é “anti-indígena”, porque acaba por marginalizá-los: “Os indígenas têm uma maneira de viver diferente, de considerar a vida, possuem outra forma de organizar seu trabalho, tem sua cultura, sua língua, mas devem desfrutar todos os direitos, porque, além do mais, são eles os primeiros habitantes desta terra”.
Segundo o documento apresentado em Brasília, são mais de 12.000 indígenas os que sofrem racismo, ameaças, abusos de poder ou que são assassinados por omissões das autoridades. Em todo o país, em 2013, registraram-se 97 casos de violência contra o patrimônio destas populações (violação de terras, invasão de propriedade, exploração ilegal de recursos naturais e atrasos na regularização dos contratos agrários).
O denominador comum é a falta de uma clara delimitação das áreas que pertencem aos indígenas, destacou o bispo, que não duvidou em denunciar com firmeza a violação da disposição constitucional de 1988, sobre a delimitação dos territórios, que deveria ter se cristalizado nos fatos, após vinte e cinco anos da promulgação da Constituição.
Parece que só se cumpriu em parte, porque, segundo aponta o relatório, no último ano foram preparados apenas 11 documentos a esse respeito.
“Para nós, desenvolvimento e progresso deveriam significar uma maior qualidade de vida, mas não apenas para alguns brasileiros, mas, sim, para todo o Brasil, em especial para as populações indígenas que representam os segmentos da sociedade mais marginalizados de hoje, em termos de saúde, instrução, transportes, moradia e segurança pública”.
Enquanto isso, explicou Kräutler, há uma restrita “minoria que está aumentando o próprio patrimônio”.
Há um mês, a Igreja no Brasil lançou uma nova chamada pela Amazônia, devido às políticas de exploração dos recursos naturais. A advertência surgiu na província septentrional de Roraima, na fronteira com Guiana e Venezuela. Este documento tem a assinatura do bispo Roque Paloschi e se intitula “Mineração e Hidrelétricas em Terras Indígenas”. Nele são descritos dezenas de projetos, bem conhecidos pelo bispo Kräutler, de represas hidrelétricas de médias e pequenas dimensões que obstruem os afluentes do Amazonas e que terão gravíssimas consequências na vida das comunidades indígenas.