“Povos Indígenas, Territórios e Biomas:
Berços de Vida, Lutas e Esperança”.
Berço, espaço, território, lugar em que a vida é plasmada, fecundada e cuidada. Embaladas pelo tema da Semana dos Povos Indígenas somos convidadas e interpeladas a olhar para nossa “Casa Comum” com os olhos de Deus Pai-Mãe que criou a humanidade para “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15). O tema está vinculado a Campanha da Fraternidade (CNBB) deste ano que trata dos Biomas Brasileiros.
“Deitado eternamente em berço esplêndido”, um país de dimensões continentais, como o nosso, com abundância de água e uma diversidade de biomas, deveria estar desperto para lutar em defesa dos direitos da natureza que constantemente está ameaçada por uma economia produtivista, que mercantiliza os recursos naturais e humanos. Na lógica capitalista que converte tudo em mercadoria e subjuga os seres vivos, os povos indígenas e comunidades tradicionais são as mais ameaçadas, por serem consideradas obstáculos aos empreendimentos depredatórios.
Tais povos e comunidades são vistos como ultrapassados por um suposto modelo desenvolvimentista. Na verdade são berço e fonte de sabedoria para a cultural ocidental que perdeu sua capacidade de relacionar-se com o meio ambiente de uma forma respeitosa ao colocar o ser humano acima de todos os seres vivos. Com isso rompeu-se a relação de respeito e reciprocidade estabelecendo-se uma relação de dominação. É surpreendente como vai se perdendo a capacidade de nos afetar e nos compadecer com a destruição cada vez mais comuns de espécies animais e vegetais e com a exploração desenfreada dos minérios do nosso subsolo. Tudo é justificado como perdas necessárias para assegurar a construção de um país desenvolvido.
Restabelecer a trama da vida
Da mesma forma vai se perdendo a sensibilidade com a dor de outros seres humanos e cada vez mais cresce os sentimentos de intolerância e indiferença com aquelas culturas que divergem da lógica consumista, utilitarista e desumanizadora proposta por projetos que visam somente o lucro. É urgente tecer os fios que nos colocam em rede com o outro PESSOA HUMANA, o outro CRIAÇÃO, restabelecendo a alteridade das relações, a irmandade universal que nos vincula à teia da vida. Esta é uma perspectiva ancestral anunciada pelo cacique Seatlhe, em 1854: “De uma coisa sabemos. A terra não pertence ao homem: é o homem que pertence à terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ela é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará.”
Os povos indígenas e as comunidades tradicionais são uma fonte de ensinamentos e experiências, a partir do seu modo de ser e viver e de se relacionar com a natureza, nos ajudam a pensar outro mundo possível e a protagonizar novas relações a partir do cuidado com a criação, pois a humanidade não terá futuro se não estiver inserida em ecossistemas sustentáveis e saudáveis.
“Demarcar e respeitar os limites dos territórios indígenas é uma das formas de reconhecermos que há outros povos com propriedade e sabedoria para resguardar a diversidade ecológica que existe em nosso país”. Nesse sentido existe uma presença significativa das Irmãs Catequistas Franciscanas atuando na luta pelos direitos dos povos indígenas no trabalho desenvolvido pelo Conselho Missionário Indigenista – CIMI- Na perspectiva do Carisma Franciscano somos desafiadas a re-significar nossa presença missionária junto aos povos indígenas que encontram-se vulneráveis acreditando que necessitam da nossa maternidade, do nosso cuidado, da nossa afeição, do berço aconchegante que garante o ciclo da vida. Descer da nossa condição de detentoras do saber, ir ao encontro “como aprendizes”, na gratuidade, despojadas de pretensões ao partilhar do nosso SER, da nossa ESSÊNCIA mais profunda com simplicidade e alegria, é o que nos dá um rosto, uma identidade como “irmãs do povo”. É de uma certa forma assumir o profetismo em tempos de “travessia”, povoado de incertezas, não sejamos tentadas a ficar em nossa “zona de conforto’, pois é no caminho que somos surpreendidas, é no caminho que a vida acontece, é a dinamicidade da Divina Ruah que nos coloca em movimento e nos garante a única certeza, da qual nunca poderemos duvidar: “Ele caminha conosco”, mesmo que não tenhamos a visão muito clara, sua presença é real.
Referência: Conselho Indigenista Missionário – CIMI – Publicação Encarte sobre Semana dos Povos Indígenas 2017.
Foto: Povo Aikewara Surui – sudoeste do Pará
Comentários
grande chamada dos Povos Indígenas para somarmos nesta longa jornada que ecoa há mais de 500 anos "DEMARCAÇÃO DE TERRA INDÍGENA JÁ". Demarcação de terra, tão necessária em nossos dias.
É licito nossa presença, solidariedade e contribuição.
A pauta reivindicatória indígena também contempla a nossa vida e vai além. Vai a toda vida brasileira. Entretanto, assola nas terras indígenas o terror da violência, a eliminação de lideranças, anciãos, mulheres, jovens e crianças. Eles insistem, persistem e não desistem. Somemos em sua defesa, no serviço da Justiça e PAZ, tão forte no nosso Carisma..
Caminhemos juntos e estes Povos do jeito que podermos. Vamos fazer chegar até eles nossa fé, nossa esperança, gerando a entrada deles no seu território libertado do opressor e celebrando a PAZ tão sonha e buscada nas lutas e vidas tombadas.
A PAZ é fruto da verdade, do direito, da justiça!! Sauidi. Em Cristo a nova PAZ.
Agradecemos a leveza do texto e o convite insistente de 'restabelecer a trama da vida' com os povos indígenas de nosso país! Parabéns pela opção missionária, que a cada dia vocês vivenciam, ali na grande Marabá!
Lutar não é em vão se tem sonho e paixão a trilhar estradas!
Que as motivações da Páscoa sejam o nosso compromisso com a ESPERANÇA de vida plena, para todos os povos a e toda a criação! Abraços!