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29 Maio 2019
Maria e Isabel: mensagem iluminadora e atual!

  Maria visita uma mulher que vive uma gravidez de alto risco, e Isabel acolhe uma adolescente grávida (Lc 1,36-37.39-45).

Antes de começar a escrever um texto sobre a visita de Maria a Isabel (já publicado nesse site), perguntei a um grupo de mulheres de uma comunidade urbana: qual seria a atitude de vocês se tivessem uma filha adolescente que, inesperadamente, fosse engravidada por algum desconhecido? Os comentários foram bem diversificados. Porém, todas foram unânimes em dizer que fariam “o possível e o impossível” para proteger a garota de olhares maldosos e de comentários e atitudes discriminatórias, tanto da família como da comunidade. Duas narraram experiências de estupro de adolescentes na própria família e como tiveram que levar a adolescente para a casa de outros parentes da área rural, a fim de protegê-la e ajudá-la a atravessar aquela fase difícil com segurança e serenidade, longe de “más línguas”.

Outras contaram que o próprio grupo havia acompanhado uma adolescente grávida, expulsa de casa, que buscava apoio e orientação para fazer o acompanhamento pré-parto, que a garota não sabia muito bem de que se tratava. Diziam também o quanto foi importante, tanto para a adolescente quanto para elas, pessoalmente e como grupo, acolher e acompanhar aquela jovem mãe, compartilhando com ela seus próprios conhecimentos e experiências de gravidez, amamentação e cuidados com suas crianças. Falaram também com a garota sobre os cuidados que devia ter para não engravidar novamente. Todas ressaltaram a importância da entreajuda, da solidariedade, do toque, da massagem e de outros cuidados que elas dispensaram àquela jovem mãe, de forma que todas se assumiram como “cuidadoras” dela e “madrinhas” do bebê.

Enquanto eu ouvia essas narrativas, pensava em muitas adolescentes que passam por experiências semelhantes, tendo que deixar para trás os estudos e a vida familiar a fim de se proteger de violências e discriminações, em casas de parentes ou de pessoas amigas. As pesquisas, ao redor do mundo, mostram que o número de adolescentes engravidadas está aumentando a cada ano, sobretudo em áreas de imigração e de conflito entre muitos países, mas também em lugares onde não há políticas públicas para mulheres. Aqui em Guatemala, onde estou vivendo atualmente, uma média de 17 meninas-adolescentes entre 8 e 14 anos são estupradas a cada dia. Cerca de dez mil, entre dez a catorze anos, foram engravidadas e deram à luz em 2017, sendo que um grande número dessas gravidezes é resultado de incesto. Isto sem contar que cerca de 40% das mulheres contraíram o vírus HIV, que está fora de qualquer controle de saúde pública. Em 2017, exatamente no dia 8 de março, Dia Internacional de Lutas das Mulheres, 41 adolescentes de uma casa de detenção da capital de Guatemala, chamada Lugar Seguro Virgem da Assunção, se rebelaram exigindo melhores condições de tratamento (além de outros maus tratos, elas eram constantemente estupradas pelos funcionários da casa e por policiais) e morreram queimadas em um incêndio no local onde estavam presas. E mais 15 até hoje sofrem sérios danos em seu projeto de vida. Este fato mostra que o sistema de proteção das meninas em todo o país não garante sua a proteção das mesmas. As autoridades nada fizeram para evitar ou conter essa tragédia. Quando o atual presidente de Guatemala soube da rebelião autorizou que os policiais invadissem o local de forma violenta. Hoje, quarenta e uma cruzes com o nome de cada adolescente estão fincadas na praça em frente à catedral e ao palácio do governo. E nada foi feito até agora por parte das autoridades, mesmo que as famílias e diversos movimentos de mulheres continuem clamando por justiça.

Fiquei chocada e me senti impotente diante de tantas situações semelhantes que continuam acontecendo, não apenas aqui, mas em muitos outros lugares do mundo.  Por outro lado, estou me fortalecendo nessa luta mediante a participação no Núcleo “Mulheres e Teologia”, que neste ano de 2019 completa 25 anos de existência. Esse Núcleo promove, ao longo de cada ano, seminários e jornadas de formação para mulheres de diversas igrejas e comunidades, que, por sua vez, são multiplicadoras junto a outras mulheres. De minha parte, assumi contribuir na formação de um grupo de mais de 50 mulheres e jovens de um dos bairros mais violentos da capital.

Olhando para a situação de violência em que muitas mulheres, no mundo inteiro vivem desde sua infância, sinto que o encontro entre Isabel e Maria ilumina e mostra como é importante o cultivo da solidariedade entre mulheres. Não importa a idade. É através de visitas, da partilha de experiências e de conhecimentos, do apoio recíproco, que se pode criar um mundo diferente, onde as mulheres podem cuidar umas das outras e desenvolver suas potencialidades em favor de si mesmas e do bem comum. Esta espiritualidade sororal (soror, em latim significa entre irmãs) pode ser construída passo a passo, na cotidianidade.

 LEIA A PRIMEIRA PARTE DA REFLEXÃO EM 

https://www.cicaf.org.br/index.php/noticias/item/2218-maria-e-isabel-experiencias-que-iluminam

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Irmã Alzira Munhoz

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Marlene dos Santos e Rosali Ines Paloschi.
Arte: Lenita Gripa

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