Não pude deixar de compartilhar... Me emocionei pela verdade no texto e quis traduzi-la a todos e todas nós, da Prelazia de são Félix do Araguaia, a toda a Igreja dos seguidores e seguidoras do Evangelho, sonhada pelo bispo Pedro, hoje fragilizado em seus 88 anos pelo seu “irmão” Parkinson como ele mesmo o chama.
Nesse tempo de Romaria, trago ao coração, à partir do texto abaixo, a triste sensação que tive em 2006, por ocasião de uma peça de teatro de sombras, onde Pedro em processo de fragilização, porém, firme, com a mão ao ombro de alguém como apoio, caminhava devagar, então, parou, nos cumprimentou um a um (o grupo que iria se apresentar) e foi para o barracão assistir a peça. Chorei muito. Teria o corpo fragilizado de Pedro, como em um espelho, refletido uma imagem, de uma sonhada Igreja, de um corpo místico, profético e pobre que se fragiliza cada vez mais? Perdão Pedro, perdão Jesus, por me acovardar, ter medo, não assumir a opção pelos pobres e marginalizados como deveria.
" Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.
É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.
É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.
É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela - tudo é corredor, tudo é longe.
É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.
E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.
Todo filho é pai da morte de seu pai.
Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.
E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.
Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.
Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.
A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.
Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.
A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.
Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.
Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?
Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.
E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.
Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.
No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:
— Deixa que eu ajudo.
Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.
Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.
Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.
Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.
Embalou o pai de um lado para o outro.
Aninhou o pai.
Acalmou o pai.
E apenas dizia, sussurrado:
— Estou aqui, estou aqui, pai!
O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali. "
(autor desconhecido)
Talvez como esse pai do texto, o bispo Pedro, pai espiritual, queira somente ver mais uma vez, seus “filhos e filhas” das tantas causas e lutas, somente mais uma vez, reunidos e reunidas, dizendo: eu estou aqui! Nós estamos aqui! Aqui estão os profetas e as profetizas!
Comentários
Nos remete a bendizer e agradecer a Deus, por podemos cuidar de "nossos pais", tanto biológico, como as causas...
Estou aqui....E que o Senhor me dê a Graça e a Ousadia de sempre aqui está!
Louvado Seja Deus por este texto tão impulsionador...
Oxalá poder dizer: "Estou aqui, e aqui realmente está!"
O nosso irmão profeta, vivendo a realidade que a idade e a inserção nos lugares de Deus e que nos fala ao coração mais uma vez.
D. Pedro, sua vida me anima a continuar perseguindo encarnar o projeto de Jesus onde estou. Sua vida é também LUZ nos caminhos da Igreja, da missão evangélica, da paixão pel@s irm@s à margem do direito de viver plenamente. D. Pedro obrigada. Irmãs obrigada. Sigamos em frente porque um longo caminho a percorrer.
São Pedro e São Paulo o abençoe e proteja sempre.
Saudações!
Ir. Eliza
Que a força profética de Pedro possa pousar um pouco sobre nós!
Pedro, você é eterno! Sua profecia não passa, não enfraquece, não treme!