Vem, Espírito Santo, enche nossos corações!
Esta oração rotineira ganha força especial, neste tempo de preparação para a festa de Pentecostes, que não é nova e nem sempre teve o mesmo significado. No Israel de antes de Jesus, era uma das três grandes festas anuais. Era a ocasião em que os fiéis, “entre cantos de alegria e de ação de graças” (Sl 42(41),5), levavam a Jerusalém, ao templo, o fruto de seu trabalho. Era um momento de renovar a profissão de fé em Deus que conduz seu povo: “Neste dia, reconheço que Javé, meu Deus, me tirou do Egito ... e nos deu esta terra que mana leite e mel...” (cf. Dt 26,8-9). Era uma festa jubilosa, em que se reconhecia e agradecia a força de Deus que, movendo a terra a abrir seu ventre generoso, provê o alimento de seus filhos e filhas.
Significativamente, numa destas celebrações, “estavam todos reunidos no mesmo lugar” quando veio do céu um ruído como de vento impetuoso e, ... umas como línguas de fogo pousaram sobre cada um deles...” (cf. At 2,1-3). Vento e fogo que varrem medos e queimam incertezas. O Espírito, que na origem dos tempos organiza o “informe e vazio” (Gn 1,2), agora organiza pensamentos e sentimentos, organiza as mentes e desata as línguas. O medo cede lugar à intrepidez: “Este Jesus a quem vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo”. A compreensão toma o lugar do fechamento e, a “rede” do inflamado anúncio faz a barca se encher de peixes grandes (cf. Lc 5,6; At 2,1-13).
Ao convocar o Concílio Vaticano II, João XXIII, o Velhinho que quer a Igreja, de fato, “jovem esposa radiante, sem ruga e sem mancha” (cf. Ef 2,27), anuncia: “Vamos abrir as janelas da igreja para deixar entrar um novo ar, o sopro do Espírito, que provocará uma inesperada primavera”. E nós somos testemunhas de que assim aconteceu. Um novo Pentecostes, o Concílio, fez florescer inúmeras práticas pastorais que suscitaram novos protagonistas, sobretudo, os que eram esquecidos, ou relegados ao “fundo e às laterais”. As periferias se tornaram centrais, mulheres, jovens e crianças, os pobres e marginalizados passaram a ser sujeitos do processo evangelizador.
O vento do Pentecostes Conciliar soprou forte na Vida Religiosa e reorganizou sua mente, seu coração, sua maneira de estar no mundo: saiu das grandes obras do centro e foi para os bairros pobres, para as favelas; abriu suas casas para as organizações do povo e iniciativas de educação popular e nelas se engajou; passou a realizar a formação inicial nos meios populares e acompanhar o povo em suas lutas e sua vida. O feliz e necessário deslocamento social e geográfico trouxe para as congregações novos rostos, culturas diversificadas, diferentes necessidades. Estimulou a criatividade para novas formas e mais originalidade na vivência do carisma fundante. É certo: este vento também sacudiu com força a árvore e, alguns frutos (bons e menos bons) não resistiram e caíram. Mas, com certeza, os que ficaram souberam aproveitar melhor a seiva que subia do fecundo chão da vida.
Nossa Congregação (Catequistas Franciscanas) viveu com vigor e empenho o Pentecostes pós-Conciliar. As que temos mais de 50 anos de profissão, principalmente, vivemos o processo de “aggiornamento” e dele participamos (algumas com desconfiança, sim), mas a maioria com grande entusiasmo. Nossa vida se reorganizou, obedecendo às decisões do Concílio e para melhor responder às novas exigências da missão. Nossa reorganização passou pelo estudo (todas as Irmãs participaram), pela mudança do traje, redimensionamento de casas, organização em províncias, nova elaboração das Constituições Gerais, entre outras coisas. Mas, sobretudo, exigiu reorganizar a mente, o pensamento, o coração. Realizar esta tarefa, sem dúvida, foi um grande trabalho do Espírito, ao qual se somou nossa abertura ao novo, nossa disposição de adaptar-nos aos tempos e às exigências da missão.
Sensíveis aos apelos da realidade (da missão e nossa, como pessoas), durante os últimos anos, sobretudo, no processo de preparação e realização do XXIV Capítulo Geral (2019), nos debruçamos sobre o tema da reorganização da Congregação, como um processo necessário, urgente. Como acontecerá? Temos uma certeza: o tecelão principal será o Espírito, operando em cada uma de nós, chamada a dar seu ponto, colocar seu fio neste tecido que teceremos juntas, com os fios da oração, da experiência, do testemunho, do apoio fraterno. Colocaremos a serviço nossos dons e talentos, nosso tempo e nosso coração aberto, disposto a fazer acontecer e acolher o novo Pentecostes que desejamos seja na Congregação o processo de reorganização, para que nossa vida, nossa missão seja fecunda e contribua para que o mundo “tenha vida e a tenha em abundância” (Jo 10,10).
Comentários
Gracias hermana por hacer nos reviver en lo largo de nuestra historia como el Espíritu Santo fue moldando nuestro caminar.