Mergulhadas, mergulhados no oceano da vida, aquecidas, aquecidos pela força do Sol da Justiça, nos transformamos em poderoso sal para dar o sabor da esperança, da alegria e da paz....

Comida sem sal? Sacrifício penoso, até acostumar com a ordem médica! A luz se foi? Os olhos se abrem em busca desesperada de claridade! Sal e luz, dois elementos dos quais só prescindimos (nunca ou dificilmente por vontade própria), para ter saúde, para preservar a vida.

Sabiamente, Jesus deles se vale para explicar e caracterizar a vida e a missão daquelas e daqueles que o seguem na Vida Consagrada. Ser sal que, presente na justa medida, dá sabor aos alimentos. Em alguns, com maior abundância, os preserva da corrupção, conserva sua força e poder vitalizador. Dar sabor, conservar vivo no coração do mundo o mistério do Reino é missão que nos confiou nosso Mestre a quem chamamos de Senhor e que dá sentido à nossa consagração.

O sal é fruto de água do mar depurada pela força do sol. Mergulhadas, mergulhados no oceano da vida, aquecidas, aquecidos pela força do Sol da Justiça, nos transformamos em poderoso sal para dar o sabor da esperança, da alegria e da paz a este mundo que tanto clama por estes divinos valores. Para cumprir sua missão, o sal se dilui, desaparece. Assim, parafraseando o Batista, manteremos viva a consciência: Importa que fique o sabor do Evangelho. Quanto a nós, nos diluiremos na massa do mundo.

“Brilhe a vossa luz...!” O Concílio Vaticano II, ensina que somos dom do Espírito à Igreja que, sinodalmente em saída, é farol do evangelho. O caminho sinodal faz esta luz brilhar e iluminar com força e intensidade multiplicada. Iluminar os recantos mais escuros da sociedade, a vida dos pobres e marginalizados, dos doentes, das crianças das periferias, das pessoas idosas abandonadas nos asilos, dos grupos minoritário, fazendo assim, aparecer tanto os sinais do Reino, como os do anti-Reino para edificar a um superar o outro. Uma Vida Consagrada que não irradie, não ilumine pode ser dispensada, como o sal estragado, que pode ser jogado ao lixo, ou como a lâmpada queimada que terá o mesmo destino.

É a missão profética de denunciar o pecado e de estender a mão para levantar e sustentar as vítimas do mesmo. Denunciar para ir arrancando pela raiz o câncer da injusta distribuição dos bens, da marginalização social e política, da corrupção em todos os níveis, do triste abandono, da poluição e destruição da natureza, da ganância geradora da fome e uma lista interminável de mazelas que adoecem nosso mundo. É sua missão anunciar que um mundo-prefiguração-do-Reino é possível, e que Deus colocou em nossas mãos a capacidade de torná-lo realidade.

Anunciar que os bens da terra são herança de Deus a todos seus filhos e filhas e que, se distribuídos com justiça acabará a fome assassina de tantos milhares que padecem deste mal tristemente crônico.  Anunciar que a paz é possível com a contribuição de todos os povos, de todas as pessoas e com a decisão política dos governantes das nações de acabar tantas guerras fratricidas. Anunciar e comprometer-se com a inclusão em todos os âmbitos da vida, inclusive na Igreja, será o fim da exclusão que fere o coração do Pai, onde todos os filhos têm lugar. Anunciar, enfim, o Evangelho, a Boa Nova do Reino do qual somos chamadas, chamados a ser sinal visível. Anunciar que o Pai nos ama e nos predestinou a viver junto dele no amor.

Celebrando o Dia da Vida Consagrada, peçamos a Deus que nos confirme e fortaleça em nossa missão de denunciar com coragem o pecado e anunciar com alegria a presença do Reino entre nós. Celebremos e agradeçamos a generosidade do Pai de toda misericórdia que nos chamou à vida e nos concedeu o benefício da vocação.