AS IRMÃS CATEQUISTAS FRANCISCANAS EM RONDÔNIA
As Irmãs Catequistas Franciscanas chegaram ao Território de Rondônia, em 15 de Agosto de 1969, respondendo ao apelo de D. João Batista Costa para ajudar a Igreja na organização das comunidades, formação de lideranças e da catequese. Imbuídas do espírito do modelo, pela ação missionária da Igreja descrita pelo concilio Vaticano II, e pelo entusiasmo missionário da própria Congregação ao chegar nestas terras se colocam, em primeiro lugar numa atitude de escuta, para depois começar a responder aos clamores da realidade. Foi com esse objetivo que as irmãs da Província Imaculado Coração de Maria resolveram estender sua atuação para além do Estado de Santa Catarina. A cidade de Porto Velho foi o berço que acolheu as primeiras missionárias Catequistas. A primeira residência das três irmãs que aqui chegaram durante um pequeno período foi com as Irmãs Salesianas no Colégio Maria Auxiliadora e em seguida as irmãs foram morar nas dependências da Igreja São Francisco de Assis perto da Catedral de Porto Velho.
O planejamento das atividades das irmãs se embasa no conhecimento da realidade local para não “incorrer no erro de implantar uma mentalidade sulista, fora da realidade”. Com estes conhecimentos, e ouvindo os apelos da realidade, as irmãs, colocam em prática as decisões do Capítulo Geral de 1968, o de “estar com o povo, inseridas nas comunidades, marcando presença entre os pobres”.
Tendo sempre presente os apelos do capítulo, o programa das irmãs para o ano de 1969 consistiu em aproximar-se o mais possível da realidade local. Nas paróquias elas conheceram comunidades, grupos, pastorais, movimentos, famílias, escolas, os quais vão entrando, aos poucos, no roteiro de suas visitas. Não faltaram outras atividades como a preparação de subsídios para a formação de lideranças, artigos para o jornal local, o “Alto Madeira”, e programas para a Rádio Caiari. Estes momentos foram fundamentais para conhecer e entrar no dinamismo da vida local, bem como das atividades e metodologias de cada grupo, além de ser estímulo missionário para as comunidades.
Procurando responder aos apelos dos sinais dos tempos e da realidade local as irmãs assumiram também o serviço da educação nas escolas públicas. Este trabalho, além de fazer parte do carisma da congregação, é também uma garantia do auto-sustento das irmãs na missão e testemunho evangélico exigido pela espiritualidade franciscana.
A experiência em Porto Velho serviu de base para a atuação nas novas frentes missionárias. Contudo, os serviços de evangelização foram organizados conforme as necessidades e exigências da realidade, em sintonia com a Igreja local. Os pedidos de abertura de fraternidades de irmãs nessas dioceses vinham acompanhados de uma lista de necessidades a serem atendidas: formação de catequistas, professores e lideranças de comunidades, como também à organização em associações, movimentos e da pastoral da saúde, da criança, da mulher e da juventude. Assim, 1974 no dia 01/02/74 as Irmãs Catequistas Franciscanas foram assumindo a missão em Guajará-Mirim-RO atuando junto às lideranças e comunidade local.
As irmãs que assumem o trabalho nas escolas procuram desenvolver uma educação humanizadora e integradora do jovem na sociedade. Tanto na pastoral escolar como nas pastorais sociais, incentivam o povo a se organizar em associações, sindicatos, partidos políticos e a participar dos conselhos municipais. Elas também participavam e ainda participam, junto com o povo, de manifestações, da equipe de coordenação do CIMI-RO - Conselho Indigenista Missionário, organizações de seringueiros e ribeirinhos e movimentos reivindicatórios como o dos sem-teto e sem-terra, as Romarias da Terra e o Grito dos Excluídos, além das demandas por energia elétrica, água, melhoria na saúde e contra o alto custo das cestas básicas. A rádio local é um dos meios utilizados para divulgar o trabalho e articular manifestações e reivindicações.
A realidade de Rondônia, Acre e Amazonas marcada pela ocupação e crescimento desordenado e por outros problemas, assim como a carência de lideranças preparadas para atender às comunidades, levou a Congregação das Catequistas Franciscanas a abrir novas comunidades nas dioceses de Guajará-Mirim, Ji-Paraná e Porto Velho.
A terceira casa a ser aberta foi em Ariquemes no setor 04 no dia 13/08/1980, passando a ser casa de formação no dia 06/07/1981. Em fevereiro de 1988 acolheu as primeiras candidatas do Norte que iniciavam o ano de noviciado. Devido à atuação das irmãs nas reivindicações junto ao povo, criminosamente a casa foi queimada no dia 04/10/1989, sendo que a nova casa foi construída no setor 09 no dia 19/03/1990 dando continuidade aos trabalhos pastorais, formação e nos movimentos populares.
No ano de 1982 a pedido dos padres Combonianos as irmãs que estavam morando nas dependências da Igreja São Francisco de Assis em Porto Velho foram morar no Bairro Nova Porto Velho com o objetivo de atender ao povo carente e morar com eles, trabalhar em escola publica como professoras, grupos de reflexão, visitas as famílias, minerações, apoio a Associações.
Ainda em 1982 as irmãs seguiram para a Paróquia de Cerejeiras e em 1986 em Nova Brasilândia do Oeste. A atuação era contribuir na formação de lideranças, grupos, sindicatos e movimentos. Havia mais de 90 comunidades rurais para atender e marcar presença em cada Paróquia, além das comunidades urbanas, distintas, mas semelhantes no compromisso e na caminhada de fé. A missão exigia muitos esforços devido às distâncias e estradas precárias e pouco recurso. Porém nos encontros de formação, nas visitas pastorais, era uma festa, muita gente se reunia cheia de ânimo e grande sede do Evangelho.
Com o aumento do número de irmãs no núcleo de Rondônia e o surgimento de vocações locais sentiu-se a necessidade de uma casa própria, capaz de acolher as candidatas e oferecer-lhes condições de formação e ainda de oferecer hospedagem às irmãs de passagem pela capital. Assim, em 1986 as irmãs passam a morar na nova residência que esta localizada no Bairro Mato Grosso.
No ano de 1987, a pedido de D.Moacyr Grechi, bispo de Rio Branco, três irmãs assumiram o desafio de ir viver num pequeno povoado do interior do Acre em Assis Brasil, passando a maioria de seus dias na companhia dos povos da mata, os seringueiros. Este é um capitulo de muita coragem e ousadia, pois as irmãs teriam que necessariamente se despojar de seus costumes e entrar numa outra dinâmica de vida: a dos povos da mata. Rede em vez de cama, cavalo em vez de carro ou bicicleta, imensas caminhadas a pé com mochila nas costas, alimentação completamente diferente e em horários diferentes, um povo quieto e contemplativo em vez de falante e gesticulador como o do Sul.
A COORDENADORIA REGIONAL DO NORTE - 1989
Diante da realidade de Rondônia, necessidades e exigências, em sintonia com a Igreja local, outras frentes de missão iam surgindo: Seringueiras em 1989 e no ano de 1990 para Espigão do Oeste.Novamente o povo simples clama por uma presença de fé e esperança diante dos conflitos e desafios especialmente no campo, além de contribuir na formação de liderança e nos movimentos populares.
O Núcleo de Rondônia estava fortalecido na missão e nas etapas de formação. O número de irmãs e fraternidades era satisfatório, com evidentes possibilidades de crescimento e de ampliação de sua atuação. Tudo isso levou a pensar na constituição de uma coordenadoria regional, com determinada autonomia para, lentamente começar a avançar com as próprias forças. A ideia tomou corpo. Durante o ano de 1988 as irmãs estudaram o assunto. Uma comissão indicada pelo governo provincial examinou mais de perto a questão e elaborou um anteprojeto com a proposta da constituição da coordenadoria, sua forma de organização e com os passos para a execução do projeto. O capítulo analisou as condições do núcleo e diante da viabilidade do projeto, o aprovou. Constitui a Coordenadoria Regional do Norte e deixou a critério do governo da província, em entendimento com as irmãs da nova coordenadoria, a data de sua instalação. Esta foi feita pela superiora provincial no dia 07 de abril de 1989, ocasião em que as irmãs reunidas em assembleia elegeram o primeiro grupo de coordenação.
Em 1994 as irmãs seguiram novamente para o Acre desta vez em Senador Guiomard colaborando na Catequese, Grupos de Evangelização, CPT, CDDH – Centro de Defesa Direitos Humanos, Atendimento à periferia e Interior, Formação de Liderança, Educação e Pastoral da Saúde. Também no mesmo ano em 1994, como marco dos 25 anos de nossa presença na região, duas irmãs fixaram residência numa aldeia do povo Karitiana, a 90 km de Porto Velho.
Mas não paramos aí... A busca e a missão continuaram e em 1999 fomos para a Diocese de Humaitá no Amazonas e lá fizemos a experiência de subir e descer os beiradões do Rio Madeira, parando de comunidade em comunidade para passar dias e horas com os ribeirinhos, escutar seus clamores e ser presença junto a eles. Os depoimentos das irmãs sempre foram neste sentido: ser presença! A precariedade é tanta, que estar com eles sem nada exigir ou fazer, é o mais salutar...
Alguns sinais de esperança podem ser enumerados neste período: o Protagonismo dos/as leigos/as e lideranças assumindo frentes nas comunidades, ministérios, organizações, partidos...; uma Igreja participativa, inculturada, missionária e profética; surgimento de vocações que apesar de poucas, com um rosto amazônico; expansão missionária na Região devido ao vigor missionário das irmãs; maior compromisso nas questões sociais; a busca de alternativas de melhor qualidade de vida do povo na busca de seus direitos e espaço na família e sociedade e uma vida menos institucionalizada e mais laical, adaptando a vida interna da fraternidade as necessidades da realidade local e desafios da missão.
CRIAÇÃO DA PROVÍNCIA IRMÃ AMÁBILE AVOSANI – 2000
Para facilitar o trabalho das irmãs junto ao povo amazônico a Província Imaculado Coração de Maria, com sede em Blumenau–SC, acolheu a solicitação das irmãs para a criação de uma província local, visto que a congregação na região amazônica já tem uma caminhada com características muito peculiares. Além disso, uma presença mais estável das Catequistas naquela realidade confere maior segurança e apoio ao povo e às lideranças locais, visto que as irmãs assumem suas lutas e anseios como causa própria. (Assembleia Anual da Província –Set/1996). Assim, por ocasião do XXI Capítulo Geral Ordinário, em Curitiba-PR, de 6 a 15 de outubro de 2000, as capitulares aprovaram a criação da nova Província, denominada Província Irmã Amábile Avosani.
Na primeira assembleia realizada na Sede da Província em Porto Velho, nos dias 20 a 24 de abril de 2002 as irmãs elaboram o seu projeto de ação os objetivos e prioridades. Assim se expressam: “Nosso compromisso é assumir a missão junto aos excluídos e excluídas na Amazônia, à luz da espiritualidade francisclariana, na ótica da mulher, priorizando o cultivo da irmandade universal (novas relações), interculturalidade (encarnação, novo rosto amazônico), ecologia (defesa da vida e biodiversidade), parcerias e projetos alternativos, organização interna (regulamento, atribuições, projetos)”. É desse modo que as Catequistas Franciscanas querem continuam armando sua tenda em terras amazônicas, assumindo como próprias as lutas deste povo, fazendo com eles caminhos para chegar à plena realização do Reino de vida regada com amor, acolhida e solidariedade. Para chegar a isto se faz necessário também estar atentas para perceber onde a vida se encontra ameaçada e clamando por socorro.
Atualmente há tantos desafios, os clamores mais fortes e urgentes estão vindos da natureza e da população nativa. Esta realidade de destruição já vem desde que os primeiros aportaram em busca de ervas aromáticas e metais preciosos e que continuam ainda hoje com os projetos do governo em povoar, desenvolver a região. Consequência disto foi o aumento da destruição da natureza através dos desmatamentos, queimadas e plantios de produtos que não condizia com a realidade do solo. Ainda hoje, a natureza, continua sendo destruída com as mesmas práticas do passado e com a implantação de novos projetos como a construção de hidrelétricas e o incentivo ao plantio de soja. Como os nativos indígenas, negros, ribeirinhos não foram respeitados no seu direito a posse da terra procura resistir a invasão. Esta situação gera grandes conflitos entre fazendeiros e posseiros, agricultores e índios. Desanimados e sem apoio os seringueiros abandonam as terras e se alojam na periferia da cidade. Os ribeirinhos que resistiram, sofrem hoje as invasões e o desrespeito dos fazendeiros, e as construções de hidrelétricas que tentam expulsá-los de suas terras.
É neste contexto que Igreja, a Vida Religiosa, especialmente as Irmãs Catequistas Franciscanas estão sendo chamados a responder com criatividade perante as mudanças observadas com novas formas de comprometimento, articulando projetos de solidariedade e de justiça que reafirmem sua presença solidária na opção pelos mais pobres. Com o decorrer dos anos as irmãs se expandiram atingindo outras realidades e situações, sempre procurando se inculturar e responder aos apelos da realidade social e eclesial que constantemente adquire novos contornos e apresenta novos desafios.
No ano de 2001 chegam a Ji-Paraná – RO, onde uma nova fraternidade se constituiu com os objetivos de ser presença do Carisma Franciscana na realidade urbana, assessoria aos comunicadores populares, espaço para formação acadêmica, trabalho alternativo para manutenção sem vínculo empregatício com a Diocese ou Paróquia como também casa do noviciado. Adentrar no contexto geográfico, histórico, social, cultural, político, econômico e eclesial desta região, permitiram compreender a necessidade de uma ação evangelizadora que leve a vida em todas as suas dimensões e identificar onde esta sendo mais carente e ameaçada. Muita vida e doação aconteceram ao povo e a Diocese de Ji-Paraná nesses onze anos e diante das exigências da missão, foi redirecionada a atuação missionária das irmãs em 2012 para outras realidades e situações onde a vida clama e requer outro modo de se organizar e viver.
Em 2004, atravessamos a fronteira e fomos marcar presença em Huepetuhe – Peru na certeza de ser uma presença de vida franciscana no meio do povo peruano numa relação de reciprocidade, compartilhando nossa experiência de fé, na realidade; contribuir no processo de formação e animação das comunidades de base; trabalhar com as lideranças e instituição educativas o tema do cuidado com o meio ambiente.No decorrer deste mesmo ano com o conhecimento da realidade as irmãs acrescentam outro objetivo muito importante nesta experiência, conscientização ambiental. Dentro deste propósito houve um trabalho no cuidado com os bens da criação de Deus com o povo e Vicariato (Diocese). Após oito anos de missão em Huepetuhee diante dos conflitos gerados pela extração do ouro naquela realidade, as Irmãs foram alertadas a se retirar no ano de 2012 devido à constante ameaça por parte dos empresários mineiros, impossibilitando o trabalho de evangelização e conscientização do Meio Ambiente.
O Capítulo Provincial acontece a cada quatro anos. Muito ardor missionário, mas também muitas inquietações, buscas, acertos e erros, e, sobretudo, muitos sonhos, alguns ainda por se realizar. È momento de pensar coletivamente nossa atuação da Irma Catequista, avaliar e retomar nossa caminhada em comunhão com as Linhas Inspiradoras da Congregação. Como grupo da Província a Missão é o eixo norteador de toda a atuação. Por causa disto, organiza toda a sua vida de uma forma descentralizada, inclusive a irmandade em vista da missão. Concretizam-se nas bases, no chão da vida e dentro da realidade de cada comunidade, com as situações humanas e culturais, as aspirações e sonho. Isto exige de cada irmandade muita renúncia e desinstalação, coragem e ousadia.
Na certeza da condução do Senhor que ilumina e guia, em 2012 as irmãs chegam para conviver com o povo de Parecis - RO marcando presença na Educação Escolar e atuação gratuita nas Comunidades e pastoral.
Atentas aos apelos e clamor dos empobrecidos, as irmãs reassumem o compromisso com a missão Além Fronteira e com o povo do Peru na nova realidade de Echarate. Em março de 2013 chegam ao país trilhando novos caminhos e propondo novos passos a serem dados de um modo dinâmico, profético e eficiente junto aos povos campesinos.
As Irmãs Catequistas Franciscanas neste chão sagrado da Amazônia estão dispostas e são provocadas a reorganizar a vida da Província, com as potencialidades e fragilidades, adequando-as as necessidades da missão, inculturando cada vez mais o Carisma.
Fontes: Crônica Provincial; Dissertação: Uma análise da missão das ICF em Rondônia a luz das Diretrizes Gerais da ação Evangelizadora da Igreja no Brasil - Ir. Marilde Zonta – São Paulo – 2004 e A Província Imaculado Coração de Maria – 25 anos de caminhada, p.54.