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04 Novembro 2015
A Marcha das mulheres Guarani e Kaiowá pelo Bem Viver

Mato Grosso do Sul é o segundo estado brasileiro em população indígena e, é também o que mais viola os direitos das populações tradicionais. O estado brasileiro contribuiu nesse processo de violação desde os primórdios da ocupação e expansão para o Oeste, com objetivo desenvolvimentista e exploratório. Isso se deu com a exploração massiva da mão de obra indígena na exploração da erva mate pela Companhia Mate Laranjeira, financiada pelo Estado, pela criação dos territórios federais, como por exemplo, Ponta Porã e ainda a "colonização" protagonizada pelo governo Getúlio Vargas, que titulou os territórios indígenas para o latifúndio na região da grande Dourados.

A espoliação, a violência e as violações são uma constante há muitos séculos e continua a acontecer nos dias de hoje, especialmente entre os povos Guarani Kaiowá, que habitam o sul do estado e os municípios de fronteira. Nesse contexto, as mulheres são as que mais sofrem privações, perseguições e violências. Elas são arrancadas de seus barracos no meio da noite, por tiros e pelo fogo ateado em suas humildes moradias. Todavia, continuam a sua peregrinação e luta nas áreas de retomada. 

O modelo de desenvolvimento obrigatório no sistema capitalista, e em nosso país, exploratório, predador, tanto do meio ambiente, como do ser humano, não corresponde ao modo de vida Guarani e Kaiowá. O significado que tem a terra para o capitalismo, não corresponde ao que o Povo Indígena compreende da Terra. Ela não possui valor venal, mas sagrado, a Terra é Mãe, aquela que gera e fortalece a vida e a vida de seus filhos. A terra deve ser o lugar onde se pode reproduzir o "Bem Viver".

A retomada dos Tekohas (territórios tradicionais, sagrados para o povo indígena), significou e significa para os Guarani e Kaiowá a possibilidade de reproduzir sua cultura, sua religiosidade, sua dança, seu canto, plantar a sua roça, de conviver harmonicamente com a natureza e seus filhos. Significa a retomada do Bem Viver. Entretanto, o que deveria ser o restabelecimento da dignidade, da liberdade, do direito à terra sagrada, se tornou um grande pesadelo.

A omissão do estado brasileiro em demarcar os territórios tradicionais, vem acarretando todo tipo de mazela. Nos últimos 20 anos mais de trezentas lideranças indígenas foram assassinadas no Mato Grosso do Sul, entre homens e mulheres, e ainda sofrem todo tipo de violação e violências, as mulheres são estupradas (jovens e adultas) por pistoleiros, jagunços, e obrigadas a permanecer no silêncio. Um silêncio que leva à morte, ao suicídio, tamanho o dano causado por esse tipo de violência às mulheres indígenas.

As Mulheres indígenas do Mato Grosso do Sul, as mulheres Guarani e Kaiowá, clamam por justiça, por respeito, por dignidade. As jovens Guarani e Kaiowá clamam por direitos, por respeito, por segurança. Clamam pelo direito à vida conforme a cultura de seu povo. As crianças Guarani e Kaiowá pedem socorro, socorro para que cessem com a maldade praticada contra elas. Socorro para que cesse o Genocídio cometido em uma guerra que elas não começaram. As crianças Guarani e Kaiowá querem simplesmente Bem Viver.

Seguiremos em Marcha até que todas as Guarani e Kaiowá possam Bem Viver.

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Marlene Ricardi, Historiadora e Pós Graduada em Gênero e Política Pública - www.cimi.org.br

Comentários  

#3 Therezina Franzoi 15-11-2015 23:09
Meus aplausos a estas mulheres corajosas que lutam por seus Direito e pelo Direito de seu Povo, Lutam pela VIDA. Que o Deus da Vida continue lhe dando sempre mais forças. Rezo e confio pela vitória para maior vida para todos.
#2 Etelvina Valentini 15-11-2015 09:37
Parabenizo a força das mulhers indígenas e toda luta que vem acontecendo.Vão adiante com coragem, pois aqueles e aquelas que querem vida vão lançar sementes que certamente vão frutificar. Minha sintonia pois a vida prevalecia antes dos portugueses chegarem aqui. A terra era habitada pelos índios. Quem veio explorar e descobrir o Brasil foi Pedro Álvares...o qual com segundas intenções. Deus é a fonte da vida e sei que um dia virá a libertação. Coragem sempre.
#1 Maria Lucélia Araújo da Silva 08-11-2015 12:20
Olá, Ir. Marlene, obrigada por partilhar conosco a realidade que nossa mulheres guarani estão vivendo em Mato Grosso do sul juntamente com todos os parentes das diversas etnias.
É muito triste ver o quanto a vida destes nossos Irmãos e irmãs indígenas são desrespeitadas pelo governo brasileiros e por muitos brasileiros que tem visões equivocadas e distorcidas em relação aos povos indígenas. Estes povos são os que mais sabem viver e cuidar da vida, por isso o terrível repúdio a eles, pois infelizmente nossa sociedade civil, que se diz civilizada, em nome do desenvolvimento , destroem vidas. Mais eu sei que um dia todos vão parar para escutar e aprender dos povos indígenas para poder sobreviverem em nosso planeta que já está pedindo socorro.

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