É preciso caminhar para ver (Kala – Wenda) Tala Hady (lugar do sofrimento). Este é o significado do Bairro e da Comuna do Cazenga onde a Comunidade interprovincial das Irmãs Catequistas Franciscanas vivemos nossa missão. Apesar do nome recordar uma história de dor e sofrimento do povo deslocado pela guerra, hoje é visível e palpável o movimento e a dança da vida, rumo a um novo amanhecer.” Mulheres Raiz da Vida” estão a fazer história não de medo e dor, mas de otimismo, esperança e alegria.
Cada dia muito cedo, a vida nos surpreende. O barulho da vassoura, as vozes alegres que chegam na esperança de aprender a ler e escrever, e, não só, mas também de encontrar-se com a companheira, saber como foi a noite... e na acolhida, na escuta, no olhar, no silêncio, na visita, no aconselhamento, na entreajuda às famílias e também às irmãs, continuar a cuidar da raiz para que o broto cresça e dê fruto.
“Cada manhã, o Senhor desperta o meu ouvido, para ouvir como discípula. Ouvir, prestar atenção, como discípula, cada manhã”.
O que vi, ouvi e senti (Êx 3). Nesta semana, a partir de terça-feira, dia 12 de agosto, senti muito de perto a grandiosidade da missão existente nas dependências da fraternidade São Francisco em Cazenga, a coragem e bravura das mulheres que já aprenderam a levantar a cabeça e a voz. Terça-feira, (12), o grupo Mulher Raiz da Vida foi agraciado com um contentor (casa móvel) para desenvolver suas atividades. Foi uma doação da empresa HALLIBURTON. O grupo possui um pequeno terreno que ainda não foi beneficiado, mas que estão a correr em busca de recursos para o melhoramento do local. Devido ao terreno estar em aberto, quando receberam a notícia de que iria chegar o contentor, ficaram sem saber direito o que fazer, e, como tudo tinha pressa, ficou acertado de deixá-lo no pátio da casa paroquial. Dado ser um objeto de grande valor, pois é uma casa completa, tinham muitos olhos desejosos de obtê-lo, agora que ele já estava ali à vista. Irmã Enedir falou: O contentor está no pátio da casa paroquial, o que vamos fazer? As mulheres responderam. Deixe conosco! O que nos surpreendeu foi a força de mobilização destas guerreiras da vida, que, na tarde de quinta e poucas horas da manhã de sexta-feira, (15) tiraram pedras, espalharam uma carrada de areia vermelha que foi trazida, aplainaram o terreno, arrancaram jante de uma carcaça de caminhão para fazer suporte, trouxeram e organizaram o local para que o contentor (casa móvel) ficasse bem para ser usado. No dia anterior já havia sido acionado um carro guincho e na sexta-feira mesmo com o terreno em aberto o contentor foi instalado, mas a vizinhança já estava mobilizada para ajudar a vigiar a fim de evitar danos e as coisas mais frágeis, como as janelas de vidro, elas tiraram e carregaram na cabeça para deixar em um lugar seguro. Sábado, dia 16, foi um dia “D”. Os doadores queriam ver o que as mulheres faziam. Então mobilizaram-se, organizaram todas as oficinas para estarem no jango da casa das irmãs neste dia.
O movimento se dá através das oficinas de: kissangua,(bebida típica), costura, fabrico de bolsas de anilha, multimistura, sabão,alfabetização e Pastoral da Criança. Para o fabrico do sabão elas pegavam óleo de fritura no supermercado Shopryte. Quantos bidons de óleo carregados na cabeça. Para tristeza de muita gente, principalmente das mulheres recicladoras do óleo, aconteceu um desastre e o supermercado pegou fogo. Irmã, e o nosso óleo? Mas o Deus dos pequenos que não desampara, não demorou enviar sua providência. Após um apelo no final da missa para que a comunidade juntasse o óleo de fritura nas familias para ser recolhido pelas mulheres a fim de continuarem seu trabalho, outro caminho se abriu e não apenas com 04 bidons que reuniam 80 litros de óleo, mas agora são 13 bidons que reúnem semanalmente 260 litros. A pergunta que surge é esta: “Irmã, como se explica isto?” – “As coisas de Deus não se explica...”.
E foi esta riqueza de oficinas que os visitantes vivenciaram, neste sábado, (16), pois todas estavam trabalhando ao mesmo tempo. Umas no jango e em vários locais do quintal da casa das irmãs, outras como o crochê de pastas, venda do sabão, costura, marcenaria, já inaugurando o contentor - a nova casa . Era um fervilhar de gente, um vai e vem lindo de ver!
Tudo isto acontece em um espaço de vivência não “oficial” onde a criatividade, a recuperação da autoestima o acreditar que são capazes e que como grupo se tornam fortes, surpreende e desinstala aquelas que ainda parecem inseguras. Carro chefe – Pastoral da Criança.
Irmãs queridas, esta é uma pitadinha da vida do nosso povo que agradece a cada uma de vocês que também torcem e incentivam as que aqui se encontram para que tenham saúde e disposição para viver esta realidade que a cada dia traz o seu colorido carregado de desafios, sonhos e esperanças.
Carinhosamente o abraço de suas irmãs.
Comentários
Mulher que amassa o pão - mulher que torce e endireita ferro, que amassa barro e carrega pedra; mulher que tece novas relações, que gesta o novo mundo! Mulher diante da qual há que se curvar reverente; mulher cuja força não há potência que possa destruir!.
Parabéns, mulheres Raiz da Vida! Parabéns Enedir e Maria de Jesus por caminharem com estas mulheres e por animar-nos com o exemplo delas!
Que a Divina Ruah sopre sempre novos reforços para este grupo tão animado!
Você já tinha me falado de sua experiência com as mulheres de Cazenga, quando esteve no Brasil por ocasião da Páscoa de sua mana. Agora com a notícia e fotos delas, ficou tudo mais bonito ainda. É isso aí, minha irmã. Parabéns a vocês todas e uma saudação especial às mulheres - Abraços - Lucia Deluca
Oi irmãs Enedir e Maria de Jesus, que alegria "Deus visitando seu povo", através da organização, solidariedade, aliança entre as mulheres. Elas mostram a verdadeira face de Deus. Chama a atenção, a ousadia, a criatividade e a cumplicidade. Elas rompem paradigmas e através deste gesto, fazem história, fazem brotar a vida e a confiança num mundo possível. Que vocês tenham sempre muita coragem, sensibilidade e alianças com o grupo "Mulher Raiz da Vida" para que essa árvore cresça e dê muitos frutos... Maria de Jesus, lembrei da história de Rute e Noemi...
Enedir que sua luz brilhe sempre! Paz e Bem!
Mari
Que bonito ler o artigo que mostra o entusiasmo das mulheres que vão descobrindo seu potencial! Isso graças ao vocês que dão a assessoria para desabrochar essa autoconfiança.
Ficamos felizes, com isso. Desejamos que Deus continue a suscitar pessoas generosas continuem a dar suporte material, para ir desenvolvendo sempre mais os recursos e a iniciativa das mulheres.
Parabéns e um grande abraço - Anita